O iluminismo racionalista deixou a “Idade das Trevas” e seu obscurantismo para trás. Ao menos é nesse progresso que muitos acreditam. O problema é que, com a “morte de Deus”, colocaram qualquer coisa em seu lugar. E uma dessas coisas foi justamente a ciência — ou melhor: o cientificismo, que é sua deturpação.
É curioso que os “progressistas” tratem muitos conservadores como supersticiosos tacanhos que creem no criacionismo, ao mesmo tempo em que negam a ciência em diversas áreas do saber. Por falta de espaço, não teremos como aprofundar o tema. Mas alguns exemplos ajudam na reflexão.
O mais destacado talvez seja o ambientalismo radical. A esquerda jura falar em nome da ciência quando alerta para os iminentes riscos catastróficos do “aquecimento global”, desqualificando qualquer um mais cético com tanto alarde. Não importa que já tenha virado “mudanças climáticas”, expressão mais vaga que permite incluir tudo que ocorre no clima — sempre em mutação.
Seguir o dinheiro e compreender os interesses políticos por trás de tanta histeria tampouco interessa. Em nome da ciência, os ecoterroristas desprezam os princípios mais básicos da ciência, como a importância de refutar em vez de comprovar uma tese, e acabam substituindo-a por uma ideologia. O mesmo acontece com outras questões. A paranoia com os “agrotóxicos” (defensivos agrícolas) e a seita que se criou em torno dos alimentos orgânicos só podem ser entendidas como uma revolta contra a ciência. Em “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo”, Nicholas Vital mostra como é preciso fechar os olhos para os fatos para continuar nessa cruzada contra os defensivos agrícolas.
Ainda no mesmo setor, os ataques aos alimentos transgênicos é puro obscurantismo “natureba”. A seita dos veganos também declara guerra à proteína animal e, com isso, atenta contra a ciência. Tem gente que condena vacinas ou remédios das gigantes farmacêuticas, pois acha que o “natural” é sempre melhor. O que dizer da ideologia de gênero, que ignora toda a teoria da seleção natural darwinista e sua influência no comportamento distinto dos sexos? É pura revolta contra a biologia negar as diferenças entre macho e fêmea, inclusive em nossa espécie.
Por outro lado, há os que se agarram à “ciência” para manter a esperança na vida eterna, e acreditam na imortalidade com base em algoritmos e inteligência artificial. São os fãs de Yuval Noah Harari, por exemplo, que abraçam a missão prometeica do “Homo Deus”. Ciência? Ou cientificismo?
São diversos casos, mas o leitor pegou o ponto central. Na arrogância cientificista, muitos acham que abandonaram as superstições obscurantistas, apenas para mergulhar de cabeça em outras. Será que é a direita mesmo que virou as costas ao progresso científico?
Artigo originalmente publicado pela revista IstoÉ
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