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Revolução liberal? Graças à social-democracia?! Precisamos ficar atentos!

Por Claudir Fanciatto, publicado pelo Instituto Liberal

Os leitores da Ilustrada da Folha de S.Paulo, notadamente os que se debruçam sobre a última página lendo os articulistas que ali se revezam diariamente, correram o risco, nesta quinta-feira, dia 16, de se perderem intelectualmente. O psicanalista Contardo Calligaris, opinando fora de sua área de atuação, monta uma salada indigesta e comete inúmeros erros semânticos, históricos, políticos e filosóficos. Vejam este trecho:

Na minha juventude, parecia-me que todos, por mais que nossas aspirações discordassem, compartilhávamos um fundo comum: os ideais da revolução liberal (francesa e americana) do fim do século 18.

Aliás, engraçado notar que é dessa revolução que nos veio a ideia de que haveria um progresso inevitável da razão, a qual promoveria o fim das castas, a primazia do indivíduo sobre qualquer entidade coletiva (família, tribo, nação, torcida etc.), o Estado laico, um novo Código de leis (pelo qual só seria proibido o que fosse qualificado como crime) e (nos limites desse código) uma liberdade absoluta de comportamento, pensamento e expressão.

Melhor que ele ficasse num âmbito mais lacaniano, cujo provável mestre (dele), em suas fendas, brechas e hermetismo quase chegado ao secretismo, não afetaria a realidade de ninguém com seu conhecimento inútil. Pois ao falar em “revolução liberal” engendrada na França e nos Estados Unidos no século XVIII, nosso anárquico-psicólogo faz algo que só pode ser definido na gíria: viajou na maionese! Grotescamente!

Primeiro: deixando para o final esse negócio de “progresso da razão”, chamo a atenção para o fato de ele misturar as palavras ”revolução” e “liberal” num mesmo termo, o que já é uma heresia político-filosófica. Os verdadeiros liberais sabem que revolução não serve para ninguém. Destruir o passado para colocar algo inteiramente novo no lugar descamba sempre da utopia para a distopia. Os liberais de verdade acreditam na ordem espontânea da qual brotam a evolução moral, cultural e econômica. Típica de uma formação capitalista liberal, o único sistema que dá certo e gera empregos mais oportunidades num ambiente de liberdade e leis inteligentes. Concordo com Von Mises quando ele afirmava que buscamos, nós, os liberais, a evolução do capitalismo liberal. E estou de acordo também com Roberto Campos, quando dizia sempre: “O problema da palavra revolução está na letra ‘r’”.

Segundo e mais grave ainda: colocar num mesmo plano conceitual as chamadas revoluções francesa e americana é de um desconhecimento histórico-político imperdoável. E replica uma das tendências culturais mais perversas no Brasil. O bem-sucedido projeto gramiscista de implantação da cultura marxista-socialista nos meios formadores de opinião obteve um dos caminhos mais vitoriosos com a francofilia dos professores universitários da área de humanas. Ao invés de se apegarem à visão efetivamente liberal dos ingleses, com Edmund Burke e que tais, adotaram a falsa “liberdade, igualdade e fraternidade” rousseauniana e sua esteira de atrocidades jacobinas como ponto de partida para o ensino de história e cultura. Como se ambos os movimentos políticos, o francês e o americano, lutassem efetivamente por uma cultura liberal.

O que aconteceu no solo americano naquele tempo foi a confirmação de uma visão de liberdade a partir do que já apregoavam os pais fundadores. Nas escolas brasileiras, se ensina até hoje que as diferenças entre a “revolução francesa” e a “revolução americana” são apenas factuais. Buscavam objetivos históricos de libertação diferentes, mas eram ambas liberais. Confusões conceituais difundidas de propósito. Tudo se resumiria à emancipação da burguesia em sua “luta pelo poder”.

Acompanhemos outro trecho do artigo:

Um embate de dois séculos para nada, então? Não, porque o resultado foi que, por lutas e pressões sucessivas, as condições de vida de milhões de indivíduos melhoraram. E hoje quase não há economias capitalistas sem preocupação social. Vivemos em sociais-democracias.  Francis Fukuyama, ainda nos anos 1980, anunciou que esse era o fim do conflito interno essencial da história do Ocidente, a qual, portanto, terminava (“O Fim da História e o Último Homem”, Rocco, 1992).

Eis aí, igualmente, uma série de armadilhas inconscientemente instaladas, como se a mente desse articulista fosse uma antena que captura e transmite os enganos e falácias sob o manto do intelectualismo.

Primeiro: quem lê esse pedaço do texto entende que a vida das pessoas sob o capitalismo melhorou porque há preocupações sociais dentro do sistema. Ou seja, esse sistema perverso sofre correções graças à intervenção de um Estado socorrista. Não, essa mentalidade socialista não consegue aceitar o fato de que avida melhorou simplesmente porque existe o capitalismo. Um sistema que só funciona se tiver como base a liberdade do agente criador de riquezas, a livre iniciativa, o respeito à propriedade, a competição dinâmica que conduz à criação infinita, etc.. Para que o leitor deste artigo fique melhor informado, reproduzo um parágrafo do livro Arrogância Fatal de F. A. Hayek, bastante esclarecedor:

(…) a moral, incluindo especialmente as nossas instituições da propriedade, liberdade e justiça, não são uma criação da razão humana mas um segundo dom distinto que lhe foi concedido pela evolução cultural -contrasta com a visão intelectual preponderante no século XX. A influência do racionalismo foi na realidade tão profunda e abrangente que, em geral, quanto mais inteligente é uma pessoa instruída, maior é a probabilidade de que ela seja não apenas racionalista, como também que tenha posições socialistas (independentemente de ser bastante doutrinária para rotular de alguma forma suas posições, inclusive como ‘socialistas’). Quanto mais subimos na escala da inteligência, quanto mais falamos com intelectuais, maior a probabilidade de encontrarmos convicções socialistas. Os racionalistas tendem a ser inteligentes e intelectuais e os intelectuais inteligentes tendem a ser socialistas.

Está explicado o porquê de aquele articulista mencionar o “progresso da razão”? Por fim, a todos os que defendem a social-democracia e o welfare state – o Estado de bem-estar social -, eu sempre respondo com algumas perguntas: de onde vem o dinheiro para essas benesses todas? E quando esse dinheiro acabar? O seu capitalismo de Estado estará em condições de responder à crise? Difícil eles entenderem que a verdadeira justiça “social” é a geração de riquezas e empregos/oportunidades. A ordem espontânea do capitalismo liberal. A desigualdade existirá eternamente, porque ela é espontânea e não fabricada. A igualdade jamais existirá, porque ela não é espontânea e impossível de ser fabricada. Precisamos ficar atentos!

Sobre o autor: Claudir Franciatto é jornalista e escritor, autor de 12 livros, entre eles A Façanha da Liberdade (1985), O Desafio da Liberdade (1996) e O Círculo do Bem e a Teologia da Prosperidade (a sair em 2018).

 

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