Reinaldo Azevedo, em sua coluna de hoje na Folha de SP, parece frustrado com o “acordão” entre PT, PMDB e PSDB, mas não por existirem conversas entre esses partidos, e sim por elas não trazerem grandes novidades. Se o “acordão” fosse para valer, Azevedo ficaria feliz, ao que tudo indica. Eis o que ele escreve (meus grifos):
Ah, caros leitores! Mesmo escrevendo colunas, é preciso correr algum risco, não? Ou sobra pouco além de tédio ou vodca. Li nesta Folha, na quinta (13), que “Temer, Lula e FHC articulam pacto por sobrevivência política em 2018”. E aí pensei com os meus olhos jamais cansados: “Que bom! Talvez haja algum futuro e não tenhamos de ficar à mercê de neófitos fundamentalistas e entusiasmados”.
Meu ânimo logo esfriou ao ler o texto. Com a caneta na mão –sim, no impresso; sou como o diabo: antigo–, resolvi grifar aquelas que seriam as medidas concretas do pacto. E lá se encontravam a cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais.
Ora, esses dois mecanismos estão presentes em todas as propostas de reforma política razoavelmente decentes, uma vez que se trata de corrigir, literalmente, uma indecência (a coligação proporcional) e uma vigarice: a geração de partidos por cissiparidade ou partenogênese. Leiam texto da Agência Câmara de 5 de dezembro de 2012, que traz os pontos da reforma que o então Todo-Poderoso PT queria. 2012!!!
Ou seja, o ânimo do colunista se esfriou ao perceber que não há grandes novidades nessas conversas, que ele enxerga, vejam só!, com bons olhos! Para evitar “neófitos fundamentalistas e entusiasmados”, Reinaldo Azevedo gostaria de ver Lula e FHC unidos, com a aquiescência dos fisiológicos do PMDB, em busca de um pacto para 2018. Bolsonaro assusta tanto o jornalista que ele prefere ver Lula costurando acordo com os tucanos!
Em seguida, Azevedo bate naquela que tem sido sua tecla repetitiva nos últimos dias, em sintonia curiosa com os petistas, com Gilmar Mendes e com os caciques tucanos: o financiamento público de campanha com lista fechada, decidida pelos líderes partidários.
Azevedo alega que a lista seria aberta, pois conhecida, escancarada. Os sofistas gregos ficariam envergonhados com tanta manipulação. Fala-se em lista fechada pois ela viria pronta do partido, numa hierarquia estipulada pelos caciques, bem ao gosto de José Serra. É impressionante, aliás, a coincidência entre as pautas de Azevedo e as de Serra. Um parece ser a mão que escreve os desejos do outro.
Reinaldo conclui, novamente lamentando não o acordão, mas sua suposta inexistência:
Questões de mero bom senso ganham ares de arranjo escuso. Dias obscuros! Eu, na verdade, temo, então, que o “Arranjão de Itararé” não aconteça. E, aí sim, rumaremos, vestidos de verde e amarelo e empunhando a bandeira da Justiça e da moralidade jacobina, para o “Findomundistão”. E sem nem um Delacroix para lembrar que a liberdade pode ser farta, generosa, sensual.
Quem quer ver Lula atrás das grades, Marcelo Odebrecht atrás das grades, e sim, os caciques tucanos respondendo por seus crimes, ainda que de natureza distinta daqueles cometidos pelos petistas, seria um “jacobino” segundo Reinaldo Azevedo. Bom mesmo, liberal mesmo, evoluído mesmo, seria defender um grande acordo que contasse com a participação de ninguém menos que Lula, o bandido que já deveria estar apodrecendo na cadeia há anos!
Rodrigo Constantino