O governo Temer ainda corre atrás dos votos de que necessita para aprovar a reforma da Previdência este ano. A alfinetada que Henrique Meirelles deu no PSDB soou oportunista, e Temer teve que tentar colocar panos quentes.
Meirelles está de olho em 2018, nos dividendos eleitorais da retomada econômica, e pretende se colocar como o candidato da situação. Não quer permitir aos tucanos o bônus sem o ônus de apoiar oficialmente o governo. Entende-se, mas é ato precipitado e arriscado atacar aliados indispensáveis para a aprovação da reforma.
Os tucanos, por seu lado, devem votar com o governo por coerência, como disse Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio:
A situação está piorando porque a população está envelhecendo mais rapidamente e porque há um desequilíbrio das contas públicas. O PSDB tem que levar isso em consideração. A reforma previdenciária fazia parte do Plano Real, que, até por razões políticas, Fernando Henrique não teve condições de complementar. Por uma questão de coerência com a coisa mais importante que o partido fez do ponto de vista econômico, que foi o Plano Real, o PSDB deveria apoiar as reformas.
[…]
Quanto mais rápido aprovarmos a reforma da Previdência, menos risco temos de ter uma crise fiscal mais grave no próximo governo. Deixar para o próximo governo é falta de bom senso e falta de visão em relação ao País.
Se os tucanos votarem contra, portanto, estará escancarado seu oportunismo e isso terá um elevado custo nas urnas. Os eleitores mais atentos sabem da importância dessa reforma para dar continuidade à recuperação da economia.
Que, aliás, já começou e deve ser celebrada sim, como afirmou Alexandre Schwartsman em sua coluna na Folha hoje. O ex-diretor do Banco Central rebate um comentário feito por Marcelo Rubens Paiva, que compara festejar o crescimento de 0,1% no terceiro trimestre a “comemorar um jogo que termina 0x0, mas teve uma bola na trave”. Schwartsman explica:
Esperaria de um escritor algo mais original que outra metáfora futebolística, mas acredito que há bons motivos para, sim, celebrar o número divulgado na semana passada pelo IBGE.
A começar porque não veio sozinho. O IBGE revisou as estimativas do desempenho da economia no primeiro trimestre (de 1,0% para 1,3%) e no segundo (de 0,3% para 0,8%), revelando uma economia bem mais dinâmica do que se imaginava. Ao longo dos três trimestres, a economia cresceu a uma velocidade média próxima a 3% ao ano.
[…]
Com base nesses resultados, se não fizermos nenhum grande bobagem em 2018, poderemos ver a economia crescendo ao redor de 3%, ainda não o desempenho dos sonhos, mas bastante decente à luz da crise pela qual o país passou com o fracasso da Nova Matriz.
Se é para manter a desgastada metáfora, o time está invicto há três jogos, depois de ter apanhado por oito em seguida e ido parar na zona de rebaixamento.
Mais interessante, voltou a ganhar apesar de os técnicos demitidos (por incompetência ) jurarem que o esquema atual jamais funcionaria. Só isso já é motivo de sobra para muita comemoração.
Concordo com Schwartsman: há motivo, sim, para comemoração. O Brasil poderia ser hoje uma Venezuela se não tivesse ocorrido o impeachment de Dilma. Que as mudanças tenham vindo de seu antigo aliado, de seu vice-presidente e do PMDB, é algo que incomoda quem quer mais purismo em política, mas não chega a ser surpresa para os realistas. O PMDB tem senso de sobrevivência, e sabe que a corda esticou demais, que era preciso colocar a economia de volta nos eixos.
O que tem sido feito, ainda que aquém da velocidade de que precisamos. Entendo, por inúmeros motivos, quem mesmo assim pretende punir governistas nas urnas, por razões éticas, por falta de convicção na doutrina liberal, por conivência na agenda “progressista” em outras áreas para além da economia etc. Mas as alternativas precisam demonstrar compromisso com o futuro econômico do país, ao menos mais do que o próprio governo.
É por isso que o PSDB, governista até ontem e hoje “oposição”, tem que não só apoiar como lutar pela aprovação da reforma previdenciária. E é por isso também que Jair Bolsonaro precisa deixar claro qual a sua postura quanto a essa reforma. O editor Carlos Andreazza escreveu um comentário cobrando essa definição por parte do pré-candidato:
BOLSONARO: O POVO QUER SABER
Há uma questão fundamental, urgente, que precisa ser apresentada – agora, já – a todos os candidatos a presidente: é a favor ou contra a reforma da previdência?
Sabemos que Lula e os esquerdistas são contra. É bandeira histórica de petistas e linhas-auxiliares a defesa dos privilégios do funcionalismo público.
Mas e os candidatos de centro e de direita? Geraldo Alckmin, por exemplo, já se declarou a favor da proposta do governo. João Amoedo, idem: é a favor e quer uma mudança ainda mais profunda, estrutural.
E Jair Bolsonaro? É contra ou a favor? E, sendo contra, por quê? Será pelos mesmos motivos de Lula? Seja como for, é para ontem que a sociedade precisa cobrar alguma posição do candidato relativa a temas do mundo real – esse em que as pessoas vivem e no qual ele aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
A posição de Bolsonaro sobre a reforma previdenciária, aliás, é especialmente significativa. Afinal, é um deputado federal – e, ao contrário de seus possíveis futuros adversários, o único que terá de votar a matéria.
E aí?
Teremos o Bolsonaro real, o da prática, o conhecido, provado e comprovado em seus votos sempre contrários a qualquer mudança no sistema previdenciário que pudesse afetar os interesses corporativos que representa? Ou teremos o Bolsonaro da teoria, o recente, esse do discurso pró-mercado, o que se aproximou de economistas liberais e que simula um papo de redução do tamanho do estado etc.?
E aí? É tempo de responsabilidade. O eleitor liberal seduzido por Bolsonaro quer saber: o deputado vai votar como? Contra? E, nesse caso, usando o mesmo argumento do filho, também deputado federal, que chegou a negar – juro – a existência de déficit na previdência?
Essa resposta – se é contra ou a favor – é decisiva para que o liberal brasileiro saiba se Jair Bolsonaro mudou mesmo de ideia e enterrou a tara pelo Estado, ou se está apenas, como aposto, usando o lustro dos economistas como escada para se projetar?
E aí, deputado: como vota? Vai citar o Ulstra ou o Mises na hora do voto?
O povo quer saber.
O povo quer saber, e tem o direito de saber. Espero que Bolsonaro se posicione o quanto antes, mas que antes de fazê-lo consulte o economista Adolfo Sachsida, ou Bernardo Santoro, ou ainda Paulo Guedes, seu proclamado ministro da Fazenda. Qualquer um dos três, tenho certeza, vai explicar a urgência dessa reforma, ainda que longe do ideal, ainda que cortando pouco na carne do próprio setor público.
Não importa. É o que temos para o jantar. É a única opção concreta na mesa. Rejeitar essa reforma agora é votar contra o Brasil, e os eleitores não devem perdoar quem assim o fizer.
Rodrigo Constantino
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