Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

Representações vulgares de jovens alienados

Por Sergio Renado de Mello, publicado pelo Instituto Liberal

É necessário alertar e conscientizar também a massa aculturada dominada pelo politicamente correto, sufocada pelos seus próprios ressentimentos e cheia de mimos. Agora nas idéias de Theodore Dalrymple, além do que iludida com a ação preconceituosa de ser ter ideias pré-concebidas. Por sorte que boa parte ainda mantém o diferencial para sempre divino de viver do espírito e não de sensações que são utilizadas para medir o prazer e a dor. Ainda existem pessoas que pensam e têm algum bom senso, apesar de toda a massa iletrada, porém que se acha extremamente politizada, que reluta em admitir o seu desejo por meras paixões e ilusões para poder viver numa boa.

É necessário conscientizar para aquilo que José Ortega Y. Gasset chama de vida vulgar e de homem vulgar.

Como disse o referido autor em sua magnífica obra A rebelião das massas, (…) Qualquer mente perspicaz de 1820, de 1850, 1880, pode, por um simples raciocínio a priori, prever a gravidade da situação histórica atual. E, com efeito, nada novo acontece que não tenha sido previsto há cem anos. “As massas avançam!” dizia, apocalíptico Hegel. “Sem um novo poder espiritual, nossa época, que é uma época revolucionária, produzirá uma catástrofe”, anunciava Augusto Cocote. “Vejo subir a preamar do nihilismo!”, gritava de um penhasco alcantilado da Engadina o bigodudo Nietzche.”.

Ainda nas palavras do autor, é falso dizer que a história não é previsível. A idéia de que o historiador é um profeta pelo avesso resume toda a filosofia.

Pois bem.

Diariamente circulam na internet vídeos e textos conclamando a juventude a se sensibilizar com as causas emotivas de seus grupos mais ou menos definidos. Uma dessas figuras que tem “causado” na rede é Kéfera, uma jovem com atitudes progressistas e modernistas, e com seu jeito tido por “engraçadinho”, acaba cativando jovens malucos como ela. Seu vídeo de semana passada, que viralizou na rede, faz alusão a Deus estar se masturbando. Obviamente, isso provocou aceitações de seus fãs alienados e, como não poderia deixar de ser, também críticas de parte que tem bom senso e um certo, digamos, freio moral.

Tratando Deus como irmão e não como pai (ela o chama de meu brother), o que essa menina quer, com a maioria de seus seguidores, é corromper os jovens a lutarem para parecer reais e normais, enquanto aqueles discordantes dessas atitudes, os anormais de hoje, uma sociedade cheia de preconceitos e classes que têm que ser desmanteladas, naquela mesma visão heroína de achar as coisas de hoje tudo bonitinho e moderno. Certamente querem revolucionar e quebrar barreiras tidas como dogmas ou tabus preconceituosos. Sem consciência de si e de seus propósitos bastante delineados, os propósitos são os mesmos de Gramsci. A ideia de evolução e reforma prudente não passam nem de longe por suas mentes insanas: querem uma ruptura radical, ainda que gradativa e sem as mesmas armas do passado mortal.

Existem pais tradicionalistas que criam seus filhos com o maior zelo e carinho, tendo o maior cuidado tanto no asseio físico quanto intelectual de suas crias. Desde o cuidado com o dedinho na tomada até a escolha de suas companhias, é certo que pais zelosos jamais deixam seus filhos à vontade e em plena liberdade, pois, como é natural, as consequências desastrosas vão vir tanto para os filhos quanto para os próprios pais. A preocupação é com o tempo presente e mais ainda com o futuro. O que os pais de bom senso querem é ter seus filhos como espelhos de si mesmos para a posteridade.

A criação desastrosa de filhos de hoje é reflexo de uma mudança sociocultural. Destruição do casamento civil, despadronização de arranjos familiares tomada pelo mero afeto e banalização de laços conjugais estáveis, duradouros, quando relacionamentos se tornam um mero teste, uma mera experiência. Fazer um test drive antes de se tomar qualquer atitude mais séria, compromissada e com repercussões futuras envolve um temerário risco que se tem que evitar, a todo custo, para não haver sofrimentos para si e para terceiros. Se pedir para esse filho desenhar sua família num papel, a figura do pai ou da mãe ausente será esquecida com a maior naturalidade.

