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Rodrigo Maia: discurso institucional e liberal, mas dá para acreditar?

Tenho implicância com Rodrigo Maia. Melhor abrir o texto logo assim, para não deixar margem a desentendimentos. Sou do Rio, acho que Maia sempre foi um sujeito medíocre, que escalou na política usando o nome do pai.

Dito isso, parece inegável que ele conquistou luz própria. Presidente da Câmara em seu terceiro mandato, capaz de articular até com os mais radicais à esquerda, Maia demonstrou grande pragmatismo e um senso de prioridades bastante aguçado.

Virou, por exemplo, um dos maiores defensores da Nova Previdência, aproximando-se muito de Paulo Guedes. E também adotou uma postura condizente com o cargo que ocupa, ou seja, tem sabido valorizar a importância do Poder Legislativo, apesar de um Congresso em crise de credibilidade.

Na entrevista que concedeu a Carlos Andreazza para a Jovem Pan, tudo isso salta aos olhos. Maia se saiu bem, compreende o papel do Parlamento, sabe que o “centrão” serve como uma espécie de poder moderador entre os extremos, e respeita a pauta vencedora nas urnas, ainda que lembre que isso não quer dizer vitória absoluta.

Articular, contemporizar, ceder: tudo isso é parte da política, o que os revolucionários mais afoitos não aceitam. Entende-se a angústia: o “centrão” tem muito corrupto e fisiologismo, e no fundo pretende sabotar as reformas.

Em parte isso deve ser verdade, mas eis o ponto: se esse grupo impede uma agenda mais radical à direita, também impediu que o PT transformasse o Brasil numa Venezuela. O Congresso não é nenhuma maravilha, mas é o que temos numa democracia. É preciso jogar com as cartas na mesa.

Rodrigo Maia se diz parlamentarista, mas afirma que rejeitou qualquer proposta sobre isso no começo do mandato de Bolsonaro, pois pareceria uma tentativa de golpe. Vale a pena ouvir a entrevista na íntegra:

E antes que algum bolsonarista fanático venha me atacar ou atacar Andreazza, vale mostrar o que o empresário Luciano Hang, bastante ligado ao bolsonarismo, comentou ainda há pouco:

Espera-se que Hang tenha razão, e que Maia realmente faça o que estiver ao seu alcance para aprovar uma reforma sem muita desidratação. O Brasil precisa disso. E, como dizia Deng Xioping, não importa a cor do gato, desde que ele pegue o rato. Maia não é um ícone do liberalismo, mas tem demonstrado alinhamento com a pauta de Guedes, assim como uma postura discreta e institucional em defesa da importância do Congresso.

Rodrigo Constantino

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