Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal
A reforma da previdência foi aprovada, parabéns ao Brasil. Mas agora a política arcaica tem que continuar e, com ela, a mesquinharia de sempre ― é o que parece, ao menos. Os grandes jornais panfletários da esquerda: Folha de S. Paulo e Veja, principalmente, já exaltam com louros inacabáveis o Primeiro Ministro, digo, o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Muitos já dizem que a reforma é do Maia. Tolas meretrizes ideológicas.
Você deve então pensar que eu afirmarei que a reforma da previdência é do Governo Bolsonaro… outra tolice tipicamente de turba. A reforma é do Brasil, essencialmente dizendo, e explicarei o porquê. O trâmite do texto da Reforma seguiu seus caminhos tradicionais: uma equipe de notáveis elaborou tecnicamente os seus meandros, balizou as contas necessárias e alinhavou as ideias centrais; foi então apresentada ao presidente da Câmara dos Deputados em exercício, e os trabalhos protocolares e regimentais foram respeitados, conversas iniciais aconteceram, o responsável pelo texto foi sabatinado, datas foram marcadas e a comissão de apuração do texto original foi formada; o texto foi modificado após debates e acordos, surgiu então o texto-base; o texto foi votado em primeira instância e foi aceito por 379 parlamentares contra 131.
Ou seja, os protocolos foram feitos e tramitados como deveriam, a necessidade da reforma era indiscutível, até mesmo os mais afoitos e acovardados entendiam a sua necessidade. Se opor a ela era coisa exclusiva da oposição vermelha irresponsável e de indivíduos naturalmente inaptos para a razão (tais categorias, aliás, tendem a se confundirem). As tratativas do governo com o congresso poderiam ser melhores? A negociação poderia ter sido mais amistosa e cordial? Sim, mas o fato é que elas pouco interviram no processo final. As desidratações ocorreriam ainda que o governo tivesse sido uma tsunami de impropérios, o bem da verdade é que os deputados não estão prontos para tirar as rodinhas do estado de suas bicicletas burocráticas, e isso não é culpa nem do Maia (esse ainda gosta muito das benesses do Estado) e nem do Bolsonaro. E ainda não acabou, é bem capaz que ocorrera novas amputações ao texto-base.
Onde está o tensionamento vitorioso então? Com certeza na população que saiu às ruas, que se mobilizou na internet e fez o impensável: exigir cortes em seus próprios direitos em prol de uma economia nacional mais equilibrada e responsável. O protagonismo dessa reforma fica na conta da população que, com rara inteligência e manejo político, entendeu as necessidades da república. Não há notícias de manifestações colossais em prol de reformas previdenciárias na história da democracia mundial, isso deveria ser muito celebrado e até mesmo estudado. Tal atitude, aliás, é o fracasso mesmo do discurso populista do marxismo operário, quando trabalhadores livremente saem às ruas em prol do equilíbrio fiscal do Estado, deveríamos nos questionar se esse não seria o ponto mais alto da maturação democrática do Brasil em toda a sua história. Estou exagerando? Talvez sim, mas com certeza contarei aos meus filhos que vi multidões nas ruas em prol de uma reforma naturalmente impopular.
Com muito ou pouco tato político, com estratégia acurada ou embates afobados, a população sustentou a ideia da reforma da previdência e, das avenidas e ruas de todo país, gritaram de maneira uníssona aos parlamentares (nossos representantes, talvez) que era para aprovar sim senhor a reforma da previdência. Por isso a reforma é do Brasil, pois se as ruas não tivessem se enchido, muitos ali se acovardariam e se deixariam levar pelo palavrório choroso da oposição acéfala. Ora, era muito mais demagógico e romântico votar contra a reforma e sair batendo no peito feito um gorila esquizofrênico, do que convencer uma população ― pensava-se até então ― estatista, de que o melhor para o país é a reforma previdenciária.
Os louros caem sobre Maia, é claro, a esquerda percebe que atualmente não há lideranças à esquerda para assumir o posto de uma oposição real a Bolsonaro. Gleisi Hoffmann? Ciro Gomes? Lindeberg Farias? Me poupe. Bolsonaro é extremamente popular apesar das pesquisas popularidades; do seu jeito abobalhado, é cativante ainda que para grupos sensíveis seja repugnante. Se aqui a impressão da mídia é que a reforma é de Maia, a impressão de Kenneth Rapoza, colunista da revista Forbes, é um tanto quanto pró-Bolsonaro: “Comparado ao resto do mundo emergente, o Brasil de Bolsonaro é um ponto brilhante”.
O assentimento mudo que poucos têm a coragem de verbalizar é que, para a esquerda e para a direita de pantufas, em 2022 “é Maia lá”. Basta ler nas entrelinhas, basta ver a postura do próprio Maia. Bolsonaro, ontem mesmo, elogiou o parlamentar jogando feno sob seus pés; reconhecendo sua importância e postura. E Maia? Apontou para a sua própria silhueta avantajada, chorou e fez seu marketing de estadista articulador. Cientistas políticos gourmet e a direita sensível estão em êxtase com seu novo chaveirinho.
Os bolsominions, por sua vez, já colocaram o seu deus no trono mor de salvador social, como se ele mesmo, numa tarde entediante, tivesse escrito com os próprios punhos todos os dispositivos da PEC aprovada. Os da direita bolchevique, apoiadores radicais de Bolsonaro, já prestam continência à reforma e querem espalhar quadros do presidente por toda a extensão do Brasil.
Poderíamos com justiça resumir o seguinte: tecnicamente, méritos à equipe de Paulo Guedes e a Bolsonaro que reuniu e municiou a referida equipe, assim como à união (ainda que apenas para inglês ver) promovida pelo presidente da república entre os chefes dos três poderes em apoio à reforma. Parabéns a Rodrigo Maia pelo célere trabalho na questão, sua disposição em negociar com o centrão e também a disposição para tratar com a oposição. Parabéns a Samuel Moreira (PSDB-SP) pela relatoria e o trabalho no texto-base. Não foi a melhor das reformas, mas foi a possível. A cima de tudo, e quando digo “de tudo” é “de tudo” mesmo, parabéns à população brasileira que com uma maturidade impressionante pediu pela reforma e exigiu isso de seus representantes no congresso. A reforma é brasileira, os demais enfeites de sala que abaixem seus egos.
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