Os pais de hoje, na sua grande maioria, nem todos, portanto, são politicamente corretos com filhos moderninhos. E a culpa? Quando há responsabilidade, a culpa como sempre é dos outros, de terceiros ou de coisas abstratas, e nunca dos próprios filhos. Mal sabem os pais que, assim agindo, sob a farsante desculpa ou justificativa de relativização das consequências morais e legais de seus atos, estão os jogando dentro de um poço cujo fundo é conhecido ou, se já estão lá dentro, estão ajudando a empurrá-los mais ainda para o grande e catastrófico encontro com ele. Vivem a la John Stuart Mill, segundo a simples equação matemática PRAZER X DOR. Filhos querem liberdade e felicidade sem responsabilidade. Isso é impossível. A verdade deixou de ser relativa para se tornar irrelevante.

Faz parte do politicamente correto achar que filhos na mais tenra idade já têm responsabilidade para lidar com todo tipo de problema. Adequação ao mundo moderno é o que importa. Não querendo se sentir alheios à moda e ao mundo, pois querem filhos perfeitos mas não querem lhes impor responsabilidade. Um resultado satisfatoriamente pretendido é praticamente impossível com essa equação.

Esses jovens descabeçados vivem num mundo de estética total, além de se sentirem no mundo da era da pós-verdade. Ou seja, acreditam no que veem e nos boatos que falam, mais até do que a própria verdade. Quanto às exigências legais, o que mais importa é ter mais direitos do que ser possível tê-los. Preferem a vida vulgar (José Ortega Y. Gasset). Vida com disciplina, vida nobre, que define-se pela existência de obrigações, não pelos direitos, esquece! Estudam pouco mas querem discutir muito, como se fossem já pós-doutorados em qualquer coisa que se põe ao debate.

Culturalmente uns filhos de Marx e de Gramsci, politicamente seus súditos, braços invisíveis da revolução cultural sem ao menos ter conhecido ou ao menos ter ouvido falar de seus saudosos mentores. O que importa é abraçar a causa de sua comunidade ou de sua tribo, que acaba se confundindo com a do mundo, para ser feliz ou parecer estar nesse caminho que entendem ser de pedras a serem transformadas em flores.

Identificam-se com defesa de uma pauta globalista de assuntos tidos por mais importantes para o mundo, como o ambiente, a mistura de raças, credos, culturas, línguas, moedas, religiões, etc., sem saber exatamente para quê estão prestando esse serviço. A bem da verdade, um desserviço para a correta compreensão dos maiores problemas que afligem o ser humano em sua existencialidade e individualidade.

José Ortega Y. Gasset alude ao homem-massa em seu belíssima obra A rebelião das massas. Nesta obra trata de analisar o homem não separadamente, vivendo isolado, mas em conjunto com outros homens, aspecto multitudinário a que ele conclui dar o nome de homem-massa.

Não fosse a massa, nunca o homem teria sentido a necessidade até mesmo inconsciente de apelar para algo externo a ele para viver. E esse encontro não teria sido voluntário, e sim forçado. Agora, já introduzido no conceito de homem-massa e sentindo-se como tal, não mais precisa apelar para integração, pois agora sente-se soberano de sua própria vida. O homem seleto ou excelente faz apelo apenas para dentro de si e também para algo externo a ele, uma norma. É diferente do homem vulgar, o qual não exige nada de si mesmo, contentando-se apenas com o que é e está encantado consigo mesmo.

Parafraseando Burke, citado por Theodore Dalrymple, para ter êxito, basta ao barbarismo esperar que a humanidade civilizada não faça nada.

Quando agrupados, pais e filhos desconhecem o que Nelson Rodrigues já tinha deixado dito: A unanimidade é burra. Preferem a sensação temporária e líquida (Baumann que o diga) a viver do espírito. Mal sabem que desta forma estão dando comida para os próprios porcos se jogarem no princípio, pois assim está escrito: Os demônios imploraram a Jesus: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. Ele lhes deu permissão, e os espíritos imundos saíram e entraram nos porcos. A manada de cerca de dois mil porcos atirou-se precipício abaixo, em direção ao mar, e nele se afogou.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.