Miriam Leitão é e sempre será uma eterna esquerdista incapaz de exorcizar seus fantasmas do passado comunista. Evoluiu um pouco aqui, regrediu um pouco acolá, mas a essência continua a mesma: sempre dá um jeito de proteger os socialistas e atacar a direita. Em sua coluna de hoje, ela teve a cara de pau de eximir o socialismo da desgraça venezuelana. Para a jornalista, o problema com a Venezuela é o “autoritarismo”, não o socialismo. Diz ela:
O risco Venezuela sempre esteve associado ao PT, e o partido fez por merecer, mas na verdade o perigo não é de direita nem de esquerda. É do autoritarismo.
A ameaça sobre a democracia atualmente não é a de um assalto. É a de ver seus pilares minados por atos de um governante populista e autoritário como foi Chávez. O ataque se dá por aproximações sucessivas e não mais como vimos nos anos 1960 no Brasil. Hugo Chávez tentou um golpe no estilo clássico, em fevereiro de 1992. Alegava ser contra a corrupção. Conseguiu o apoio de uma parte das Forças Armadas, mas fracassou. E esse Chávez é que recebeu elogios de Jair Bolsonaro. O coronel foi preso, indultado, mas, em 1998, chegou ao Miraflores pelo voto, dizendo que faria uma revolução socialista. E foi esse Chávez que recebeu o apoio do PT.
Ao contrário do que acha o PT, não existe ditadura do bem. É o que o chavismo mostrou. Fui à Venezuela em 2003. Havia uma greve geral no país, comandada por empresários, contra o governo. Eu o entrevistei no Miraflores. Era uma presidência militar. Ele vivia cercado de militares de alta patente em seu gabinete e ministério. O ambiente no Palácio me lembrou o clima do Planalto na ditadura brasileira. Chávez brandia a Constituição que acabara de aprovar. E depois mudou várias vezes. Ele já havia alterado a composição do Conselho Nacional Eleitoral. Depois fez o mesmo com a Suprema Corte. Perseguiu e fechou órgãos de imprensa. Sua escalada sobre a ordem constitucional se deu por mecanismos que pareciam democráticos: quando a economia melhorava, as benesses com o dinheiro do petróleo aumentavam, ele convocava um plebiscito. Os que perdia, não respeitava. Os que ganhava, aumentavam seus poderes e enfraqueciam um pouco mais a democracia venezuelana, até que nada restou dela. Mas o ex-presidente Lula chegou a dizer que havia “excesso” de democracia na Venezuela. O PT apoiou o regime venezuelano de diversas formas, fingindo não ver seu caráter cada vez mais autoritário. Jair Bolsonaro, que se identificara com aquele coronel impulsivo, passou a criticá-lo quando ele se definiu como socialista, mas nunca reprovou seus métodos antidemocráticos.
Miriam Leitão, ao focar apenas na questão da democracia, deixa de lado todo o aspecto da ideologia por trás dessa concentração de poder. Não vem ao caso, aqui, rebater se há ou não “ditadura do bem”, ainda que seja público e notório o abismo entre os resultados do regime de Pinochet no Chile e de Fidel Castro em Cuba. O ponto é que o autoritarismo era somente uma parcela do regime chavista, e nem de perto a mais relevante. Miriam foca nesse lado só para atacar Bolsonaro, e proteger o PT, aliado até hoje de Maduro.
O que matou a democracia venezuelana pode ter sido os truques autoritários de Chávez, mas o que matou a nação de vez foi o socialismo que ele aplicou com esse poder concentrado. Ou seja, o que é responsável pela destruição total do país, com hiperinflação, desemprego geral e violência fora de controle, não é o autoritarismo em si, por mais condenável que seja, e sim o plano econômico socialista, a estatização de tudo, o fim do mercado.
Bolsonaro tem ao seu lado o economista liberal Paulo Guedes, que prega o oposto disso. Miriam Leitão ignora de forma conveniente esse “detalhe”. Já o PT quer seguir nos passos chavistas, não só no aspecto antidemocrático, como também – e principalmente – no aspecto socialista, asfixiando o mercado. Uma jornalista que fala tanto de economia deveria entender melhor o que efetivamente destruiu o país vizinho. Mas a ideologia de Miriam Leitão a impede de enxergar o óbvio bem diante de seus olhos.
Rodrigo Constantino