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Relativismo moral nas escolas: ensinam aos jovens que a culpa é da sociedade

Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal

Um dos pilares primevos do socialismo moderno é o relativismo moral no seu nível mais boçal. Seguindo os últimos apontamentos de Marx, no livro A origem da família, da propriedade privada e do Estado, o marxismo moderno entendeu que a verdadeira luta não seria travada, de maneira essencial, no campo econômico ou militar, mas sim no campo cultural e moral. Em Autoridade e família de Max Horkheimer, já começa a guinada do comunismo para a batalha cultural; o que fundaria, logo após o entendimento dessa realidade, a Escola de Frankfurt e as demais agremiações acadêmicas dos neo-marxistas.

O marxismo passa, então, a vislumbrar o terreno moral como sendo o alvo de suas críticas e ataques; afinal, como bem entendeu Max Horkheimer, György Lukács, Antonio Gamsci, Willian Reich, Jacques Derrida, Judith Butler, entre outros: para que a revolução aconteça na economia e sociedade é necessário minar o campo moral que sustenta a cultura ocidental e as ações conservadoras dos indivíduos. Não quebrando a hegemonia moral da corrente judaico-cristã no ocidente, torna-se impossível esperar uma revolução socialista na sociedade enquanto tal; afinal, essa supraestruturamoral mantém a sociedade “entorpecida” numa mentalidade tipicamente tradicional e “burguesa”.

Uma das áreas vislumbradas por Max Horkheimer como sendo o ponto crucial que mantém em pé a sociedade “burguesa” é a escola, com todo o seu ensino tradicional baseado na estrutura de mundo ocidental judaico cristão: Filosofia Grega, Direito romano, Moral Cristã. Unido à escola, o filósofo marxista também via a família e as igrejas cristãs como sendo detentoras dos pilares do Ocidente burguês. Família, Igreja e Escola eram, em si, autônomas, instituições desvinculadas do Estado. Sendo assim, tomar o Estado antes de minar essas três áreas era uma estratégia equivocada, afinal, essencialmente dizendo, essas três instituições não responderiam livremente ao Estado e nem adotariam uma moral alternativa segundo apontamentos ideológicos do marxismo; a não ser, obviamente, pelo aparato ditatorial — o que já naquela época estava se mostrado uma via fracassada. Horkheimer entende que é preciso criar ideias, teorias e mitos para minar essa manta moral tradicional do Ocidente para que as ideias revolucionárias do socialismo vingassem de maneira homogênea.

Nessa missão silenciosa e bem entendida por parte dos teorizadores socialistas, décadas se passaram de um marxismo que corroía como cupim as estruturas da sociedade ocidental — baseando suas ações detratoras nesses três pilares acima citados: Família, Igreja e Escola.

Nas famílias nós vimos as inversões de paradigmas morais, as novas conceituações de famílias multiformes, poli-amor, teoria de gênero e toda sorte de discursos de amor livre foi criado para desmoralizar a família em seu seio — principalmente a partir do final da década de 60 até hoje. A dita “família tradicional” foi descartada como retrógrada, dona de uma mentalidade engessada, protetora de uma moral parva, patriarcalista e segregacionista; o homem foi posto como um mal em si, a paternidade vista como o estandarte do “patriarcalismo opressor”, ser hétero passa quase a ser sinônimo de estuprador. A mãe, dona de casa, passa a ser vista como o símbolo da mulher submissa, sem voz e escrava do homem, sujeita a toda sorte de abusos e violências. Mentalidade essa que criou mitos, como o de que famílias estruturadas são, em suma, raridades; enquanto que as “defeituosas” são a hegemonia.

No campo da Igreja, por sua vez, várias infiltrações pseudoteológicas aconteceram, como a teologia da libertação. O pensamento relativista figurou não somente entre assuntos mais fronteiriços, mas chegou ao âmago das crenças fundantes do cristianismo. Dogmas como o do valor da vida, a ressureição de Cristo, e sua deidade, a missão eclesial da Igreja, entre outras coisas foram colocadas em dúvida. Os homens da Igreja começam a repetir as teorias e propagandas tipicamente comunistas em seus sermões e passam a fazer dos púlpitos o pátio sindical. A Igreja Romana — nas vertentes contaminadas pela ideologia esquerdista — deixara a salvação das almas de lado para propor a salvação política e social; não lhe interessava mais a união sensata entre boa vivência virtuosa no imanente em direção ao transcendente, agora, talvez, o transcendente sequer exista ou nem seja importante tal plano. A Igreja, contaminada pelas batalhas ideológicas, passou a fazer comícios em seus altares e manifestos em seus documentos; da caridade evangélica passou a praticar discursos de proletário vs burgueses.

