Deu no GLOBO:
Queda das receitas este ano e aumento contínuo de despesas, algumas delas acima do ritmo da economia ou mesmo ao sabor do calendário eleitoral. Para completar, um quadro de endividamento que avança e faz lembrar o início dos anos 2000. A crise financeira que se instalou no Rio e ameaça paralisar diversos serviços, a exemplo dos hospitais e UPAs, pode ser traduzida num rombo estimado hoje em R$ 13 bilhões nas contas do governo. Esse é o montante que falta para o Executivo fechar o ano de 2015, segundo a última previsão.
Parte do rombo tem a ver com as receitas dos royalties do petróleo. Com a queda do preço do barril, o estado passou a receber menos recursos que o previsto quando elaborou o orçamento. Mas o desequilíbrio nas contas tem também relação com as despesas que dependem diretamente das decisões do governo. Nesse quesito, o endividamento do estado tem pesado.
Entre 2007 e 2011, o governo Sérgio Cabral conseguiu reduzir a relação dívida/receita, mantendo o estado no patamar exigido pelo Tesouro Nacional (dívida de no máximo duas vezes a receita líquida). A partir de 2011, essa relação passou a subir, até atingir, no ano passado 1,78, maior patamar dos governos Cabral e Pezão. Não é pouca coisa. A estimativa é de uma dívida de R$ 93 bilhões. Até agosto, segundo o Tesouro Nacional, a relação dívida/receita já era de 1,86, bem próximo do penúltimo ano do governo Rosinha, em 2006. A tomada de empréstimos permitiu que o governo investisse em obras — algumas delas olímpicas —, mas, hoje, com receitas em queda e dólar em alta (parte da dívida é em moeda estrangeira), os pagamentos da dívida têm pesado nas contas. Para este ano, a estimativa das despesas com a dívida é de R$ 7 bilhões.
Conseguiram: quebraram o Rio! Claro que o estado não está isolado do país, é um retrato do que a classe política, sob a liderança do PT, fez com o Brasil todo. Mas o caso do Rio é ainda mais grave, por conta do petróleo, da mentalidade vigente dos cariocas em geral, e do encantamento com a Copa e as Olimpíadas. A megalomania se aliou ao desejo de prosperar sem esforço, usando atalhos, e isso só poderia acabar mal.
Não foi por falta de alertas. Enquanto milhões de pessoas celebravam os jogos que seriam realizados na “cidade maravilhosa”, os “chatos” dos liberais já apontavam para o custo elevado dessa brincadeira, para a corrupção típica das obras estatais, e lembravam do caso grego àqueles que só falavam de Barcelona.
Enquanto muitos sonhavam com as maravilhas que o pré-sal traria, hipotecando nosso futuro com royalties de petróleo que nem fora extraído ainda, os “chatos” dos liberais alertavam que esse sonho poderia facilmente se transformar em pesadelo. Num artigo para o Valor, resgatei Octavio Paz, que viveu esse mesmo inferno em seu país, para lembrar da “maldição do ouro negro”:
Octavio Paz, o Prêmio Nobel de literatura e autor de O Ogro Filantrópico, fez no passado um alerta importante sobre este risco. O México viveu o drama da “maldição do ouro negro”, e o resultado foi lamentável. O Partido Revolucionário Institucional (PRI), membro da Internacional Socialista, teve o poder hegemônico sobre o país entre 1929 até 2000. A existência de vastas reservas de petróleo contribuiu bastante para essa hegemonia. A estatal Pemex controlou o setor por décadas, servindo como um braço do partido na economia. Por esta razão, as palavras de Paz são mais atuais que nunca. Basta trocar México por Brasil, e o recado está bem claro:
“Por um lado, o Estado mexicano é um caso, uma variedade de um fenômeno universal e ameaçador: o câncer do estatismo; por outro, será o administrador da nossa iminente e inesperada riqueza petrolífera: estará preparado para isso? Seus antecedentes são negativos: o Estado mexicano padece, como enfermidades crônicas, da rapacidade e da venalidade dos funcionários. […] O mais perigoso, porém, não é a corrupção, e sim as tentações faraônicas da alta burocracia, contagiada pela mania planificadora do nosso século. […] Como poderemos nós, os mexicanos, supervisionar e vigiar um Estado cada vez mais forte e rico? Como evitaremos a proliferação dos projetos gigantescos e ruinosos, filhos da megalomania de tecnocratas bêbados de cifras e de estatísticas?”
Precisa dizer mais alguma coisa? Quebraram o Rio! Quebraram o Brasil! E o abacaxi precisará de muito tempo para ser digerido. A conta será paga por essa e pela próxima geração. Usurparam o futuro dos cariocas, roubaram a esperança dos brasileiros. A convulsão social será consequência inevitável disso. Quem viver, verá…
Rodrigo Constantino
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