Tem sido tema recorrente aqui a radicalização crescente da esquerda americana. O Partido Democrata foi tomado por extremistas, por fanáticos socialistas e pela política de identidades que apela para a vitimização das “minorias”. Praticamente não há mais espaço ali para moderação, bom senso, foco nos valores tão pregados pelos “progressistas” da boca para foca, como a tolerância, por exemplo.
E o caso de Joe Biden mostra bem isso. O ex-vice de Obama lidera as pesquisas para 2020 dentro da imensa lista de democratas, justamente por parecer mais moderado, razoável, em meio a tanto maluco. Ele fala à maioria silenciosa, enquanto a mídia, igualmente dominada por radicais, prefere dar voz aos mais radicais.
Biden tem chance se e somente se resistir à tentação de agradar essa base militante barulhenta, e continuar falando aos mais moderados. Ele vem tentando, mas não será fácil. Recentemente, ele disse que é preciso conversar com o outro lado, negociar, manter um relacionamento de civilidade. No exemplo dado sobre o passado, Biden citou segregacionistas com quem os democratas já tiveram de lidar. A política é a arte de conversar com quem discordamos ou mesmo odiamos.
A mensagem do candidato foi perfeita, razoável, puro bom senso. Mas seus concorrentes viram ali a oportunidade de colar em Biden a pecha de… racista! Sim, ele que foi vice de Obama! E durante todo esse tempo, seus companheiros de partido e a imprensa mantiveram silêncio sobre esse suposto racismo. Por que será?!
Cory Booker, senador por Nova Jersey e um dos que disputam a vaga com Biden, saiu da toca ao sentir cheiro de sangue, e cobrou de Biden um pedido de desculpas, insinuando que o ex-vice havia ofendido todos os negros da América. Biden não recuou, o que é mérito seu, e disse que Booker “sabe melhor” do que essa campanha difamatória tosca.
Eis o grau de radicalismo da esquerda americana: fez conservadores como Ben Shapiro saírem em defesa de Joe Biden! O cinismo da turma salta aos olhos. Não que Biden não mereça isso. Em 2012 ele mesmo lançou mão do mesmo artifício canalha para atacar Mitt Romney, alegando que o republicano iria, se vencesse, soltar as correntes de Wall Street e voltar a colocar correntes nos negros.
Não resta dúvidas de que na política é mais raro encontrar decência do que oportunismo. Mas há um limite, ou deveria haver. E os democratas atuais ultrapassaram qualquer um. Atacam o Obamacare como insuficiente, pregando o socialismo total na saúde. Pedem reparações para os descendentes de escravos, sem explicar quem são ou quem pagará a dívida. Propõem um Green New Deal stalinista, utópico e ridículo. Clamam por mais impostos e “tudo grátis”. Confundem, em suma, a América com alguma republiqueta latino-americana.
E claro, fazem tudo isso enquanto tentam monopolizar as virtudes e demonizar qualquer um que ouse discordar de seus métodos. Se você condena a ideia da reparação, por exemplo, só pode ser porque é a favor da escravidão. E se você defende que é preciso escutar o outro lado, conversar com adversários, preservar a civilidade mesmo diante de quem julga totalmente equivocado, então você só pode ser um deles disfarçado.
Infelizmente, esse radicalismo tribal não é exclusividade da esquerda americana. Encontramos postura similar na alt-right americana, e também na direita nacional-populista brasileira, que pensa que simplesmente cumprimentar um esquerdista já é indício de que se tornou um “traidor”, não passa de um “comunista infiltrado”. Transformaram a política em guerra total. E isso é a morte da própria definição de política…
Rodrigo Constantino