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Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal

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A Venezuela é oficialmente uma ditadura, e eu tinha cantado essa pedra com antecedência, em fevereiro para ser mais exato. Com certeza seus sinais já eram perceptíveis desde a eleição de Hugo Chavez; depois com o advento de Nicolás Maduro e seus discursos inflamados ao estilo bolchevique de outrora — e, é claro, o já esperado o apoio do bolivarianismo latino americano.

Quem estuda história sabe que nenhuma ditadura é tão inesperada. Ainda que ninguém queira uma tirania instaurada no governo de seu país, são bem visíveis os sinais de fumaça que preconizam o incêndio. O principal desses sinais é o engrandecimento estatal; todas as ditaduras do século XX, que amontoaram corpos e criaram campos de concentração, agiram através do Estado preponderante e onipotente. Como bem explica Rothbard, o Estado aflorado — status quo — é sempre sinal de ausência de liberdades e cerceamento de direitos e deveres individuais; se o Estado é grande, as liberdades individuais — por reflexo — são diminutas.

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A Venezuela, há tempos, começou um processo de estatização dos meios de produção; a dependência unilateral da petrolífera PDSVA — na era Chavez —, até as atitudes tacanhas e verdadeiramente tolas de Nicolás Maduro ao tentar controlar a inflação, levou a Venezuela a uma queda vertiginosa no campo econômico, e, por consequência, no campo social e político. A consequência imediata desses atos de inaptidão administrativa — que veio acompanhada da já esperada utilização dos meios militares e da repressão da oposição —, foi a criação de um campo propício para a instauração de uma ditadura socialista-bolivariana.

A ditadura, numa república, se sumariza basicamente em duas atitudes interligadas: a (1) primeira atitude é a repressão do contraditório, e por consequência, a ausência de uma oposição política organizada e livre no campo social; a democracia sobrevive de oposições. A (2) segunda atitude é o cerceamento da opinião pública livre, seja nas manifestações públicas de rua, nas expressões políticas através dos poderes constitucionais, ou através das mídias em suas variadas vertentes. A (1) primeira atitude desrespeita aos três poderes que, apesar de trabalharem juntos, atuam de maneira substancialmente diferente na intenção de equilibrarem as atuações políticas num tripé de sustentação democrática e legal. Nicolás Maduro simplesmente ignora a tripartição dos poderes constitucionais, expede decretos “a torto e a direito”, já fechou o congresso numa atitude totalmente atabalhoada, além de controlar o Supremo Tribunal Federal; os deputados e opositores vivem cercados pelas as ameaças constantes, alguns já foram presos e até torturados — segundo os meios de comunicação. A (2) segunda atitude acima exposta desrespeita principalmente à camada popular e midiática. A mídia há alguns meses já, não consegue trabalhar sem ser expulsa ou tratada com hostilidade pelos poderes policiais na Venezuela; as manifestações geram mortos e presos políticos num ritmo tão assustador que até a ONU, em sua lentidão magistral, já denunciou tais fatos.

Não há como negar que a Venezuela se tornou uma ditadura. Entretanto, o que venho aqui mostrar é que, tão feio quanto tacar pedra na janela do vizinho é aplaudir a atitude do vândalo. Não há diferença muito substancial entre quem aperta o gatilho e aquele que influenciou o que atirou. O PT, PCdoB e PDT declararam apoio à Maduro e sua tirania no 23º encontro do Foro de São Paulo — aquele encontro comunista que há pouco tempo a mídia nacional dava como inexistente; uma balela conspiratória da mentalidade conservadora. Mas vocês não estão sentindo falta de nenhum partido nessa lista de vergonhas? Sim, meus caros, o PSOL também está nela. O PSOL apoiou publicamente a constituinte lunática de Maduro, constituinte sem legitimidade e aval popular, feito unicamente na base do decreto do ditador e do apoio de sua militância.