Na escola, por fim, arguiu-se que o docente deveria descer de seu lugar hierárquico e criar uma relação de igualdade com os alunos, ao ponto que não haveria distinção fundamental do conhecimento científico do professor e o conhecimento “prático” do aluno; como se saber soltar pipa demandasse o mesmo trabalho mental e investigações laboratoriais que se pede a um biólogo ao analisar células ou a um filósofo ao discursar sobre o Ser. Deram aos estudantes o direito de aprender — mais ou menos — segundo as suas supremas vontades, afinal, afirmar que o aluno deve saber calcular e ainda por cima usar a crase é deveras perturbador para a mente sensível do homem moderno. O aluno não deve mais arcar com a sua incompetência e seus desleixos frente aos estudos e tarefas, afinal, quantos problemas psicológicos e sociológicos surgiriam após uma nota 3 em geometria, ou um 4 em história, não é mesmo? E com isso a “progressão continuada” apareceu como um método de misericórdia sacrossanta no meio pedagógico, ceifando dos alunos a oportunidade mais rica que um homem pode ter na escola: a de arcar com as consequências de seus maus atos e displicências, a oportunidade de ele ser responsável e dono do próprio destino.

A escola é o lugar perfeito para propagar suas ideias como dogmas; entre os três pilares citados acima, onde o Estado consegue agir de maneira mais arguta e livre. Dessa maneira a pedagogia passa a ser o campo de ação principal do marxismo; incutir o relativismo moral frente ao ensino judaico-cristão ocidental, denegrindo assim as suas bases pedagógicas — hierarquia, honradez, respeito, organização espacial e prática das virtudes morais —, passa a ser o carro chefe do esquerdismo. Não à toa o marxismo reina soberano nas universidades atualmente, a moral judaico-cristã simplesmente foi destruída nesse meio. Recomendo a leitura de Radicais na universidade, de Roger Kimball, para melhor aprofundamento.

Na escola, o relativismo moral adquire contornos nefastos para a criança e o adolescente, pois, é na escola onde eles aprenderão como devem agir num convívio social real e como as balizas morais e éticas são importantes para a convivência minimamente ordenada no cosmo comunitário. Como argumenta Eric Voegelin, sem uma estrutura moral que transcende a sociedade é inútil falar em ordem ou ética.

Pois bem, mas já que a moral é sempre relativa, como arrogam os desconstrucionistas, não se pode afirmar nada com certeza — pois a certeza é, per se, intolerante — resta aos jovens elevarem os seus egos ao status de vontade divina, tornando os seus desejos o modelo supremo do que é certo e errado: jovem locuta, causa finita est. Se não há um conjunto de regras exteriores que a nos ordenam num impulso natural ao que é certo em retração ao que é errado, então será a nossa vontade que deve reger o ambiente no qual vivemos, será nosso ego a lei, nosso ego o Direito natural, e os demais que se adequem. Absolutamente todos os ditadores eram regidos por essa mentalidade.

O jovem moderno tornou-se um deus, foi incutido nele a mais tenra mentalidade egocêntrica que existe: o aluno que não conhece substancialmente nada e se acha bom o suficiente para revolucionar a terra; o jovem que não sabe sequer usar vírgulas quer mudar a história humana. Ele é um deus num trono de papel machê.

