Semana passada vimos mais um lamentável episódio de informações desencontradas dos principais membros do governo sobre a reforma previdenciária, a pauta prioritária de Bolsonaro. Com direito a vazamento e tudo, uma proposta mais firme do que o esperado chegou a animar investidores, com razão: ela endureceria com os privilegiados do setor público, lembrando que o sistema atual transfere recursos dos mais pobres para os mais ricos.
Além de uma idade mínima igual para homens e mulheres, o que parece justo e alinhado ao fervor igualitário feminista (até porque as mulheres vivem mais em média), a proposta falava em equiparar benefícios dos trabalhadores vinculados ao INSS e servidores públicos, incluía os militares e criava o sistema individual de capitalização. Trata-se de modelo não só mais justo, já que cada um recebe de acordo com o que efetivamente poupou, como também mais sustentável, já que o atual não passa de um esquema de pirâmide.
Não demorou, porém, para que houvesse reações, em especial de Onyx Lorenzoni. A sensação cada vez mais visível é a de que Paulo Guedes atua com sua equipe para apresentar uma reforma profunda e necessária, enquanto outras alas do governo tentam desidrata-la antes mesmo de ela chegar ao Congresso.
Ora, assumindo que várias emendas serão inevitáveis no trâmite parlamentar, qualquer pessoa ligada na arte da negociação entende que a proposta deveria chegar a mais dura possível nessa primeira fase. Se os próprios aliados de Bolsonaro já se esforçam para que uma proposta tímida seja oficialmente apresentada, claro que o mercado vai esperar um resultado final muito aquém do necessário. E isso é péssima notícia para a economia e para o Brasil.
Onyx pode ter demonstrado força na derrota de Renan Calheiros, mas seria bom não confundir o sentimento anti-Renan com a capacidade de articulação para formar maioria e aprovar reformas. O que algumas pessoas começam a se perguntar é se o projeto de certos membros do núcleo duro do governo é um de nação ou de poder. Eduardo Bolsonaro estaria criando até um partido novo, sob influência do populista Steve Bannon, que nem Trump quis manter em seu governo.
Para essa turma jacobina, um clima de constante antagonismo contra inimigos, reais ou imaginários, é peça crucial do seu tabuleiro de xadrez de olho em seu futuro político. Mas o Brasil precisa é de empregos e crescimento, o que só será possível estancando a sangria fiscal. E isso depende de uma reforma estrutural mais séria que, por sua vez, exige uma articulação política melhor e uma firmeza maior na hora de comprar as brigas certas. Não há indícios de que esse seja o caso. Guedes enfrenta forte resistência interna. Nem precisa dos inimigos externos, que virão em peso…
Rodrigo Constantino
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