Por Hiago Rebello, publicado pelo Instituto Liberal
Que meu amigo pessoal, Lucas Berlanza, escreve bem e tem uma maturidade intelectual bem acima da média – por tratar-se de um jovem –, não é nenhuma novidade para seus leitores. Do sujeito que discorda mortalmente de suas análises ou dos pontos defendidos por Berlanza, até aquele que mais se identifica com os textos, todos devem concordar: a capacidade e o talento sintético, analítico que Lucas detém é, sob muitos aspectos, admirável. Mas tal admiração não passaria de um elogio barato se eu não demonstrasse a importância crucial de suas análises, que vai até além de sua qualidade como escritor: a importância de seus ensaios para entender a atual mentalidade política brasileira, em longo prazo.
Em seu livro Guia Bibliográfico da Nova Direita – 39 livros para compreender o fenômeno brasileiro, Berlanza se centra no atual fenômeno político no Brasil: a emergência da direita – ou melhor: a renascença da direita brasileira. Rastreando os principais autores que compõem as bases intelectuais desse novo fenômeno, assim como um olhar retrospectivo para os grandes nomes da direita que o país já possuiu, no século XX, além de sondar os temas atuais, as controvérsias, os grandes temas, os grandes nomes de influentes direitistas do exterior e de ter um olhar para com o diferente, para com aquilo que a Nova Direita brasileira não se identifica, como o pensamento de um FHC, as ações políticas e ideológicas de um Geisel, o nojento nazismo de um Adolf Hitler – e, claro, a essência da esquerda: Rousseau e Marx.
Com esses recortes temáticos, o autor ensaia o que sustenta, inspira e fundamenta a Nova Direita brasileira intelectualmente. Mas o que seria essa tal “Nova Direita”? Seria ela neocon, assim como a política republicana nos EUA pós-Reagan e pré-Trump? Seria essa nova direita um renascimento do pensamento tecnocrata vigente na Ditadura Militar Brasileira? Ou, quem sabe, teria ela alguma ligação ideológica com os princípios da Social Democracia e, com isso, alguma afinidade com o PSDB? Não.
Berlanza faz questão de, com seus recortes, diferenciar a Nova Direita de todas as confusões semânticas existentes para com a direita, no Brasil. Não se trata de um fenômeno absolutamente novo, mas também não é uma continuidade de nada recente, na História política do Brasil, ao menos desde o Regime Militar.
Não é uma direita sem raízes nacionais – uma parte do livro se dedica inteiramente para essa característica, contendo nomes como Carlos Lacerda e Roberto Campos –, uma vez que os valores e ideais defendidos pela Nova Direita podem ser traçados desde os tempos da monarquia; porém o hiato que existiu (tratando-se de uma influência maciça e de nomes poderosos e famosos, na política, na cultura literária e na mídia) desde o Regime Militar para com a direita é, sem dúvidas, uma lacuna – para não dizer que é uma fenda do tamanho de um desfiladeiro – na política nacional.
A Nova Direita se identifica economicamente com a Escola Austríaca de Economia – que dentro do Brasil, até poucos anos atrás, era algo alienígena –, com o conservadorismo burkeano, e, logo, com o legado civilizacional do cristianismo, da cultura greco-romana. Nada, antes de alguns anos atrás e desde a intensidade do Regime militar, se assemelhava a tais fundamentos, dentro da política brasileira. Existiam apenas comunistas, sociais democratas, socialistas, trabalhistas, mas nunca um movimento político de direita, como agora. Por isso a direita atual é chamada de nova. Não se trata de uma fratura com a “velha direita”, mas sim de um renascimento, de um continuar (ainda que mudado, diferente) da direita brasileira antes de 1964.
Com esse livro, o autor consegue traçar com maestria o perfil de uma novidade política e cultural no Brasil. De certo, o livro cumpre com o sua proposta expressa em seu título: ele guia o leitor para saber o que está dentro das mentes da Nova Direita, quais são suas características fundamentais, quais são suas inspirações e limites.
Com tal característica, o Guia Bibliográfico da Nova Direita tem outra faceta: a de ser um dado sociológico do momento em que estamos vivendo. O livro mostra as raízes da direita atual, sua composição e suas características básicas.
Como um historiador, posso afirmar sem medo: tal escrito será bem útil no futuro, para qualquer um que queira estudar o Brasil no cenário atual. Ele guiará o leitor para entender o que se passa nesses primórdios do renascimento da direita no Brasil.
Não nos enganemos: qualquer que seja o futuro da dita Nova Direita, pode-se saber de uma coisa: ela não perdurará para sempre no cenário brasileiro. Nada dura para sempre, no mundo, e esse fenômeno não será uma exceção. Seja porque, mais afrente na História, algo negativo ocorrerá para com a direita, seja porque as mudanças naturais ocorrerão dentro da própria e, sem dúvidas, ela mudará com os tempos, ao ponto de, no futuro, não se enxergar corretamente mais como ela veio a nascer.
Mas mesmo longe dessa mudança histórica, mesmo no tempo corrente, podemos observar algo: esse livro nos sintoniza, nos coloca de frente com a realidade política e cultural do país. Não se poderá, após ler esses ensaios de Berlanza, confundir a Nova Direita com a Social Democracia brasileira, muito menos com um militarismo tacanho, uma ressonância da Ditadura.
Ao ler essas páginas, o leitor encarará o que realmente compõe a Nova Direita, o que realmente faz parte desse fenômeno novo, dessa renascença política no Brasil, dessa renovação de visões e ideias na mentalidade de nosso país.
Quer saber mais sobre o que a direita atual acredita? Quer saber suas fundações, suas propostas, suas características? Esse livro – que é a primeira proposta para esclarecer essa questão, no Brasil – será imprescindível para seu entendimento.
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