Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
Dias desses, estive debatendo com um neo-luddita, que reclamava do desemprego gerado pelo avanço tecnológico. Infelizmente, não são poucos aqueles que, pela incapacidade de enxergar além das aparências ou das conseqüências de curto prazo, ainda pensam como os ludditas do início do século XIX, que quebravam teares na esperança de assegurar maior número de empregos.
Quem tem menos de 35 anos talvez não saiba o que é taquigrafia ou estenografia. No passado, essas técnicas de escrita abreviada eram muito bem pagas por empresas interessadas, entre outras coisas, na transcrição do teor de reuniões. As secretárias mais bem remuneradas eram aquelas que, dentre outras qualidades, dominavam uma daquelas técnicas, que permitiam à pessoa escrever tão rápido quanto se fala. Com o avanço das tecnologias de gravação, esses profissionais foram sendo substituídos pelos aparelhos eletrônicos. Não sei se ainda existem tais especialistas no mercado, mas, se existirem, certamente não são muitos.
Na linguagem schumpeteriana da destruição criadora, os gravadores e seus produtores “destruíram” os empregos dos estenógrafos e taquígrafos, assim como a luz elétrica destruiu os empregos dos acendedores de lampiões e as novas tecnologias de comunicação acabaram com os operadores de telégrafo. No entanto, a maioria de nós diria que o mundo está melhor do que antes.
E quanto àqueles que perderam seus empregos, também foram beneficiados? Provavelmente não. O mais provável é que eles tenham mudado de emprego, para algo com uma remuneração menor, depois de um tempo desempregados. Em outras palavras, perderam no geral, embora tenham ganhado como consumidores, em vista da maior disponibilidade de produtos e serviços. O fato é que o desenvolvimento econômico crescente não necessariamente beneficia a todos de forma igual.
E quanto ao número de empregos perdidos em comparação com o número de novos empregos gerados na produção das novas tecnologias? Isso importa? Sim, mas nem tanto, porque como em qualquer área específica, quanto menos empregos alocados, melhor!
Como assim? A mão de obra é um insumo escasso como qualquer outro, e eficiência significa produzir sempre mais com menos. Ter menos pessoas empregadas na produção de gravadores de som significa que os consumidores não terão apenas gravadores à sua disposição, mas muitas outras coisas. É assim que os avanços tecnológicos aumentam o nível geral de vida.
Há apenas cento e poucos anos, praticamente 70% da mão de obra estava no campo. Com o avanço da tecnologia (tratores, fertilizantes, colheitadeiras, sementes geneticamente modificada, etc.), esse número é atualmente de apenas 2% nos países desenvolvidos. Agora imagine como estaríamos hoje se a maioria das pessoas continuasse trabalhando apenas para produzir alimentos.
O progresso econômico e a destruição de empregos andam de mãos dadas. Empregos não são destruídos somente quando uma nova máquina ou programa de computador são desenvolvidos, mas também quando o trabalho fica obsoleto por conta de processos de produção mais eficientes e/ou baratos. A verdade é que nenhum país pode dar-se ao luxo de tratar empregos como uma riqueza a ser contada, armazenada e protegidas da obsolescência.
Infelizmente, as ditas políticas públicas de criação ou proteção de empregos ainda são “vendidas” à população pelos demagogos, pois atraem os inocentes e ignorantes, além de serem sedutoramente enganadoras e contraproducentes. É também um dos objetivos mais fáceis de alcançar. Para criar ou proteger empregos, tudo que os políticos têm de fazer é obstruir a destruição criadora, seja através da redução da competitividade (via tarifas alfandegárias, concessão de subsídios ou crédito a determinadas empresas), seja obstruindo o espírito empreendedor (via regulamentos excessivos, altos impostos sobre investimentos e lucros, barreiras de entrada ou reservas de mercado).
O incentivo à competitividade exige coragem e disposição para substituir o que é antigo pelo que é novo. Nesse processo, a destruição de empregos é inevitável. Eis aí o paradoxo do progresso. Uma sociedade não pode colher os benefícios da destruição criadora sem aceitar que alguns indivíduos possam ficar piores, não apenas no curto prazo, mas talvez para sempre. Ao mesmo tempo, as tentativas de suavizar os aspectos mais severos da destruição criativa, preservando empregos ou protegendo indústrias, levarão à estagnação e ao declínio, promovendo um curto-circuito na marcha do progresso. O processo de inovação não avança sem varrer a ordem preexistente.
Desde 1700, o PIB per capita em lugares como os EUA aumentou, em termos reais, mais de 40 vezes. Praticamente todo mundo saiu ganhando com esse incremento. Agora, eu pergunto: quantos empregos foram perdidos nesse período? Quantas especialidades de trabalho existentes em 1700 ainda existem hoje? Muito poucas.
Em resumo, para maximizar eficiência, a vitalidade, a competitividade, a inovação e o dinamismo, além de aumentar o nosso padrão de vida ao nível mais alto possível, devemos liberar as forças da destruição criadora em todas as suas formas, inclusive, senão principalmente, a destruição de empregos. Eu sei que parece cruel dizer isso, mas o progresso não é indolor.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS