Cem anos do golpe perpetrado por bolcheviques brutamontes, idolatrados por “intelectuais” ocidentais. Segundo o professor João Espada, “simplesmente a maior fraude intelectual e moral do século XX”. E não há como discordar. Ao lado do nacional-socialismo e do fascismo, o socialismo/comunismo pretendeu destruir a democracia liberal capitalista, grande marco da civilização ocidental. O professor Espada elabora o ponto:
Em primeiro lugar, não se tratou de uma revolução popular, mas de um mero golpe armado promovido por uma minoria fundamentalista que nunca convocou e respeitou eleições livres.
Em segundo lugar, não se tratou sequer de um golpe contra um regime despótico. O regime czarista tinha sido deposto em Fevereiro desse mesmo ano de 1917. Um regime constitucional parlamentar dava os seus primeiros passos na Rússia e preparava eleições livres.
Por outras palavras, a tão badalada ‘esperança emancipadora’ da revolução soviética resumiu-se a uma sublevação armada para impedir a tentativa de consolidação de uma democracia parlamentar na Rússia. Traduziu-se depois na criação de um regime sanguinário que procurou exportar para a Europa o mesmo desrespeito fundamentalista pelas regras imparciais do constitucionalismo democrático.
Esta tentativa de exportação do fundamentalismo comunista acabou por gerar outros fundamentalismos de sinal contrário: o nacional-socialismo e o fascismo. Todos eles são expressão da mesma revolta primitiva contra a sociedade aberta e pluralista — da qual todos eles inicialmente fizeram o seu principal inimigo. E em comum desencadearam a II Guerra, em Setembro de 1939, através da invasão combinada da Polónia pela Alemanha nazi e pela Rússia comunista.
O verniz de “ciência” que Marx emprestou ao socialismo, uma ideologia perversa calcada na inveja e no ressentimento, fez com que muitos “intelectuais” pudessem se sentir do “lado certo” da história, uma vez que a “superação do capitalismo” era inevitável (mas, em contradição, precisava de uma mãozinha sangrenta dos revolucionários).
Além do mito das “leis da história”, refutado por Karl Popper, Espada aponta para o relativismo niilista, a “doença infecciosa do século XX”, que produziu milhões de vítimas de governos totalitários sem escrúpulos. O “moralismo burguês” passou a ser considerado ultrapassado, e em seu lugar entrou uma espécie de “vale tudo” pela chegada do “futuro inexorável”, o “paraíso terrestre”.
Um culto ao poder não encontrou freios em amarras morais, e o resultado foi a tragédia que vimos nos países dominados pelo socialismo, o nazismo e o fascismo. Nietzche teve sua parcela de responsabilidade ao espalhar essa mentalidade mundo afora. Espada conclui:
Foi este culto do poder sem restrições morais que deu lugar à política violenta dos ‘camaradas’ — uns de punho fechado, outros de braço estendido, todos aos gritos estridentes contra o capitalismo democrático. Mas esse culto fundamentalista foi derrotado pela tranquila resistência da civilização ocidental — fundada na liberdade ordeira sob a lei e no Governo representativo que prestas contas ao Parlamento.
Governo representativo, democracia às vezes “entediante” e até medíocre, limite constitucional ao poder estatal, e um mecanismo de pesos e contrapesos com base na divisão e descentralização de poder: eis a receita liberal que deu certo, de forma relativa, ao longo dos tempos. E era exatamente isso que os coletivistas totalitários adeptos das três ideologias – comunismo, nazismo e fascismo – quiseram e ainda querem destruir.
Rodrigo Constantino
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