O aluno torna-se um escravo modelável perante as retóricas do professor-catequista que lhe transfere um conhecimento militante inócuo baseado somente numa visão diminuta de mundo; ao mesmo tempo em que cria no aluno a sensação de onipotência, onde seus atos, ainda que violentos e criminosos encontram-se amparados pelos afagos ideológicos que os sustentam perante a opinião pública. Para o socialismo, é bom lembrar, o que importa é o fim a ser alcançado e não a validade ética dos meios utilizados. Prova disso é a professora Marcia Friggi que foi agredida com socos em Santa Catarina por um de seus alunos; ela abertamente defendeu a atitude da estudante Alana Gabrielle de Oliveira que, poucos dias antes da agressão sofrida por ela, havia jogado um ovo no deputado federal, Jair Bolsonaro; obviamente que a ovada é bem diferente de um soco, e que, guardando devidamente a proporcionalidade dos casos, a ovada também é um tipo agressão. Se fosse a professora Marcia Friggi a levar a ovada não teria sido uma agressão? Longe de mim defender o deputado Bolsonaro, minhas opiniões sobre ele, aliás, são bem desfavoráveis; no entanto, a coerência ainda é um bem a ser preservado diante de minha consciência individual. E, antes que acusações me sobrevenham, eu não considero Marcia Friggi a culpada, óbvio que não é. Eu a considero tão vítima quanto um jovem islâmico que foi coaptado por uma mentalidade religiosa e política que o embebedou numa ideologia extremista e ilusória. Marcia Friggi só defende tal aparato ideológico, pois um dia ela mesma foi uma aluna doutrinada no sistema que acima denuncio.

Sob essa pedagogia amorfa, os docentes incutem nos jovens os anseios revolucionários que constantemente se transformam em ações violentas e criminosas; entretanto, quando um aluno joga um livro no rosto da professora e depois lhe soca o supercílio, ele está justamente exercendo seu dever de revolta contra o status quo que representa o docente dentro da sala de aula. É a prática daquilo que lhe é ensinado, é o estágio para os Black Blocs ou o MST.

Ou seja, reclamar do aluno agressor, sob a perspectiva revolucionária, é uma hipocrisia latente dos socialistas. Ora, a revolução sempre supõe a quebra de leis e destruição de certas propriedades e paradigmas; o aluno, instigado pelo impulso imoral que lhe foi transmitido, atacou a sua professora perante os aplausos da plateia revolucionária. Não à toa dizem que a revolução devora seus filhos.

Como se lia nos manifestos dos “black blocs” em 2013: “não se fazem omeletes sem quebrar ovos”, aludindo que a revolução requer que coisas sejam quebradas, como as vidraças na Av. Paulista ou faces de docentes. Dirão, porém, que o ato do aluno não foi revolucionário, mas criminoso; aí eu pergunto: qual exatamente é a diferença dos atos revolucionários dos socialistas e os atos tradicionalmente criminosos?

É deplorável a situação de uma professora ter seu supercílio aberto por um aluno criminoso; mas numa análise mais crítica e sincera, devemos ser frios e realistas, isso é consequência imediata de anos e mais anos de ideias parvas que relativizaram princípios basais da sociedade. Diariamente disseram aos jovens que a moral ocidental é uma opressão e um meio de escravidão, mas depois que eles agem de maneira rude e criminosa irão condená-los por não possuírem justamente a consciência moral que lhes fora negada? Relativizaram tudo, desde o valor intrínseco da vida fetal, até as bases hierárquicas de uma escola; agora se espantam com a ética imbecil que nutriram décadas a fio nas mentes juvenis?

O problema da retirada da hierarquia do meio social é esse: quando se quer evocar a posição e respeitabilidade de uma pessoa ou profissão, quando se quer proclamar uma injustiça ou uma imoralidade na sociedade, essa reivindicação encontra os risos irônicos daqueles jovens que aprenderam que nada está acima deles, que eles não devem satisfação a ninguém.  Criamos uma geração que aprendeu que não há limites para seus apetites, desejos e vontades; que não são eles que devem arcar com as consequências de seus atos. Internalizaram nesses jovens a justificativa de seus fracassos. Eles agem de maneira parva por mil motivos: ambiente degradado, opressão capitalista, mau tratamento familiar, uma bronca que ele tomou aos 4 anos e internalizou no inconsciente, uma nota tacanha que lhe frustrou profundamente na 2ª série, um sorvete que lhe foi negado aos cinco anos; enfim, tudo justifica os seus atos vadios, menos os seus caracteres vazios e transviados, menos as suas inépcias em assumir os seus erros de maneira honrada. Aliás, o que seria a “honra” senão uma expressão moral da burguesia?

Os intelectuais ensinaram aos jovens que seus crimes não são culpa deles, e sim da sociedade que assim os formaram. Agora essa mesma corja de “inteligentinhos” se espanta com as barbáries advindas de suas teorias. Quem planta mandioca não colhe morangos.

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