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Quando o “amor pelo planeta” justifica a tirania: filme da Netflix expõe o perigo do malthusianismo

Por recomendação de uma leitora, assisti neste sábado “Onde está segunda?”, filme de ficção científica da Netflix com Noomi Rapace no papel de sete irmãs gêmeas. O filme é uma distopia que imagina um futuro próximo em que uma lei nos moldes da China, de filho único, é adotada para “salvar o planeta” e a própria humanidade.

Escrito por Max Botkin e Kerry Williamson, o filme relata a vida de gêmeas sétuplas idênticas que lutam para se manter escondidas em um mundo superpovoado onde, sob a política do “filho único”, ter irmãos é ilegal. O tutor delas, personagem de Williem Dafoe, escondeu-as e as treinou, sendo que cada uma tem apenas um dia da semana para sair, todas usando a mesma identidade.

Não vou trazer spoiler, e meu foco principal aqui não é a trama em si do filme. O objetivo é mostrar como as piores tiranias nascem das “melhores intenções”, como o ditado popular do inferno cheio de boas intenções já diz. A preocupação malthusiana com a superpopulação é antiga, e já pariu bizarrices assustadoras, bastante recheadas de misantropia.

Pessoas que parecem “amar” mais o planeta do que seres humanos usam como pretexto a preocupação com nosso futuro para defender medidas claramente autoritárias ou mesmo desumanas. E como lutam por uma causa “nobre”, não descansam em sua cruzada. A “tirania do bem” é mais perigosa justamente por isso.

Em Esquerda Caviar, no capítulo sobre os “melancias”, aqueles que são verdes por fora, mas vermelhos por dentro, apresento alguns casos de misantropia bem escandalosos, que parecem perfeitamente sintonizados com a personagem de Glenn Close no filme, a vilã da história. Eis um trecho:

Um dos ícones desse pessimismo infundado foi a publicação, em 1972, de The Limits to Growth, do Clube de Roma, cuja tese geral seria reiterada depois no Global 2000 Report to the President. A mensagem central desses malthusianos é sempre a mesma: a humanidade está rapidamente se aproximando dos limites do crescimento, exaurindo os recursos naturais e destruindo o planeta.

Nos últimos dois séculos, porém, a população global cresceu mais de sete vezes, saindo de 900 milhões para 7 bilhões de indivíduos. Não obstante, a média da população se alimenta melhor do que no passado. A oferta de alimentos per capita cresceu 24% de 1961 a 2002, e, nos países mais pobres, o crescimento foi ainda maior, de 38%. Na China, que comporta quase um sexto da população mundial, o consumo de calorias per capita aumentou 80% nesse período, e na Índia o aumento chegou a 50%.

Se depender dos avanços tecnológicos, a inanição pode desaparecer do planeta. Mas muitos ambientalistas criam obstáculos ao progresso tecnológico. Os transgênicos, por exemplo. Houve forte reação aos alimentos geneticamente modificados, muita paranoia que servia para mascarar interesses escusos.

Em um raro ato de mea culpa, um dos líderes desse ataque, Mark Lynas, reconheceu publicamente que estava errado sobre o medo ante as sementes geneticamente modificadas. Ele pediu desculpas por toda a campanha contra os transgênicos que ajudara a liderar na década de 1990. A explicação para mudança tão radical? Teria afinal descoberto a ciência, o que o obrigou a abandonar o ecoterrorismo em nome da honestidade intelectual.

Mas a esquerda “verde” adora discursar em prol dos alimentos orgânicos. Discursar, eu disse. Pois, como são produtos mais caros, nem todos da gauche podem se dar ao luxo de consumi-los exclusivamente. Só a elite mais abastada mesmo. Tanto é assim que a loja de orgânicos do príncipe Charles, na Inglaterra, fechou as portas por falta de lucro. Parece que os “naturebas” gostam muito do discurso bonitinho, mas, na hora de coçar a carteira, vão para as alfaces e tomates mais baratos dos grandes produtores que usam agrotóxicos mesmo…

[…]

Em ato raro de coragem, ninguém menos que James Lovelock, o “pai” da teoria de Gaia, fez recentemente um mea culpa público, alertando que o movimento verde fora longe demais ao cair no fundamentalismo e ignorar que os cuidados com o planeta não podem ser dissociados dos interesses e necessidades dos homens.

Quem ainda não estiver convencido de que o movimento verde virou a nova morada dos vermelhos deveria ler Os melancias, do jornalista britânico James Delingpole. O autor fez intensiva pesquisa mostrando os bastidores da causa. O que emerge desse pântano não tem cheiro bom.

É preciso entender que não há teoria conspiratória alguma por trás dessa acusação. Ao contrário: o que existem são confissões abertas, infelizmente pouco conhecidas. Vários ícones do ambientalismo moderno declaram aos quatro ventos seus reais objetivos: criar um “mundo novo”, destruir o antigo, capitalista e individualista, que é movido por lucro.