A complacência da esquerda diante da ditadura venezuelana, regada pelos mesmos discursos da Guerra Fria: “nós contra eles”, “o povo contra o imperialismo yankee”; essa atitude pateta só mostra o quanto a esquerda na América Latina é retrógrada e antidemocrática. A esquerda nunca conseguiu esconder durante muito tempo a sua face ditatorial. “Não podemos considerar inseparáveis a violência e os valores de esquerda: o contrário estaria mais perto da verdade” (ARON, 2016, p. 51). De Marx até o exato momento, a ditadura sempre fui um viés possível, ou, quiçá, preferível quando o caminho democrático não encontra apoio popular, recursos financeiros e sustentação lógica para o socialismo.

O PT, ao dar seu apoio à ditadura venezuelana, evidencia que seu plano para o Brasil não seguiria no patamar democrático durante muito tempo e que só não colocou o bolivarianismo para funcionar no Brasil porque as instituições republicanas, aqui, ainda possuíam sustentação democrática e impulsos morais conservadores contrários aos planos socialistas.

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Bom, para aqueles que não defendem e nem propagam ideologias como doutrinas religiosas, para aqueles que não se deixam cegar pelo evangelismo sindical, era mais do que evidente que a esquerda brasileira estava — e está — conchavada às ditaduras latino-americanas; o grande problema é que o apoio tolo desses partidos apenas deixaram os holofotes ainda mais focados naquilo que outrora eles tentavam esconder sob sete chaves, isto é: a esquerda bolivariana é antidemocrática e usa da ditadura como modus operandi de sua ideologia. O que outrora os opositores conservadores e liberais faziam ao mostrar as intenções ditatoriais da esquerda em suas colunas jornalísticas; agora a própria esquerda faz ao revelar sua face ditatorial de governança política, sem serem necessárias demais retóricas conservadoras ou liberais para tal intento. Agora podem ser comprovadas, pelas próprias palavras desses partidos, as suas intenções e convicções políticas; sem mais cortinas de fumaça ou palavrórios vadios, a esquerda mostra no que acredita e como age para conseguir.

Não ser de esquerda, hoje, não é somente uma tendência ou qualquer opção meramente grupal de novas retóricas inflamadas; se trata de sensatez, de sanidade intelectual e social. Todos que prezam pela liberdade, individualidade, propriedade e a vida, não querem nenhuma máquina estatal dizendo o que a população vai comer, a quantidade e quando poderá comer. Dirão amanhã que Maduro deturpou Marx — não é Luciana Genro? —, apesar de hoje eles apoiarem a deturpação; futuramente, após Maduro derramar seus rios de sangue — Deus queira que eu esteja errado —, dirão que esse não era o verdadeiro socialismo; dirão também que Maduro não era socialista e nem bolivariano, que ele era, na verdade, um fascista, e, quiçá, um yankeecomprado pela direita americana para degradar a imagem do socialismo bolivariano. Enfim, no futuro inventarão mil novas desculpas para justificar o injustificável. Irão continuar acreditando na ilusão do socialismo democrático; na deturpação que fizeram na sagrada teoria de Marx; na conspiração americana; e que não havia provas contra Lula. Continuarão dizendo que o Impeachment de Dilma foi um golpe, e que o golpe constituinte de maduro foi democrático.

Por fim, Maduro mata o seu povo e a democracia de seu país, se perpetua no poder no melhor estilo bolchevique, usa a força militar para destruir a oposição. Tudo isso é visto com a mais tenra normalidade pelos partidos socialistas brasileiros, partidos esses que, no mais tardar da noite, chamarão alguém de fascista por apoiar a reforma da previdência ou por não endossar a causa do aborto.

Quem aplaude ditaduras e ditadores não tem honra para falar em democracia.

Referência:

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ARON, Raymond. O ópio dos intelectuais, Três estrelas: São Paulo, 2016.

Sobre o autor: Pedro Henrique Alves é Filósofo formado pela Faculdade Dehoniana; escritor na coluna de política do Instituto Liberal de Minas Gerais; editor e escritor do Blog Do Contra; além de estudioso de filosofia política com ênfase em políticas totalitárias.