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O astro da violenta trilogia Bourne é um pacifista politicamente correto, motivo pelo qual entrou no rol dos famosos dissecados em meu Esquerda Caviar. Matt Damon é um ator engajado em “causas nobres”. Mas para tudo há limite, e ele parece ter encontrado o seu na histeria feminista que enxerga “abuso sexual” em todo lugar agora.

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Talvez seja o fato de ele ser camarada de predadores de verdade, já que há vários entre os democratas poderosos, a começar por Bill Clinton e o produtor de Hollywood Harvey Weinstein. Mas se o que motiva as recentes falas de Damon é a amizade com quem realmente abusou de mulheres, o que ele disse não é motivo para tanto alarde. Não obstante, Damon não foi capaz de evitar a fúria dos “justiceiros sociais”.

A ponto de ter merecido uma defesa na The Spectator, em artigo publicado por Brandan O’Neill. O autor leu as várias entrevistas de Damon em que não chega a criticar o movimento #MeToo, mas simplesmente chamar a atenção para alguns pontos importantes. Entre eles, o fato de que nem tudo aquilo considerado “avanço sexual” é igualmente ruim (uma cantada, por exemplo, deveria ser colocada no mesmo saco de um estupro?); e a lembrança de que nem todos os homens do planeta são bestas terríveis e incuráveis.

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Por dizer o óbvio ululante, mesmo depois de elogiar o movimento e o fato de que mulheres estão podendo sair da toca e, “empoderadas”, contar suas histórias, o astro de Hollywood foi duramente criticado, e uma manchete de jornal ao menos questionou se ele estaria bem de cabeça. Não dá mais para apontar para o grau de paranoia e histeria do mundo sem ser imediatamente alvo da paranoia e da histeria desses “guerreiros da justiça social”.

Num mundo em que tudo virou “abuso sexual”, desde o assobio na rua até um convite para jantar, não há mais espaço para o razoável, para frisar que até mesmo um condenável e abjeto tapinha no bumbum com algum comentário jocoso não deve ser colocado no mesmo patamar de um estupro a uma criança. E é por conta dessas confusões conceituais, que usam e abusam das mesmas palavras para definir coisas bem diferentes, que se diz por aí que uma em cada cinco mulheres já foi “estuprada” nas universidades. Sério?

Chamar, como fazem anarcocapitalistas, a Suíça de um modelo de escravidão, pois há estado e qualquer estado é sinônimo de escravidão (“onde está a minha assinatura?”, perguntaria Spooner de forma um tanto infantil), é pura insensibilidade para com quem realmente foi escravo ou ainda é, nos regimes comunistas remanescentes. Se a mesma palavra serve para definir a vida dos suíços e dos norte-coreanos, então essa palavra não quer dizer mais nada de relevante!

Da mesma forma que se tudo for arte, nada será arte, se tudo for escravidão ou estupro, nada mais os são. Matt Damon apenas lançou luz sobre tais questões, tentando criar ao menos uma gradação de “abusos”, para que não coloquem no mesmo patamar situações completamente distintas. Mas não adiantou: bastou levantar perguntas incômodas para que ele mesmo fosse tratado praticamente como um estuprador terrível.

“Tudo machuca”, disse uma das “ofendidas” justificando a crítica ao ator. Mas tudo machuca da mesma forma? Sim, um peteleco na orelha machuca, assim como um tiro de escopeta no pé. Mas machucam na mesma proporção? Podemos colocá-los como o mesmo fenômeno, chamando ambos de “machucado”? Isso não seria gerar confusão deliberada ou supervalorizar quem levou o peteleco e menosprezar aquele que teve seu pé dilacerado pela escopeta? O’Neill comenta:

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Parece que a moda da vitimização é agora tão forte que a “ferida” de incidentes menores deve ser combinada com a dor de estupro, talvez para fazer esses incidentes menores parecerem pior do que são e assim aumentar a moral de quem apoia o #MeToo em relação a quem está reclamando dele. Eu acho que isso faz um grave desserviço para as pessoas que sofreram estupro. Fica parecendo quase como uma tentativa de se apropriar de seu sofrimento para ganhos pessoais; eu acho que isso é terrível.

Matt Damon, dessa vez, não disse nada demais, nada polêmico, controvertido. Ao contrário: ele disse uma verdade evidente, uma obviedade. Levar um tapinha no bumbum não é o mesmo que sofrer um estupro. Mas dizer a verdade se tornou um negócio arriscado no mundo moderno. A cultura do ódio não liga para essas coisas ultrapassadas como verdade ou liberdade de expressão. Se não está exatamente de acordo com a cartilha do politicamente correto, então já para a fogueira!

Rodrigo Constantino