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Rodrigo Maia faz alerta importante sobre batalha da comunicação pela reforma e chama Bolsonaro para o jogo

A entrevista de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no Valor hoje é fundamental para se entender os riscos que corremos caso o presidente Bolsonaro não entre com mais força na articulação para aprovar a reforma previdenciária. Maia é o principal articulador da reforma e avalia que a proposta está perdendo a batalha da comunicação.

Eis o resumo do jornal: “Os grupos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais estão silenciosos desde que o projeto foi divulgado, enquanto os militantes da oposição batem em dois pontos que Maia tinha aconselhado o governo a deixar de fora para não contaminar o debate: a redução no benefício de prestação continuada (BPC) para idosos miseráveis e a aposentadoria do trabalhador rural”.

“O BPC acaba sendo um instrumento onde o brasileiro pobre é usado por aqueles que têm aposentadoria muito acima das possibilidades do Estado brasileiro”, afirmou ao Valor, na primeira entrevista exclusiva desde que a reforma foi divulgada. Maia, que antes dizia ser possível votar a reforma em plenário em maio, já fala em prazo mais longo, provavelmente junho. Mesmo assim, avalia, só será possível se o governo organizar sua base.

Ele diz que o presidente precisa mostrar aos parlamentares que o bônus da reforma (investimentos e recuperação da economia) serão compartilhados entre os atores políticos, pois as eleições de 2020 e 2022 já estão na roda de negociações. Em um trecho, o presidente da Câmara vai direto ao ponto:

O nosso risco não é o mérito da matéria. Se o debate for feito de forma transparente, com lealdade entre as partes, tenho certeza que 80% do que está na reforma pode ser aprovado, 90%. Como o enfrentamento não é transparente, se o governo ou a estrutura da comunicação do presidente não entrarem no enfrentamento nas redes, tem um risco muito grande de perder votos.

O recado está dado: Maia está chamando Bolsonaro para o jogo, cobrando sua participação mais ativa para aprovar a reforma. Não basta ir no Congresso entregar o projeto num dia e depois desaparecer. O alerta foi reforçado em outra resposta, lembrando que se quiser governar sozinho, não pode pensar em mudar leis importantes:

Os parlamentares precisam do seguinte: eu faço parte de um governo que vai aprovar uma reforma difícil de ser aprovada, mas meu eleitor sabe que esse governo, dando certo, fará investimentos. E entrará com força em 2020. Na eleição municipal, como é que o governo atuará no município de cada um de nós? É muito menos de fisiologismo, muito mais de composição da governabilidade. Se você quer governar sozinho, é legítimo. Meu pai foi prefeito do Rio e governou basicamente sozinho. Só que nunca pensou em mudar a lei orgânica do município porque sabia que não tinha base.

É hora de pragmatismo e de arregaçar as mangas e partir para a batalha da comunicação, principalmente nas redes sociais. A militância bolsonarista é muito boa em atacar pessoas que criticam o governo, mas agora será fundamental uma mobilização para explicar a importância da reforma. É algo mais propositivo, talvez alheio ao perfil dominante nessa militância. Por isso o próprio presidente tem que entrar em campo com muito foco e determinação, para liderar sua base de apoio.

O perigo de não aprovar a reforma não pode ser desprezado, e se isso acontecer, o Brasil estará em apuros, como mostrou a Gazeta do Povo em seu editorial de hoje:

A lógica das projeções é muito simples: sem interromper a espiral de gastos causada pelo atual regime previdenciário, o governo será obrigado a ampliar seu endividamento, o que está na origem da mais recente crise econômica, gerada pela Nova Matriz Econômica lulodilmista e da qual o Brasil ainda se recupera aos trancos e barrancos.

A necessidade de emitir mais dívida forçará o governo a pagar juros maiores para que o mercado financeiro aceite comprar títulos de um país com finanças públicas fora de controle. No entanto, a elevação dos juros sufocará o setor produtivo, atrapalhando investimentos e a geração de emprego.

Sem reforma, afirma a SPE, a Selic, que hoje está no menor patamar da série histórica, em 6,5%, poderia chegar a 18,5%, uma taxa maior que aquela praticada no auge da crise no governo Dilma, enquanto o desemprego poderia subir para 15,1%. As projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto com e sem reforma também mostram a necessidade da mudança nas regras da aposentadoria. Se nada for feito, o PIB brasileiro cresceria apenas 0,8% em 2019 e 0,3% no ano que vem, com retração no segundo semestre de 2020. A partir daí, o PIB entraria em campo negativo. Se o Congresso aprovar a proposta de Paulo Guedes, as previsões são bem melhores: crescimento de 2,9% neste ano e em 2020, chegando a 3,3% daqui a quatro anos.

O que está em jogo é o futuro da nossa economia e, por tabela, do próprio governo Bolsonaro. O presidente precisa ter noção da urgência disso, e do seu papel como líder. Melhor escutar o alerta de Rodrigo Maia. Um amigo meu, deputado de um partido da base aliada do governo, disse que sua bancada só tem garantido o seu próprio voto a favor da reforma até aqui. Falta articulação. Falta o presidente colocar a mão na massa. A reforma previdenciária é um caso de tudo ou nada.

Rodrigo Constantino

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