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Reféns no planeta dos malandros
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Dois artigos publicados hoje na Folha merecem destaque. No primeiro deles, o economista Marcos Lisboa questiona quem paga pelos “direitos adquiridos”, alegando que somos reféns das corporações que se articulam para impedir reformas necessárias, como a trabalhista e a previdenciária. São grupos organizados em defesa de privilégios. Escreve Lisboa:

Com violência e intimidação, argumentam que defendem o bem comum, merecendo receber salários muito acima da renda média do brasileiro, e ficam revoltados quando o Congresso delibera sobre as suas aposentadorias precoces.

Talvez esteja na hora de discutir os direitos adquiridos e a estabilidade dos servidores públicos, sobretudo quando usam de violência ou põem em risco a vida dos cidadãos.

Não é aceitável a ameaça aos deputados nem a paralisação dos serviços de segurança pública – além do mais, ilegal.

Por que alguns servidores públicos têm que ser ressarcidos pelas despesas comezinhas que todos nós pagamos com nossos impostos?

[…]

Muitos servidores não aceitam a revisão dos seus benefícios, pois argumentam que essa era a regra quando optaram pela carreira pública. Alguns reagem com violência às propostas de reforma da Previdência ou de maior transparência aos auxílios que recebem para suas despesas comezinhas.

Para o setor privado, no entanto, não existem direitos adquiridos.

Lisboa conclui num tom de revolta, com uma comparação talvez exagerada, mas ainda assim pertinente: “A defesa de direitos adquiridos dos servidores lembra os argumentos dos proprietários de escravos no fim do século 19. A seu ver, todos temos que trabalhar para sustentar os seus privilégios”.

O segundo artigo que merece menção é assinado por Ives Gandra Martins, respeitado advogado. Ives Gandra também fala do movimento reacionário dos sindicatos e grupos de interesses, que se unem, até com violência, para impedir avanços ao país. Diz ele:

Analisando o movimento das centrais de sindicatos que levou um pequeno número de pessoas às ruas -a maior parte delas com atitudes antidemocráticas ou de vandalismo, o que impediu a esmagadora maioria da população de exercer o sagrado direito de ir e vir livremente, assegurado pela Constituição-, a greve não foi o sucesso que esperavam seus organizadores, que escolheram a véspera de um feriado para estimular adesão daqueles que gostariam de desfrutá-lo mais prolongadamente.

Fosse um sucesso, como foram as manifestações públicas de 2015 e 2016, em que o povo rebelou-se contra os governantes e não precisou de violência para se impor, teriam adotado a mesma atitude democrática de protesto daqueles milhões de pessoas que foram às ruas.

As cenas de TV mostraram tais aspirantes de ditadores, mascarados, como quaisquer facínoras, queimando pneus para impedir empregados de trabalharem, destruindo bens alheios, depredando ônibus, numa demonstração de que todos esses cidadãos não estão preparados para viver num país democrático. São apenas baderneiros ou defensores de privilégios próprios, mais do que de direitos de terceiros.

Em resumo, e juntando as peças do tabuleiro descrito pelos dois, economista e advogado, somos reféns no planeta dos malandros, escravos forçados a trabalhar a metade do ano só para bancar privilégios de um grupelho organizado, que não se importa em usar a violência para preservar tais vantagens indevidas. Até quando, otários?

Rodrigo Constantino

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