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Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal

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Como se comportaram as expectativas após a substituição de Dilma por Temer? Para tentar responder esta pergunta vou usar as expectativas de inflação de crescimento apresentadas no Boletim Focus (link aqui) que é elaborado e divulgado pelo Banco Central. As expectativas apresentadas no boletim representam a mediana das expectativas apresentadas por várias instituições que participam da pesquisa feita pelo Banco Central. A divulgação é feita a cada semana.

A figura abaixo mostra as expectativas para inflação, medida pelo IPCA. As expectativas para 2016 estão em azul, as expectativas para 2017 estão em laranja, a linha pontilhada marca o dia que o impeachment foi aprovado na Câmara, ou outros períodos relevantes estão marcados na figura. O fato da Câmara receber o impeachment não parece ter tido nenhum efeito relevante nas expectativas de inflação que continuaram crescendo por mais dois meses, de fato o máximo da série ocorre em 19/02/2016 quando a expectativa para inflação de 2016 chega a 7,62%. É difícil dizer se a reversão das expectativas que começa em entre o final de fevereiro e o começo de março de 2016 foi consequência da volta da atividade do Congresso e do fortalecimento da possibilidade de impeachment por conta das trapalhadas políticas do governo, de novas denúncias e do aumento da pressão popular ou se foi consequência da dinâmica da economia. Considerando que os modelos do pessoal de mercado são bem desenhados é de se esperar que os efeitos da dinâmica econômica, particularmente o ajuste do câmbio e dos preços administrados, já estivessem incorporados nas expectativas antes dos eventos que fortaleceram a possibilidade de impeachment. Na dúvida arrisco dizer que a reversão foi causada por uma mistura do aumento de possibilidade de impeachment e da dinâmica da economia.

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No dia 17/04/2016 a Câmara aceita o pedido de impeachment, o que já era esperado desde a véspera. Aqui acontece um fato interessante, as expectativas de inflação para 2016 começam a subir e para 2017 começam a cair. Uma possível explicação é que o pessoal do mercado passou a creditar que a chegada de Temer poderia reduzir a inflação, mas que, talvez por conta da instabilidade política, a redução talvez demorasse e só fosse sentida em 2017. A medida que o tempo passa, Temer assume como interino e apresenta sua equipe econômica as expectativas para 2016 começam a se estabilizar e para 2017 começam um processo de queda mais consistente. Na sequência da posse definitiva de Temer as expetativas de inflação para 2016 começam a cair e as expectativas de inflação para 2017 continuam caindo. Em resumo, no dia em que a Câmara aprovou o impeachment o mercado esperava inflação de 7,08% em 2016 e 5,93% em 2017 (Boletim Focus de 15/04/2016), hoje o mercado espera inflação de 6,84% para 2016 e 4,93% em 2017 (Boletim Focus de 11/11/2016). Mesmo um sujeito chato como eu sou obrigado a reconhecer que após a chegada de Temer as expectativas para inflação tiveram uma redução considerável.

Olhemos agora para o crescimento. A figura abaixo mostra as expectativas para crescimento do PIB em 2016 e 2017, o tempo e as marcas são as mesmas da figura anterior. Repare que ocorre uma clara mudança na tendência de queda das expectativas de crescimento após a Câmara aceitar o impeachment de Dilma, isso vale tanto para 2016 quanto para 2017. Porém há uma dinâmica interessante que merece ser comentada, os últimos boletins mostram que as expectativas de crescimento do PIB pararam de crescer e começaram a cair tanto para 2016 quanto para 2017. Parte deste fenômeno pode ser explicado por fatores alheios à política brasileira, porém, é possível que seja o primeiro sinal que o mercado está perdendo a paciência com o governo Temer.

É certo que o discurso da equipe econômica mudou para muito melhor. É um alívio não ver mais ministros da área econômica apresentando previsões dignas de risos e chamando os outros de piadistas ou terroristas. É uma tranquilidade saber que quem comanda nossa economia não acredita que é possível sair de uma crise gastando cada vez mais. É reconfortante saber que Fazenda e Banco Central estão cientes que não se combate inflação por controle de preços e não se reduz juros à base de canetadas. Tudo isso deve ter tido um papel importante na reversão das expectativas após a substituição de Dilma por Temer, mas, por melhor que seja, a mudança no discurso sozinha não vai resolver os graves problemas da economia brasileira. É preciso sair do simbolismo e partir para ações imediatamente. Por exemplo, adotar um teto de gastos é uma boa medida, mas importante mesmo é saber o que o governo vai fazer para reduzir o ritmo de crescimento dos gastos.

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