Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
“O pai não deve apenas ‘ajudar’ a mãe na criação no filho, mas sim criá-lo também. A obrigação de cuidar da criança é de ambos, ora essa.”
Duvido que você nunca tenha ouvido essa patacoada por aí, que andou fincando raízes no imaginário popular e sendo reproduzida tanto por desatentos quanto por militantes de causas igualitaristas – notadamente o feminismo.
Por que, afinal, foi gerada essa implicância com o verbo “ajudar” neste contexto?
Segundo pude deduzir, o problema é que o emprego do vocábulo deixa a impressão de que o dever de criar os rebentos é apenas da figura materna, sobrando para o pai funções meramente complementares, como se a ele coubesse somente “dar uma forcinha”, por pura generosidade e de forma voluntária, para a suposta detentora oficial do encargo, quando ela estivesse sobressaltada em seus afazeres.
Mal sabem aqueles que franzem o olho para a pobre e inocente palavra que ela pode adquirir uma conotação muito diferente sob circunstâncias específicas, e este é o caso, com certeza: a esmagadora maioria das pessoas que afirmam que o pai deve “ajudar” a mãe a criar o filho estão, na verdade, declarando que reconhecem o papel crucial da mãe no período que se segue ao nascimento, e não liberando o pai de suas obrigações em hipótese alguma.
De fato, o laço entre mãe e filho é estabelecido desde a concepção, visto que a mulher e o bebê, durante a gravidez, estão conectados tanto emocionalmente quando fisiologicamente. A ligação entre pai e filho, todavia, é apenas de ordem emocional até o dia do parto, e somente a partir dali ele poderá começar a conectar-se fisicamente com o filho.
Ou seja, é natural que, a princípio, a mãe sinta-se muito mais preparada para cuidar do filho. O pai, como observa-se comumente, por mais esforçado que seja, mostra-se meio desajeitado de início, contrastando muito com os verdadeiros dons instintivos que a mãe demonstra para agir desde o primeiro choro do neném.
Vale dizer: a atuação do homem, neste momento, limita-se a AJUDAR a mulher não porque esteja desobrigado pela convenções sociais a assumir maiores responsabilidades, mas porque não é ele CAPAZ de fazer nada além de tarefas mais simples mesmo.
Como comparativo, tome-se como exemplo o ofício do pedreiro e do auxiliar de pedreiro: aquele é dotado de habilidades (normalmente adquiridas com a experiência) que lhe permitem executar tarefas mais complexas em uma obra de construção civil, enquanto que esse, normalmente um trabalhador novato, restringe seu trabalho a atividades básicas, dado que ainda não está apto a ir além de apenas auxiliar o pedreiro.
E aí reside o X da questão: o ajudante de pedreiro de hoje é o pedreiro de amanhã. Ele aprende enquanto ajuda. Não há melhor aprendizagem do que a prática.
O pai, no mesmo sentido, ganha confiança e adquire novas competências durante o processo de auxílio à mãe, e, em dando tudo certo, acaba por tornar-se, ainda que aos trancos e barrancos, capaz de participar mais ativamente da criação do filho.
Isso, claro, se os lacradores permitirem, e não ficarem de faniquitos toda vez que uma mulher pedir “ajuda” para o homem na hora de dar a mamadeira, trocar a fralda ou dar banho na criança…
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