Principal porta de entrada de visitantes no país, o Rio passará a ser tratado com o status que merece. O presidente da Embratur, Vinícius Lummertz, anunciou nesta quinta-feira o lançamento do programa “Mais Rio, Mais Brasil”, que colocará o estado como prioridade na divulgação internacional do turismo brasileiro. As campanhas “vendendo” o Rio como destino a ser visitado vão começar este ano, de olho no público da América Latina, Estados Unidos, Portugal e Espanha. Num primeiro momento, serão investidos R$ 10 milhões na divulgação. As ações vão continuar entre 2018 e 2022 e, ao fim dos cinco anos, o governo federal estima que a arrecadação com o turismo fluminense possa chegar a R$ 45 bilhões por ano, contra os R$ 11,2 bilhões atuais. O lançamento da campanha foi anunciado ontem durante o seminário “Reage, Rio!”, uma iniciativa dos jornais O GLOBO e “Extra”, que, durante dois dias, discutiu, no Museu de Arte do Rio (MAR), formas para o estado sair da crise.
O programa será regulamentado por meio de uma portaria da Embratur que será publicada até segunda-feira. Fazem parte do projeto, campanhas publicitárias, exposições em feiras internacionais e viagens para a imprensa, com a vinda ao Rio de jornalistas de veículos considerados estratégicos.
— Isso não é favor nenhum. O Brasil precisa disso. A porta de entrada (do Brasil) é aqui. Os outros destinos se beneficiam com o Rio forte — afirmou Lummertz.
O Rio também vai ter mais motivos para atrair visitantes. O empresário e presidente do Rock in Rio Roberto Medina falou sobre o calendário Rio de Janeiro a Janeiro, que será lançado no dia 24 de setembro. Entre os eventos pensados para atrair turistas, estão o Rio Montreux Jazz; o maior evento de MMA do mundo; o X-Games, e a abertura do Campeonato Brasileiro.
— Será, pelo menos, um evento âncora por mês e mais outros que, juntos, somarão cerca de 150. Isso ainda pode crescer — disse.
Não me levem a mal e não me rotulem como chato ranzinza, mas alguém precisa “tocar a real”. Foi da mesma forma quando muitos se empolgaram com a Copa e as Olimpíadas, que iam “mudar” o Rio, e eu estava lá, alertando que teríamos rombos fiscais e “elefantes brancos” depois. É preciso ser mais realista, não cair em ilusões românticas.
Admiro a intenção dessa gente, de empresários como Roberto Medina, que apostam no Rio pela via do entretenimento. Mas não é de mais propaganda que o estado precisa. Não é “se vender melhor” que está faltando. Tampouco a criação de mais eventos, por si só, vai atrair mais turistas e recursos a ponto de fazer a diferença.
Sim, sempre haverá o turista disposto a encarar uma aventura. Vamos disputar com os safáris africanos ou os países exóticos de terceiro mundo, onde turistas entediados do primeiro mundo vão em busca de adrenalina. Somos também destino do nefasto turismo sexual. Mas isso não é suficiente.
Para realmente mudar o quadro, para entrar na rota do turismo mundial pesado, aquele que traz dezenas de bilhões de dólares, lota hotéis e deixa um legado de intenso consumo para trás, o marketing não serve, a propaganda não basta. Não é por falta de evento ou de conhecimento que o turista foge do Rio: é por medo!
O principal fator é segurança, sem dúvida. Claro, há a péssima infraestrutura, a poluição visual, os serviços insatisfatórios, os “malandros” que tentam fazer os gringos de trouxas e por aí vai. Mas a causa principal que afasta turistas do Rio é mesmo a violência. Basta uma notícia internacional de um turista esfaqueado em Copacabana para anular milhões investidos em comerciais com mulatas sambando.
E isso não muda com belos discursos, com seminários, com palavras fortes ou propaganda. Isso muda com ação efetiva. A começar pela revogação do Estatuto do Desarmamento, que o jornal responsável pelo seminário ainda apoia. Os ricos podem andar em carros blindados, com seguranças ou em helicópteros, mas o turista não terá nada disso, como o povo não tem.
Eu diria até que um dos maiores problemas do Rio é esse romantismo, essa ilusão de que bastam discursos para mudar a realidade, como se tudo fosse um cenário do Projac. A turma precisa sair da bolha. O Rio insiste apenas nessa estética, nas aparências, acha que pode competir com seu “charme natural”, com seu estilo descolado. Mas o mundo real não é uma novela.
Portanto, acho louvável que empresários, autoridades e artistas estejam engajados num movimento de reação, mas ela não virá com propaganda vazia. Ela virá quando a turma acordar para a realidade e perceber que o Rio é um experimento social fracassado, justamente por ter abraçado todas as bandeiras “progressistas” da esquerda.
Não tem maquiagem que dê jeito nisso, que possa esconder os hematomas, a feiúra, a carranca por trás da máscara. Para reagir de fato, é preciso abrir os olhos, sair da bolha. Acorda, Rio!
Rodrigo Constantino