O próprio Clube de Roma, um representante par excellence do movimento, deixa isso claro em suas atas. O Conselho do Clube, reunido em 1991 (logo depois da queda do muro de Berlim), constatou que seus membros estavam ali por um novo inimigo, que iria uni-los. A ideia que tiveram, então, consiste em que a poluição, a ameaça do aquecimento global, as secas e afins serviriam a esse propósito. O verdadeiro inimigo era a própria humanidade!

Judi Bari, uma ambientalista ferrenha e organizadora das campanhas Earth First! na Califórnia, declarou que somente acabando com o capitalismo haveria uma chance de salvar o planeta ecologicamente. Em seguida, declarou que, sob o socialismo, seria possível ter uma sociedade ecologicamente saudável. Precisa dizer mais?

Sim? Então vejamos Peter Berle, um advogado ambientalista de Nova York, membro do Conselho da Sierra Club: “Nós rejeitamos a ideia da propriedade privada”. A filósofa indiana Vandana Shiva, uma ecofeminista (!?), chegou a culpar o “neoliberalismo” pelo estupro coletivo da universitária de 23 anos que voltava para casa, em dezembro de 2012, após sessão de cinema em Nova Déli.  

Em nome dessa causa, essas pessoas querem impor maiores impostos, controlar nossas vidas e ditar como os recursos devem ser gastos. O clima de crise permanente, de desgraça iminente, atende perfeitamente a esse objetivo, justificando cada vez mais avanços do estado sobre nossas liberdades.

[…]

Além do interesse monetário e por poder, a seita verde atrai muitos seguidores por um profundo desejo de autodestruição também. Como ocorreu com o comunismo antes, e com o islamismo radical depois, parte da esquerda caviar abraça o ecoterrorismo em busca de um ataque fulminante ao ser humano. A misantropia salta aos olhos em vários discursos. Por baixo do manto dos amantes de pandas e baleias impõe-se o desprezo pelo único animal racional: o homem.

Várias declarações deixam isso transparecer. David Ross Brower, fundador de várias entidades ambientalistas, incluindo o Sierra Club, disse que, apesar de a morte de jovens homens nas guerras ser algo indesejado, isso não é mais sério do que a invasão de montanhas e áreas selvagens pela humanidade.

O famoso explorador Jacques Custeau certa vez afirmou que, para estabilizar a população mundial, era preciso eliminar 350 mil pessoas por dia. Reconhecia que era algo horrível de se dizer (que meigo), mas afirmou que era tão ruim quanto não dizer essa “verdade”. Já pensaram se tivesse poder ditadorial em mãos?

O bilionário socialista Ted Turner, dono da CNN, foi na mesma linha quando disse que o tamanho ideal de população seria de 250 a 300 milhões, uma queda de 95% dos níveis atuais. O mesmo Ted disse que era um fanático e que ficava tão revoltado com o desmatamento das florestas que tinha vontade de pegar uma arma e fazer algo a respeito. E falou ainda, de cima de seus bilhões, que estava confortável com a ideia do comunismo, que seria “parte da fábrica da vida nesse planeta”.

O príncipe Philip, Duque de Edimburgo e terceiro presidente da WWF, afirmou que, se voltasse em uma reencarnação, gostaria de ser um vírus assassino para reduzir os níveis da população humana. Como não creio em reencarnação, o que me preocupa mesmo é o vírus da misantropia espalhado pelo ecoterrorismo.

Pois é, esses personagens todos do mundo real estão representados no filme da Netflix por Glenn Close. Ela só queria salvar o planeta e a humanidade, muito irracional e egoísta para perceber a fantástica política que ela adotou. O entorno era lixo puro, pobreza, revolta, irmãos sendo separados à força por policiais, e indo para o “sono eterno”, para o “congelamento”, para que acordassem num futuro mais sustentável.

Tudo mentira, claro. Com spoiler agora: a criançada era pulverizada nas máquinas, mas o que os olhos não veem o coração não sente, não é mesmo? Algo como os alemães durante o nazismo, fazendo vista grossa para a “solução final” de Hitler. Para onde iam todos aqueles judeus? Ninguém queria saber. Era preciso seguir a vida, resolver a “questão” judaica, resgatar o orgulho nacional.

A China, uma ditadura, impôs a política do filho único, com consequências trágicas. Não era a superpopulação seu grande problema, e sim o comunismo. O Ocidente, pelo visto, não precisa de um governo autoritário para seguir por esse caminho. Por hedonismo, egoísmo, miopia e os incentivos inadequados do “welfare state”, a turma praticamente parou de ter filhos, e quando tem, já é único.

Vai ser complicado não só pagar as aposentadorias futuras, mas enfrentar a islamização do continente, já que os muçulmanos costumam ter vários filhos. Vão vencer pela demografia, pela força numérica. Eu, ao menos, estou fazendo minha parte: 15 anos depois da primeira, vem aí mais um pequeno rebento, a quem pretendo transmitir os valores da liberdade para que possa ajudar na resistência a todos os tipos de totalitarismo e fanatismo autoritário.

Rodrigo Constantino

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