Que boa parte da esquerda demonstre agir sempre de forma irresponsável já é um fato bastante evidente. Mas espanta ver que não há limites para essa irresponsabilidade. Alguns esquerdistas têm colocado suas emoções mais tribais acima de qualquer preocupação para com o país, e por revanchismo ou luta desesperada por manter privilégios insustentáveis, têm ameaçado o Brasil todo com seus gritos de “Fora, Temer”. Quem assim pensa deveria se perguntar qual a alternativa: a volta de Dilma? O editorial do Estadão comentou sobre isso hoje:
A presidente Dilma Rousseff parece acreditar que, ao se manifestar sobre seu governo e seu afastamento, angaria simpatia e, assim, afasta a hipótese altamente provável de seu impeachment. Sempre que a petista abre a boca, porém, fica claro para o País que, se seu governo já foi desastroso, seu eventual retorno à Presidência seria um cataclismo, pois a administração seria devolvida a quem se divorciou completamente da realidade. No mundo em que vive, Dilma se confunde com Poliana: não cometeu nenhum erro, não é responsável pela pior crise econômica da história brasileira e só foi afastada em razão de um complô neoliberal operado pelo deputado Eduardo Cunha, e não porque a maioria absoluta dos brasileiros exige seu impeachment.
“Temos que defender o nosso legado”, disse à Folha de S.Paulo a presidente responsável por recessão econômica, desemprego crescente, inflação acima da meta e contração da atividade, do consumo e do investimento, além de um rombo obsceno nas contas públicas. Foi essa herança, maldita em todos os sentidos, que criou o consenso político em torno do qual o Congresso faz avançar o impeachment. Assim, quando fala em seu “legado”, não é à dura realidade que Dilma está se referindo, mas sim à farsa segundo a qual seu governo beneficiou os mais pobres – justamente aqueles que mais sofrem com a crise que ela criou.
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“A crise econômica é inevitável”, ensinou Dilma na entrevista. “O que não é inevitável é a combinação danosa entre crise econômica e crise política. O que aconteceu comigo? Houve uma combinação da crise econômica com uma ação política deletéria.” Segundo a petista, o Congresso, dominado por forças malignas que tinham a intenção de criar um “ambiente de impasse propício ao impeachment”, sabotou todas as “reformas” que ela queria aprovar. Ou seja, Dilma teima em não reconhecer que o clima hostil que ela enfrentou no Congresso foi resultado de sua incrível incompetência administrativa, potencializada por descomunal inabilidade política e avassaladora arrogância. Prefere denunciar a ação de “inimigos do povo” contra seu governo.
Finalmente, convidada a dizer quais erros acha que cometeu, Dilma respondeu: “Ah, sei lá”.
O grau de desconexão com a realidade chegou a patamares assustadores em Dilma. Ela parece mesmo ter se convencido de suas narrativas fajutas, e vive no mundo da Lua, num universo paralelo que construiu para não enfrentar a dura realidade. Até Lula, segundo Sarney, considerou a escolha de Dilma como seu pior erro. Dilma é desequilibrada, incompetente, autoritária, e sem dúvida contribuiu bastante para o debacle do lulopetismo, pois acelerou todos os problemas que o modelo pariu.
Aqueles que gritam “Fora, Temer”, portanto, estão querendo ver o circo pegar fogo, acham que o Brasil aguentaria um retorno de Dilma. O psicanalista que pensa assim não entende que seu consultório ficaria às moscas; o artista que diz isso não compreende que não haveria público para seus shows e nem verbas polpudas pela Lei Rounaet; o professor “intelectual” finge não saber que o caos seria tanto que nem a estabilidade de emprego dele estaria garantida.
Vejam quem realmente se beneficia do estado na Venezuela: cada vez menos gente, pois a coisa implodiu. As mamatas duram até o dinheiro dos outros acabar. Na Venezuela de Maduro, ele acabou. Mesmo os “amigos do rei” estão em situação delicada, com falta de energia, de alimentos, do básico na saúde. Quando o socialismo extrapola de determinado ponto, é tarde demais: o cenário de terra arrasada não favorece nem os socialistas pendurados nas tetas estatais.
