Por Antonio Pinho, publicado pelo Instituto Liberal
As redes sociais radicalizam as pessoas? Ou são os radicais que encontram espaço na internet para propagar seu radicalismo? Ou é tudo isso junto? A questão é complexa, e não tenho aqui uma resposta fácil. Na verdade, nem sequer tenho uma resposta.
Quando falo em “radical”, este termo se aplica a qualquer viés político-ideológico. O radicalismo não é monopólio de nenhum grupo, porque qualquer um em alguma fase da vida pode se tornar um radical, ou ter uma fase radical.
Uma questão é certa. O radicalismo é próprio da mente do jovem. E quem continua um radical depois de certa idade ou é burro, muito inocente, ou tem má índole. Um radical com mais de 60 anos, como Dilma, certamente tem uma mente adolescente que nunca amadureceu.
Mas voltemos à questão do radicalismo e sua relação com a internet. As redes sociais, com a distância que criam entre as pessoas, propiciam à radicalização. Se a internet é a causa, não sei, mas ela abre espaço à radicalização.
A internet é uma ferramenta nas mãos do Estado Islâmico e de outros grupos islâmicos extremos para recrutar jovens. O livro Na pele de uma jihadista mostra bem esta questão. O terrorismo conta com a internet para encontrar novos seguidores.
No dia seguinte à vitória de Trump, manadas de radiais foram às ruas expondo uma raiva irracional contra o novo presidente. Obviamente a internet e as redes sociais foram usadas para convocar esses protestos. O mundo dos memes tudo simplifica. Trump é o grande exemplo daquele que na internet foi reduzido a um conjunto de rótulos estereotipados. Na internet ele foi reduzido a um espantalho, e depois o meio virtual serviu igualmente para levar às ruas aqueles que acreditaram nos memes.
No caso brasileiro, no outro lado do espectro ideológico, também há certas marcas de radicalismo, claro que de ordem completamente diferente do terrorismo, ou dos ideólogos progressistas. Surgem gurus de direita sem formação alguma que arrebatam seguidores totalmente cegos. Esses gurus acabam sendo literalmente idolatrados, até adorados como semideuses. Os gurus têm razão sempre, dizem esses fanatizados. Sem a internet e as redes sociais, esse tipo de fanatização ideológica seria praticamente impossível.
Tanto no Brasil quanto no mundo, as pessoas estão polarizadas, em lados opostos que não conseguem dialogar. Claro que as manifestações de intolerância extrema quase sempre vêm de grupos progressistas. Contudo, cada grupo ideológico pinta o outro com meia dizia dos mesmos tons. Simplesmente acabou qualquer possibilidade de um confronto real de teses opostas, como era normal na prática filosófica da Antiguidade Clássica e Idade Média. Quem tem contato com os clássicos da filosofia sabe que a base do pensamento ocidental nasceu no diálogo, no qual dois personagens com ideias opostas conversam, expõe seu ponto de vista e defende sua visão até o fim. Mas nessa forma de filosofar o outro era realmente escutado e respeitado. Toda ação de Sócrates e Platão foi assim. Santo Agostinho debateu frente a frente com seus opositores de forma realmente civilizada. A base do pensamento ocidental nasceu do diálogo/debate real e honesto entre teses opostas. Este é o verdadeiro sentido do termo dialética.
Esses debates da Antiguidade, felizmente foram registrados, e hoje podemos ver o que é o real confronto de ideias com propósito de se chegar à verdade objetiva. No nosso tempo isso acabou. Há apenas o monólogo da unanimidade. Cada grupo fala apenas para os seus, tal como o missionário cristão que só fala para os já conversos. E quando alguém vai a uma universidade expor sua diferente visão de mundo, turbas de fanáticos logo o cercam gritando, xingando e expondo todo seu ódio para ideias diferentes. Há inúmeros exemplos recentes desse tipo de coisa justamente no espaço (a universidade) que nasceu no tempo em que o ensino era todo baseado na dialética, como é o caso da educação universitária medieval.
Há também a direita caricata que se é protestante só sabe falar mal de católico, ou se é católico só sabe falar mal de protestante e de outros grupos católicos. Os caricatos que adotam duas ou três frases como axiomas incontestáveis, e veem toda a realidade por meio desse filtro. Ai de alguém que critique esses axiomas. “Só pode ser comunista”, pensa o caricato. “É um socialista fabiano”, pensa outro. “É fascista!” esbraveja o socialista. A realidade é bem mais complexa do que a oposição entre o vermelho e o azul. Há inúmeras gradações entre os extremos. Há, inclusive, pontos ambíguos, e até pontos sem cor.
O fato é que a tecnologia distancia as pessoas, e a distância só ajuda a reduzir aquilo que não vemos nem entendemos a um pequeno conjunto de rótulos. Não tardamos a escrever no rótulo “gosto” ou “não gosto”, “concordo” ou “não concordo”, “amo” ou “odeio”.
Mas quando falamos cara a cara com alguém, vemos suas expressões, sua aprovação ou desaprovação com o que dizemos. Assim, naturalmente, modulamos nossa fala para não entrar em conflito com o outro (claro que há as exceções, e por isso há as brigas e desentendimentos). O face a face nos torna mais tolerantes ao outro.
A vida social real nos obriga a adotar uma série de medidas de etiqueta. Com a internet tudo isso se torna facilmente dispensável, pois, no mundo virtual, não temos a presença de quem nos ouve. Não vemos as suas expressões faciais, seu tom de voz, seus gestos. A distância derruba o policiamento e as boas maneiras somem. Não tememos ferir o outro com palavras escritas. Isso está tornando as pessoas mais agressivas. E esta agressividade foi às ruas com multidões de ânimos exaltados, cada um berrando para que sua utopia magicamente se materialize no mundo.
Sobre o autor: Antonio Pinho é Bacharel, Licenciado e Mestre em Letras pela UFSC. É professor, escritor e edita o site Revista Capital do Brasil.
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