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Quem ainda consegue defender Maduro? Nem Jean Wyllys!

Por Lucas Berlanza, publicado no Instituto Liberal

Em mais uma demonstração de suas inclinações profundamente democráticas (sic), o tirano venezuelano, Nicolás Maduro, criatura do chavismo, disse que “o pior que pode acontecer a vocês (a oposição) é ganhar as eleições parlamentares de dezembro, porque aí começaria a batalha”. Disse ainda que seu país só pode ser governado por “revolucionários” e sinalizou que, mesmo se perder as eleições, governará “com o povo” e com uma “união cívico-militar”. O “povo”, para Maduro, seria apenas a parcela da população que ainda se deixa iludir por sua estupidez populista; o resto terá que se curvar à força das armas. Os absurdos daquela “Revolução Bolivariana” já são tantos e tão evidentes que começam a ser alvo de comentários de fontes insuspeitas e inusitadas.

É o caso do parlamentar do PSOL-RJ, Jean Wyllys. Diante de uma ameaça tão flagrante ao processo democrático, o deputado, que sempre contou e continua contando com a minha mais decidida e firme antipatia, resolveu se manifestar contra a postura do tiranete. Em publicação de sua conta pessoal no Facebook, Jean diz não ser a primeira vez em que “o governo de Maduro expressa seu desprezo pela democracia e pelas liberdades políticas”, causando-lhe estranheza o silêncio da “esquerda democrática do continente” a respeito. Em um surto de bom senso louvável, Wyllys afirma que o PSOL não deveria se calar diante da repressão violenta de estudantes e das milícias armadas, como, segundo ele, não se cala diante dos excessos de autoritarismo cometidos no Brasil. Jean acrescenta ainda que a esquerda não deveria dividir o mundo em bons e maus, num maniqueísmo bobo, e achar que Maduro está do “lado dos bons” apenas pela sua retórica “anti-imperialista”.

Ele tem razão! Inclusive, a “direita” pode ter, em alguns de seus segmentos minoritários, a mesma lição a aprender; não precisamos aplaudir autoritarismos ou soluções ditatoriais apenas por, aparentemente, sustentarem algumas das nossas agendas. Não precisamos e nada ganhamos com isso, ao contrário. Se a esquerda aprender amplamente a mesma lição, o ambiente de debate democrático se tornará mais civilizado. O deputado do PSOL carioca merece aqui meu reconhecimento pela correção de suas palavras, seja qual for a razão que o tenha levado a externá-las – sobretudo porque se expôs à pressão de alguns correligionários e seguidores. Os comentários em sua publicação provam isso. Muitos leitores dos posts de Wyllys viram nisso motivo suficiente para acusá-lo de conivência com os “malditos ianques” ou alguma bizarrice do gênero, em mais uma exibição do espírito de manada que move essas pessoas.

No entanto, mesmo diante de uma atitude positiva a ser reconhecida, nem tudo são flores; Jean Wyllys tem um limite em sua dose súbita de lucidez. Ele não quer que sejam negados “os avanços sociais conquistados pelo povo mais pobre desse país (a Venezuela) durante os governos de Chávez” e denuncia o absurdo de que a “situação dos pobres volta a piorar”, enquanto “a ‘boliburguesia’ (a nova burguesa amiga do governo bolivariano) não para de enriquecer”.

Além de não abdicar por completo da miragem perigosa estabelecida pelas propagandas oficiais dos esquerdopatas bolivarianos, Jean ainda aponta como grande problema a “burguesia” venezuelana que parasita as benesses particulares do Estado “revolucionário”. Será que Jean é incapaz de perceber o mesmo fenômeno ocorrendo no Brasil, cujo governo criminoso alimenta os poderosos empresários “amigos do Rei” (ou da Rainha), imbricados com o Estado inchado e populista? Governo esse que, a despeito de seus notórios crimes, não merece, na visão de Wyllys, o impeachment – que seria, a seu ver, um “golpe”? Não percebe Wyllys, ainda, que a esquerda brasileira é cúmplice e apoia, retoricamente e financeiramente, o regime de Maduro? Dizer que não compreende a imaturidade das esquerdas é pouco. Apesar de seu valor insignificante como figura humana, apesar de suas inadmissíveis incongruências – vestir-se pomposamente de Che Guevara e defender o guerrilheiro assassino, minimizar suas imoralidades, enquanto se diz um fervoroso defensor dos gays, por exemplo -, Jean tem alguma influência hoje no universo medíocre da esquerda “prafrentex” brasileira. Por que não usa isso para apontar o dedo, com virulência, aos seus “companheiros” que tratam com suavidade e generosidade o ditador do país vizinho? Por que não usa a mesma virulência com que constrange o MBL, o Revoltados Online e outros movimentos populares anti-governo Dilma a se submeterem a suas perguntas e acusações cretinas na CPI de crimes cibernéticos para com os seus colegas de espectro político, incitando-os a erguer a voz contra aquela tirania?

Não, é esperar demais dele, reconheço. É esperar demais de alguém, aliás, que, no mesmo texto, ainda diz que é “exagero” da “direita brasileira” afirmar que “não há liberdade de imprensa na Venezuela ou que se trata de uma ditadura”, pelo fato de lá haver “eleições periódicas” e funcionarem por lá “jornais e canais de televisão oposicionistas”. Estes últimos, como ele mesmo falou, sofrem pressões graves e constantes do governo, que ameaça cancelar licenças e impõe todo tipo de sanções; quanto ao fato de haver eleições periódicas, no regime militar brasileiro, embora indiretas, também havia. Estará Wyllys disposto a reconhecer que o regime militar brasileiro foi democrático? Na Coreia do Norte também há, com candidatos eleitos com 100 % dos votos. O que o ritual das eleições prova? É muito amadorismo acreditar que ele comprove um ambiente de vitalidade democrática.

Se de fato não podemos cobrar tanto de Jean Wyllys, o mesmo não se pode dizer da nossa “oposição”, daqueles que dizem representar, na política partidária, os votos da imensa parcela da população que está contra o lulopetismo e contra a esquerda radical brasileira. Até agora, que medidas realmente concretas foram tomadas pelos oposicionistas para pressionar o Estado brasileiro a adotar as atitudes diplomáticas cabíveis contra o governo do país vizinho? Do nosso governo, desistimos de falar; seria ingenuidade esperar alguma coisa do PT. Ele precisa ser provocado! Onde estão Aloysio Nunes, José Serra, Aécio Neves? Onde estão todos? Enquanto isso, Leopoldo López está preso; a cada minuto de apatia e silêncio da “liderança regional” brasileira, um venezuelano pranteia a dor de sua terra.

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