Por Marcel Balassiano, publicado pelo Instituto Liberal
O ano de 2016, que se encerra nos próximos dias, foi muito intenso, tanto no Brasil quanto no mundo. Por aqui, crise política, econômica, ética… Mas, apesar de tudo isso, acredito que estamos numa melhor fase agora e com perspectivas mais positivas para o próximo ano do que estávamos no fim de 2015.
Ano passado a economia recuou, em termos reais, 3,8%. A inflação foi de dois dígitos (10,7%), em grande medida por causa dos preços administrados, que tem um peso de 25% na inflação total e cresceu 18,0%. Isso ocorreu em função do represamento desses preços no passado (uma das medidas da “Nova Matriz Econômica”), tais como gasolina, energia elétrica, entre outros. No fim do ano passado, a taxa nominal de câmbio estava em R$ / US$ 3,96 e o CDS de 5 anos (medida que avalia o risco) estava em quase 500 pontos, contra 225 pontos de uma média de países emergentes selecionados (México, Turquia, Colômbia, Chile, Peru e África do Sul). Os índices de confiança, calculados pela FGV, apresentavam grandes quedas em 2015 em relação ao ano anterior (dezembro de 2015 comparado com dezembro de 2014). O índice de confiança do consumidor recuou 24,1%; o da indústria caiu 12,8%; e o de serviços apresentou uma queda de 20,6%. A taxa de desemprego estava em 9,0%, e os juros nominais (Selic), estavam em 14,25%.
As perspectivas para 2016 no fim de 2015 também não eram nada favoráveis. De acordo com a mediana do último Boletim Focus de 2015, o crescimento real do PIB seria de -3,0%, com uma inflação de 6,9%, portanto, novamente acima do limite superior do intervalo de tolerância. A taxa de câmbio estaria em R$ / US$ 4,21, e a Selic em 15,25%. Vale frisar que nessa época do ano, o cenário de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff não era o cenário principal. No fim do ano passado, a ex-presidente estava substituindo o comando da Fazenda, trocando o ex-ministro Joaquim Levy por Nelson Barbosa.
Em termos políticos, em 2016 houve o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, assumindo a Presidência da República o seu vice, Michel Temer, que reformulou totalmente a área econômica, substituindo Nelson Barbosa por Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda e Ilan Goldfajn no lugar de Alexandre Tombini na presidência do Banco Central, entre outros cargos. Essas mudanças foram vistas de forma positiva, tanto pelo mercado quanto pela maior parte dos analistas.
Esse ano a economia deve ter recuado, em termos reais, 3,5% (o dado final será divulgado pelo IBGE no começo de março de 2017). A inflação apresentou uma grande queda, dos quase 11,0% de 2015 para algo próximo de 6,5% esse ano (o dado final da inflação será divulgado pelo IBGE em janeiro de 2017, mas o IPCA-15 já conhecido, mostrou que a inflação de 2016 foi de 6,6%). A taxa nominal de câmbio, que chegou ao máximo em 2016 de R$ / US$ 4,16 em 21 de janeiro e o mínimo de R$ / US$ 3,11 em 25 de outubro, está atualmente no patamar de R$ / US$ 3,30. O CDS de 5 anos caiu mais de 200 pontos no Brasil, contra uma queda de 50 pontos da média de países emergentes (final de 2016 comparado com o final de 2015). Apesar da piora nos últimos meses, os índices de confiança da FGV apresentaram altas em 2016 em comparação com 2015 (dezembro de 2016 comparado com dezembro de 2015). O índice de confiança do consumidor subiu 12,7%; o da indústria aumentou 11,3%; e o de serviços apresentou uma alta de 11,5%. A taxa de desemprego, uma das últimas variáveis a entrar na crise e a sair dela também, está próximo de 12,0%. Esse ano houve duas quedas de 0,25% da Selic, encerrando o ano em 13,75%, depois de ficar mais de um ano estável em 14,25% (entre 30/07/2015 até 19/10/2016).
Além disso, foi aprovada no Congresso a Emenda Constitucional que limita o crescimento do gasto público ao longo dos próximos dez anos. Com isso, o crescimento da despesa primária do governo central será corrigido pela inflação do ano anterior, ou seja, crescimento real próximo de “zero”. Isso era importante de ser feito, visto que o país se encontra num desequilíbrio fiscal, onde a dívida bruta do governo geral, por exemplo, passou de 52,4% do PIB no começo do governo Dilma para 70,5% em novembro desse ano. Outro ponto positivo e muito importante foi a apresentação de uma proposta de reforma do sistema previdenciário abrangente, que deverá ser votada pelo Congresso no ano que vem.
Segundo a mediana do último Boletim Focus, em 2017, o PIB deve crescer, em termos reais, 0,5%. A inflação prevista para o ano que vem é de 4,85%, e 4,5% para 2018, mostrando que as expectativas de inflação novamente estão ancoradas. Sob a gestão de Tombini na autoridade monetária, nem as expectativas de inflação para 2020 estavam na meta! Ou seja, o mercado acreditava que o BC, sob a presidência de Alexandre Tombini, nunca iria cumprir o objetivo de colocar a inflação na meta. Para a taxa de câmbio, a estimativa é de R$ / US$ 3,50, e a Selic em 10,5%, ambas para o fim do ano.
Em resumo, em 2017 devemos sair da maior recessão da história brasileira, com a inflação convergindo para a meta, e a continuação da redução dos juros. Na parte fiscal, teremos pela primeira vez um limite do crescimento do gasto público, e a perspectiva da reforma da previdência. Com isso, a taxa de desemprego, que ainda não chegou no seu pico, poderá começar a trajetória de queda. Ainda há muito a ser feito, mas o horizonte é melhor do que observávamos há um ano atrás! Feliz 2017!!
Sobre o autor: Marcel Balassiano é mestre em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE) e bacharel em Economia pela Escola Brasileira de Economia e Finanças (EBEF), ambas da Fundação Getulio Vargas (FGV).
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