Por Percival Puggina
Como sabem meus leitores habituais, é comum que eu escreva sobre o malfadado uso e abuso da Educação por militantes políticos. Em vista disso, formei uma coleção preciosa de depoimentos e testemunhos sobre o uso perverso da sala de aula em prejuízo do que é essencial à atividade docente. São alunos, pais de alunos e professores que me escrevem relatando a própria experiência. Um dia ainda vou publicar esse material.
Os humilhantes indicadores de qualidade do nosso ensino podem ser atribuídos a muitas causas, mas entre elas jamais estará a atuação de professores que se empenhem na aprendizagem. E sempre avultará entre as causas do fracasso a conduta daqueles que estão mais preocupados com o que denominam “construção da cidadania”. Dê uma pesquisada na rede sobre “pedagogia e cidadania” e você entenderá melhor o que estou afirmando.
Se quase todas as universidades federais do país promoveram, nos últimos meses, cursos de extensão sobre “o golpe” de 2016, valendo-se, para isso, do espaço público e de recursos públicos, como haveremos de nos surpreender quando o orçamento da União, a máquina estatal e os poderes de Estado forem desviados para fins análogos?
Bilhões produzidos pelas mãos operosas do povo brasileiro, dedicadas a agregar valor e a merecer o pão com o suor do rosto se convertem em tributo e são jogados fora sem que suscitem interjeições ou pontos de exclamação. Desde cedo, o brasileiro está sendo amestrado a conviver com isso. Dessa rotina, pedagogia e dialética nascem obras que começam e não terminam, asquerosas negociatas, milionárias campanhas eleitorais e doações a governantes igualmente inescrupulosos. Não, não cabem interjeições se essas permissões são ensinadas como atributos da cidadania e se suas principais manifestações, absolvidas dentro das salas de aula, são consagradas pelo mau exemplo de tantos professores militantes.
Dois episódios muito representativos do que descrevi aconteceram nesta última semana aqui no Rio Grande do Sul. Na UFRGS, o Diretório Central de Estudantes (DCE) montou um comitê para desenvolver a campanha eleitoral de Haddad e Manuela, a dupla de estepes do preso de Curitiba. Felizmente, quando tudo estava pronto para entrar em ruidosa e escandalosa operação, a Reitoria acordou e proibiu a iniciativa. Creiam: os alunos não aprenderam sozinhos a fazer esse tipo de coisa. O ato convocatório iniciava assim:
A juventude do Triplex que fará o Brasil feliz de novo vem convidar para o lançamento do Comitê Haddad e Manuela na UFRGS, evento organizado por estudantes da Universidade em apoio à candidatura de Fernando Haddad.
O Golpe segue em curso no nosso país. Nesta nova etapa, impediram Lula de ser candidato, mas nós seguiremos lutando. Agora Haddad é Lula e Lula é Haddad. Vamos firmes no 13!
Triplex! Compre-o quem quiser. Simultaneamente, o TRE-RS, proibiu o Sindicato dos Professores do Estado – CPERS Sindicato – de fazer propaganda contra a candidatura do governador nas dependências das escolas estaduais. O sindicato sempre achou que seus filiados eram donos das salas de aula e, portanto, das escolas. Num momento eleitoral, nada mais oportuno do que montar uma caravana custeada pelos colegas e sair por aí, em missão política a ser cumprida dentro das escolas.
Em outras palavras, o sindicato bebeu água na mesmíssima vertente de todos os abusos: um suposto direito democrático do uso privado dos espaços e meios públicos, justificado pela inefável nobreza da causa… E quem não concorda é “fascista”.
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