Eliane Cantanhêde, em sua coluna de hoje no Estadão, também fala do assunto, destacando o óbvio, que é sistematicamente ignorado em nosso país. Restam poucas alternativas concretas, e quem pede a cabeça de Temer parece preferir o caos anárquico ou um mergulho no escuro institucional com “novas eleições”. Diz ela:
Perguntar não ofende: qual o objetivo de quem é contra o impeachment de Dilma Rousseff e está queimando pneus em estradas, invadindo prédios da Cultura, gritando “Fora Temer” na parada LGBT, exibindo cartazes no exterior para dizer que “there is a coup in Brazil”? E qual o objetivo de quem é a favor do impeachment, mas torce contra o governo interino de Michel Temer, condena as propostas para combater o rombo das contas públicas e repudia a indispensável reforma da Previdência?
Tanto quem é a favor quanto quem é contra o afastamento de Dilma tem de ter em mente a responsabilidade coletiva com a história e que só há três saídas para um país mergulhado em tantas crises. Fora disso, não há alternativa, a não ser anarquia.
Uma saída é dar uma trégua para Temer governar e a equipe de Henrique Meirelles tentar por a economia em ordem nesses dois anos e meio, para entregar para os eleitores em 2018 um país razoavelmente saneado.
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A saída número 2 é a volta de Dilma. Sério mesmo, alguém deseja de fato a volta de Dilma, com sua incapacidade de presidir o País, negociar com o Congresso, ouvir os conselhos do padrinho Lula ou, aliás, ouvir qualquer expert de qualquer área sobre qualquer coisa? No aconchego dos seus lares, na convivência com familiares, amigos e vizinhos e nas conversas com seus travesseiros – e com o próprio Lula –, será que os petistas de raiz querem mesmo a volta de Dilma?
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A opção 3 (dos favoráveis e contrários ao impeachment) seria a antecipação de eleições diretas, empurrando Temer ou Dilma para a renúncia (dependendo de o Senado confirmar ou não o impeachment), ou dando um golpe branco e mudando a Constituição por questões conjunturais. E o que viria depois? Uma eleição às pressas, sem que os partidos tivessem se preparado e sem candidatos à altura da crise. Dá um frio na espinha pensar nos aventureiros que se lançariam como salvadores da pátria, da ética, da economia, dos “bons costumes”, da “ordem” deles, do “progresso” deles.
Isso não é brincadeira. O seguro, que morreu de velho, recomenda respeitar a Constituição, o Congresso que o eleitor elegeu e a posse do vice que 2014 jogou no Jaburu, na perspectiva de assumir com o afastamento constitucional da presidente. Vale, sim, gritar contra muitas coisas, inclusive a nomeação de um ministro da Transparência indicado, ora, ora, pelo senador Renan Calheiros. Mas o esforço para derrubar Temer, neste momento, é trabalhar contra o Brasil.
Como discordar? Ruim com Temer, pior sem ele. É o que as pessoas com bom senso sabem ser verdade, ainda que algumas não possam dizê-lo abertamente. André Leite, da TAG Investimentos, escreveu um comentário certeiro sobre o assunto:
Dilma já sabemos o que esperar, incompetência administrativa, falta de governabilidade e aparelhamento do estado. Até 2018 estaremos rivalizando com a Venezuela como pior pais do continente.
Temer começou com alguns erros e muitos acertos. O plano de limitação de gastos é simplesmente fantástico e pode ser o Plano Real II, caso aprovado.
No entanto o governo Temer sofre na mídia e entre os formadores de opinião uma verdadeira ‘caçada ao Bismark’, hoje escutei na Jovem Pan que o Temer tem que acertar logo. Jizuis! O cara não tem nem 2 semanas de governo, pegou os computadores com dados apagados e uma máquina aparelhada sabotando ele. E querem já um gol atrás do outro. A nossa amiga Dilma depois de ter destruído o pais ainda contava com boa vontade de boa parte do establishment.
Vamos dar (e apoiar) ao menos por 100 dias o Governo Temer? As ideias postas sobre a mesa são muito boas.
O abismo econômico que nos espera caso ele não tenha sucesso fará 2015 e 2016 parecerem um passeio no parque.
Diogo Mainardi, em O Antagonista, concordou com Cantanhêde também. Há gente da direita, infelizmente, atacando a saída pelo impeachment e com Temer até 2018. É um erro. É fazer o jogo da esquerda, do próprio PT, de Marina Silva, que é o PT com embalagem de clorofila orgânica.
O Brasil tem uma chance de não afundar de vez. Essa chance é delicada, tênue, pois depende de políticos que, sabemos, não são flor que se cheire. Mas quem ignora a real alternativa não entendeu bem a situação em que nos encontramos, ou quer mesmo tocar o terror e ver o país derreter de vez. Eu prefiro não virar a Venezuela. E você?
Rodrigo Constantino