Para ser brasileiro, para continuar sendo brasileiro, só mesmo aderindo ao estoicismo, a filosofia grega que prega o esforço de se manter imune ao infortúnio. O sujeito tem sua calma colocada à prova todo instante, mas não sucumbe, permanece impassível, apostando num futuro melhor. Atravessa até mesmo a era lulopetista, e não desiste. Convive com o caos da insegurança carioca, e resiste. É um ato de fé, sem dúvida.
Li esses dias a incrível aventura de Shackleton na Antártica em 1915, relatada por Alfred Lansing. O livro é bastante badalado por conta das lições de liderança do chefe da expedição, que foi capaz de fazer o impossível para garantir a sobrevivência de todos os tripulantes do navio que ficou preso nas geleiras. Mas, acima de tudo, é uma história de resistência, como diz o próprio nome da embarcação e do livro: Endurance.
O que aqueles quase trinta homens enfrentaram não é sequer possível de imaginar. Vários meses de privação das coisas mais básicas, que consideramos um dado da natureza, mas é, na verdade, uma conquista da civilização. Foram expostos a uma situação de morte iminente constante, de dor e sofrimento, fome e frio, testando ao limite seu desejo de viver. Shackleton tinha uma só obsessão: levar sua equipe de volta à civilização.
O Brasil tropical não ficou preso num enorme iceberg. Mas ficamos presos em ideologias ultrapassadas, que impedem o avanço de nosso País, que ameaçam constantemente afundar de vez nossa nação. Como aconteceu com a vizinha Venezuela, sob o comando de uma esquerda jurássica que ainda encontra muitos adeptos por aqui. A começar pelo próprio Lula, capitão do time que quase conseguiu levar o Brasil ao naufrágio.
O que espanta é a rapidez com a qual somos capazes de nos acostumar a um estado de barbárie. Mas se não perdermos de vista o objetivo de retornar à civilização, podemos encontrar forças que desconhecemos possuir. Decisões muito difíceis, porém, precisam ser tomadas. Shackleton teve a coragem de tomá-las, e foi isso o que os salvou. O imobilismo, diferente de saber a hora de esperar por uma melhor oportunidade, pode ser fatal. A escolha de sacrifícios duros pode ser a única saída nessas situações.
O Brasil também enfrenta desafios gigantescos ao progresso. Não temos livre mercado, império das leis, garantia de propriedade privada ou uma cultura de meritocracia. Precisamos usar o que temos no momento, e fazer as escolhas inevitáveis. Cortar na carne, retirar privilégios, enfrentar os marginais, como os homens de Shackleton enfrentaram as feras da Antártica. É isso ou morrer. Se resistirmos, poderemos chegar vivos do outro lado. Mas não sem dor e sofrimento. Não sem sacrifícios e medidas radicais.
Artigo originalmente publicado na revista IstoÉ
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