O encanto da elite com locais pobres, até miseráveis não é novidade. Trata-se de uma viagem “exótica”, em que os indivíduos civilizados podem tirar umas férias da civilização e conhecer o “bom selvagem” de perto, sentindo-se muito descolado por conta desse gesto magnânimo. “Viram como sou uma alma sensível? Fui na favela ver de perto como os pobres vivem!”
Claro que todo o romantismo fomentado por Rousseau ajuda, assim como a era “poser” das redes sociais. A glamourização que a TV faz das “comunidades” também contribui. A julgar por Regina Casé e tantos outros, tudo que vem das favelas é melhor, e a elite deveria copiar a periferia, jamais o contrário (que seria elitismo e preconceito).
Aí o turista vai, entra num carro daqueles de safári, e circula por uma dessas comunidades, como se os pobres que vivem ali fossem mascotes, ou pior, bichos num zoológico humano. Com a recente morte de uma dessas turistas na Rocinha, o assunto voltou à tona, e até o comunista Ancelmo Gois questionou essa tara pela pobreza:
Às vezes a esquerda acerta. Como foi o caso desse programa do Porta dos Fundos, com a atuação de Greg, o mais esquerda caviar da turma, tirando sarro justamente desse hábito estranho de quem gosta de explorar a miséria alheia como se fosse um antropólogo em missão:
Mas é justamente uma característica predominante na esquerda caviar essa mania de enaltecer a pobreza, e logo depois voltar correndo para o conforto de suas vidas, para a segurança da civilização. Em Esquerda Caviar comentei sobre esse hábito, inclusive presente em muitos riquinhos que precisam simular pobreza, usando trapos no lugar de roupa, para bancar o descolado sem apego material:
Em A elegância do ouriço, Muriel Barbery usa uma das narradoras, uma menina muito inteligente de 13 anos, para descrever o desconforto com essa atitude de sua mãe. Elas moram em um endereço de luxo em Paris, repletas de conforto. Não obstante, sua mãe vive a pregar o socialismo, entre uma conversa e outra com suas plantas. E claro, mesmo depois de dez anos de terapia, ela ainda precisa tomar remédio para dormir…
O autor coloca na outra narradora da história, uma concierge humilde, porém extremamente culta, as palavras de desprezo em relação ao grupo de riquinhos mimados que tentam aparentar um estilo artificial de pobreza cool:
Se tem uma coisa que abomino, é essa perversão dos ricos que se vestem como pobres, com uns trapos que ficam caindo, uns bonés de lã cinza, sapatos de mendigo e camisas floridas debaixo de suéteres surrados. É não só feio mas insultante; nada é mais desprezível que o desprezo dos ricos pelo desejo dos pobres.
No entanto, basta frequentar uma faculdade privada para ver a quantidade de jovens que aderem a esse estilo “riponga”, com suas camisetas do Che Guevara, apenas para entrar depois em seus carros importados do ano. São os “revolucionários de Facebook”, que escrevem em seus perfis da rede social americana o quanto odeiam o sistema capitalista americano e o lucro que tornou o instrumento viável.
Elite culpada: isso é um problema grave! Em vez de entender como realmente ajudar os pobres a sair da pobreza, ela prefere “expiar seus pecados” enaltecendo a “sabedoria” dos pobres, e tratar com condescendência os “pobrezinhos”, como se fossem animais de estimação. Tom Palmer, do Cato Instituto, desmoralizou o demagogo Ciro Gomes num debate, justamente quando o esquerdista tentou bancar o “pai” dos pobres:
Joãozinho Trinta foi quem melhor resumiu a coisa: “Pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual”. Quando a esquerda caviar deixar de olhar para os pobres como abstração, como seus mascotes ou como peões em seu tabuleiro de xadrez pelo poder, aí começarão a abandonar a esquerda. Até lá, teremos uma Madonna, defensora das causas “progressistas”, tentando ganhar alguns likes extras com a visita a uma favela, cercada de policiais “fascistas” armados, claro:
PS: Depois que ela disse que gostaria de explodir a Casa Branca, se eu fosse o Trump reforçava a segurança…
Rodrigo Constantino