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Murilo Ferreira. Fonte: GLOBO Murilo Ferreira. Fonte: GLOBO

O leitor já ouviu falar do “Valão” ou do “Embraerzão”? Não? Mas do “Petrolão” já, não é mesmo? E do “mensalão”, que envolvia o Banco do Brasil, também, não é verdade? Não se trata de coincidência. “O olho do dono engorda o boi”, diz o ditado. É o escrutínio dos sócios, dos donos do capital, que evita desperdícios, descaso, abuso político e roubalheira nas empresas privadas. O mecanismo de incentivos é perverso quando o governo resolve bancar o empresário com o dinheiro da “viúva”.

A má fama que a privatização tem no Brasil é um espanto após o sucesso de várias empresas privatizadas, ainda que o modelo nem sempre tenha sido o melhor (muito dinheiro do BNDES no processo, nem sempre mais concorrência ou abertura comercial, fundos de pensão estatais como sócios relevantes, e por aí vai). Mesmo com todos os defeitos, quem poderia negar o sucesso das privatizações do setor siderúrgico, de telefonia, de minério de ferro etc?

Como os tucanos são de esquerda e privatizaram mais por necessidade de caixa do que por convicção ideológica, teve que vir um liberal – eu – para defender o legado de suas privatizações. O resultado está no livro Privatize Já, que, apesar do título meio panfletário, é um estudo sério e minucioso de teorias e dados que comprovam as vantagens dessas privatizações. Ainda assim a ficha não caiu para a população brasileira, nem mesmo com os escândalos da Petrobras.

A notícia da saída de Murilo Ferreira do Conselho de Administração da Petrobras deveria acender novos alertas. O executivo, que preside a Vale, alegou motivos pessoais, mas o que se diz é que ele estava insatisfeito com a falta de transparência da empresa estatal. Tanto que seu suplente, também da Vale, saiu junto.

A falta de transparência e de governança é a marca registrada das empresas estatais brasileiras. Ferreira está acostumado com a maior cobrança no setor privado, com o accountability dos envolvidos na gestão quando há acionistas preocupados com o retorno do capital do outro lado. Diz a reportagem:

Executivos próximos ao conselho afirmam que Ferreira se afastou do cargo por discordar da forma como a atual administração vem conduzindo a companhia. Mais do que isso, diz uma fonte: ele também estaria insatisfeito com a falta de transparência da estatal, que estaria passando para os membros do conselho “informações mínimas” sobre as questões em pauta, como a operação de venda de ações da Petrobras Distribuidora (BR). 

Típico das estatais ignorar cobranças. Seu papel acaba sendo político, pois a empresa é capturada pelos interesses dos governantes, e os “sócios”, os milhões de brasileiros, não acompanham o dia a dia da empresa. O que é de todos não é de ninguém; ou melhor, é dos poucos que falam em nome de todos. Por isso as estatais se tornam invariavelmente cabides de emprego, instrumentos de populismo eleitoreiro, dutos de desvio de recursos etc.

O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, que antes era do Banco do Brasil, queria colocar Luciano Coutinho no lugar de Murilo Ferreira. Faz sentido: Coutinho preside o BNDES, o instrumento mais relevante do populismo petista e símbolo maior do “cronismo” de nosso sistema simbiótico entre estado e grandes empresários. O BNDES transfere bilhões dos pobres trabalhadores para os ricos empresários, por meio de subsídios e da seleção de “campeões nacionais”.

Coutinho é o mesmo que, na década de 1980, defendia a fracassada Lei da Informática, que criou uma reserva de mercado para produtores nacionais de tecnologia, sacrificando o progresso do país. Nada mais natural que alguém com esse perfil fosse a primeira escolha do representante do governo na maior estatal brasileira, portanto.

O estrago que o PT fez em nossas empresas estatais é a maior prova de que a privatização deve ser defendida como o caminho desejável. Tirar das mãos do governo esses instrumentos de abuso político e populismo, sem falar da corrupção, é crucial para o avanço do país. Não há transparência na Petrobras, e esse teria sido o motivo da saída do presidente da Vale de seu Conselho. A quem interessa a falta de transparência? Responder essa pergunta é constatar a necessidade da privatização.

Rodrigo Constantino

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