Parece que um rapaz “causou” na formatura do ITA com seus trajes “despojados”, digamos assim. Soube do caso muito en passant, mas vi um comentário de Bene Barbosa tão preciso sobre o assunto que resolvi dar destaque aqui:
Esse é o rapaz que “causou” na formatura do ITA. Não se trata de ser gay, travesti ou seja lá o que for. Trata-se de respeito a uma ocasião, a um evento, a uma convenção. Ele iria no enterro da mãe vestido assim? Duvido muito. Não se trata de liberdade, se trata de respeito e seriedade. Esse é o retrato do mundo: um bando de revolucionários Toddynho, com as contas pagas pelo papai e pela mamãe que se acham no direito de destruir tudo que o fez chegar aqui. É o homem massa, brilhantemente descrito por Ortega y Gasset.
Sobre essa mania de parecer molambo como se fosse um statement, um ato político corajoso e revolucionário contra a “burguesia” careta, escrevi em Esquerda Caviar:
Em A elegância do ouriço, Muriel Barbery usa uma das narradoras, uma menina muito inteligente de 13 anos, para descrever o desconforto com essa atitude de sua mãe. Elas moram em um endereço de luxo em Paris, repletas de conforto. Não obstante, sua mãe vive a pregar o socialismo, entre uma conversa e outra com suas plantas. E claro, mesmo depois de dez anos de terapia, ela ainda precisa tomar remédio para dormir…
O autor coloca na outra narradora da história, uma concierge humilde, porém extremamente culta, as palavras de desprezo em relação ao grupo de riquinhos mimados que tentam aparentar um estilo artificial de pobreza cool:
Se tem uma coisa que abomino, é essa perversão dos ricos que se vestem como pobres, com uns trapos que ficam caindo, uns bonés de lã cinza, sapatos de mendigo e camisas floridas debaixo de suéteres surrados. É não só feio mas insultante; nada é mais desprezível que o desprezo dos ricos pelo desejo dos pobres.
No entanto, basta frequentar uma faculdade privada para ver a quantidade de jovens que aderem a esse estilo “riponga”, com suas camisetas do Che Guevara, apenas para entrar depois em seus carros importados do ano. São os “revolucionários de Facebook”, que escrevem em seus perfis da rede social americana o quanto odeiam o sistema capitalista americano e o lucro que tornou o instrumento viável.
Theodore Dalrymple escreveu em um de seus livros que gostava de respeitar certas tradições e cerimônias, sendo uma delas o hábito de se vestir à rigor para enterros. Na pior das hipóteses, ao menos seria uma forma de demonstrar que tal evento não era tão trivial quanto ir ao cinema ou comer uma pizza. Exigia um grau de esforço maior, uma postura adequada diante da ocasião.
Mas o respeito aos outros, à ocasião, está aí algo a que essa turma “progressista” não liga a mínima. Ela precisa “chocar”, e faz isso pendurando uma melancia no pescoço, como dizia a geração anterior. Tudo para chamar a atenção, para se sentir o rebelde, aquele que desafia as tradições e demonstra ser independente, diferente. Claro que, na prática, esses são os mais inseguros e parecem produzidos em série. Mal sabem que são totalmente estereotipados ao agir dessa maneira. São tantos iguais, que se acham tão diferentes…
Rodrigo Constantino
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