A pequena São José do Vale do Rio Preto registrou, durante todo o ano, seis roubos, uma impressionante média de um caso a cada 50 dias. Mas é justamente a violência o pesadelo que vem tirando o sono de produtores, comerciantes e trabalhadores da pacata cidade da Região Serrana. Isso porque metade de sua economia é movimentada pelos abatedouros, que enviam 80% de tudo o que produzem — cerca de 600 mil aves por semana — para o município do Rio de Janeiro.
Negócio garantido, pelo menos, até o ano passado. De lá para cá, a entrega de mercadorias virou uma roleta russa, a ponto de ameaçar o mais promissor setor de produção local. A descida da serra é quase uma certeza de prejuízo. O Estado do Rio já contabiliza 30 roubos de carga por dia, a maioria na Região Metropolitana. Dados da Polícia Civil mostram que os gêneros alimentícios tornaram-se os principais alvos dos ladrões, junto com bebidas e cigarros. Se antes esse tipo de crime era praticado por quadrilhas especializadas, agora tornou-se braço financeiro do tráfico de drogas.
Em 2013, foram 3.534 roubos de carga no estado. Desde então, os números não param de aumentar: 5.890 registros, em 2014; no ano passado, 7.225 e, até outubro deste ano, 7.439 ocorrências. Estimativas da Polícia Civil e do Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga) mostram que devem fechar 2016 em nove mil casos. Um crescimento de 154,66% nos últimos quatro anos.
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O Polo Empresarial da Pavuna (PEP), com 36 empresas, fica em uma das regiões mais atingidas pelo roubo de cargas e instalou câmeras de alta definição em 20 pontos de maior incidência do crime. Não há um único dia, em que o equipamento não grave flagrantes da ação dos assaltantes.
— A gente nunca imaginou que pudesse chegar a esta situação, que se agravou principalmente a partir do meio do ano. E agora esses crimes estão atingindo números inaceitáveis e extremamente prejudiciais à economia do estado. Nós já aumentamos em 60% os gastos com segurança. Nossas imagens são compartilhadas entre as empresas e também com a polícia na tentativa de ajudar no controle desse grave problema. São prejuízos milionários, sem contar que, com o trauma, motoristas muitas vezes têm que se afastar do trabalho e demoram a retomar suas atividades — contou o presidente do Polo da Pavuna, Marcelo Andrade.
Esse tipo de reportagem, que expõe a triste realidade do Rio, vale mil vezes mais do que as notícias deturpadas sobre a morte do filho da funkeira Tati Quebra Barraco. O mesmo jornal GLOBO é capaz de produzir uma reportagem com dados objetivos como esses acima, ilustrando o absurdo da criminalidade descontrolada no estado, e manipulações grotescas que pintam o filho da funkeira, que era marginal e estava armado, como a vítima em questão, transformando os policiais em algozes.
Reparem que as notícias sobre a morte do jovem falam em assassinato, em crime, com destaque nas manchetes, e só lá dentro, perdido no meio de um monte de coisas, descobre-se se tratar de um bandido. O jornal dá destaque ainda para as “desumanas mensagens de ódio” que a funkeira teria recebido, sem explicar que foi uma reação às acusações que ela fez contra a polícia. O povo está simplesmente cansado, saturado dessas inversões todas, que tratam bandidos como “vítimas da sociedade”.
E basta ler com atenção essa reportagem acima para entender o motivo. O Rio está largado às traças, dominado pelo crime, tomado pelo caos. A operação de logística, que deveria ser complexa apenas pelos aspectos comerciais, torna-se uma aventura infernal no estado. As empresas precisam acrescentar às planilhas de custo fixo um montante para perdas com roubos, e os motoristas vivem aflitos, tensos, angustiados, não pelo trabalho em si, que já seria cansativo, mas pela insegurança total.
É um ato de heroísmo ou maluquice empreender num lugar desses. O empresário está sujeito a todo tipo de abuso pelas autoridades, sob leis arbitrárias e fiscais corruptos, asfixiado por uma burocracia insana e sufocado pelo peso dos infindáveis impostos, tendo de utilizar uma mão de obra pouco qualificada, uma infraestrutura capenga, e ainda por cima sob o controle de bandidos.
E, como se não bastasse tudo isso, depois ainda tem que aturar os “intelectuais” e artistas engajados condenando o lucro, o empresário “explorador”, enquanto esses mesmos bandidos, no poder ou fora dele, são retratados como as vítimas ou os heróis. E essa turma ainda quer desarmar o cidadão inocente, tirar-lhe o direito de legítima defesa. É muita inversão! É muito cansativo. Sim, o Brasil cansa, e o Rio cansa em dobro. Para a beautiful people, a dor da funkeira importa muito mais do que aquela de todas as vítimas desses marginais que atormentam o estado.
Mas o povo pensa diferente. Sempre que tiver de escolher entre a dor da mãe do policial ou do motorista de caminhão, e a dor da mãe dos bandidos, escolherá a última. E com toda razão.
Rodrigo Constantino
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