Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

Sakamoto prefere Belford Roxo a Miami?

O ícone da esquerda caviar, Leonardo Sakamoto, aquele que adora computadores da capitalista Apple enquanto condena o capitalismo, escreveu um texto afirmando que se Miami é o Brasil que deu certo, então o Brasil deu errado. Com ironia, o “jornalista” escreve sobre sua primeira e única experiência na cidade:

Conheci a cidade no fim de janeiro, quando fui dar uma palestra em uma universidade local. E, ao contrário de outras metrópoles norte-americanas que  visitei ao longo dos anos, a primeira impressão da região metropolitana de Miami não foi das melhores. Fiz o circuito turístico convencional, o não-convencional, convivi com a elite local, tive overdose de Romero Britto. E torcia loucamente para ser esmagado por uma palmeira fake e encurtar o sofrimento.

De fato, a “breguice” por lá é grande. Romero Britto para todo lado, palmeiras falsas e imensas casas com pilares imitando o Panteão. Quem disse que o dinheiro tem sempre bom gosto? O que Sakamoto não se deu conta é que ao menos as pessoas têm a capacidade de gastar e a liberdade de escolher, ao contrário do que ocorre, por exemplo, em Cuba.

Mas se fosse pelo mau gosto dos “novos ricos” apenas, creio que Sakamoto não diria que Miami não deu certo. E, realmente, o que ele acusa é algo muito mais importante: a criminalidade e a desigualdade do local. Essa parte mais conhecida de Miami seria apenas a ponta do iceberg, e Sakamoto está preocupado com o restante. Diz ele, caindo em contradição:

Há um mundo bem maior nos bairros de imigrantes latinos, de onde saem as pessoas que servem as demais. Que, da mesma forma que no Rio, passam despercebidas. A Miami que chega às revistas e à TVs daqui é apenas um pedacinho, transformado em cartão postal, de uma cidade muito maior, mais interessante, viva e diversa do que a chatice monocromática vendida aos turistas. E complexa. E pobre. E desafiadora.

Ou seja, a parte idolatrada pelos brasileiros mais ricos – e pelos cubanos, venezuelanos, porto-riquenhos, mexicanos, etc. – não retrata a realidade do lugar. Só que ele cospe na parte mais rica, e enaltece o restante, que seria mais “complexo” e menos “chato” – e bem mais pobre e violento. A esquerda vive nesse impasse: condena a burguesia mais endinheirada, elogia a “periferia pobre”, e ao mesmo tempo reclama que a periferia não tem a condição de vida da burguesia urbana.

Sakamoto e seu laptop da Apple

Sakamoto precisa se decidir: Miami não presta porque os ricos são cafonas ou porque há pobreza em outros bairros? Assim como Regina Cazé precisa decidir se o Leblon é melhor ou pior do que as favelas cariocas. Nunca sabemos o que a esquerda caviar realmente quer. Ou por outra: sabemos sim, pois eles votam com os pés, e deixam evidente que preferem os locais com mais dinheiro mesmo.

Mas divago. O bicho pega quando Sakamoto resolve descascar a “falsa” impressão que se tem de Miami por aqui, segundo ele um minúsculo pedaço exposto pela mídia. Diz ele:

Mas problemática também. Miami é uma das cidades com maior pobreza e desigualdade social dos Estados Unidos. Não admira, portanto, que parte de nossa elite tenha escolhido lá para viver. Sentem-se em casa.

Alto custo de vida, taxas de criminalidade maiores que do resto do país, corrupção, falta de serviços públicos e sociais, saúde de baixa qualidade, desemprego, violência ligada às disputas sobre o tráfico de drogas, violência policial desmesurada contra os mais pobres, são alguns dos elementos que foram reunidos pela revista Forbes, tempos atrás, para explicar por que a qualidade de vida por lá é ruim. Torres de concreto, aço e vidro sendo erguidas e, não muito distante, filas gigantes de pessoas buscando refeições grátis em centros de auxílio compõe o cenário.

Quem poderia negar que Miami tem muitos problemas? Décadas abrigando milhões de latino-americanos que fogem para lá em busca de uma vida melhor, lógico que isso teria impacto, não é mesmo? Só de cubanos são quase 2 milhões! Será que eles estão em situação pior do que os parentes que ficaram na ilha dos Castro? Eis a pergunta que Sakamoto jamais irá se fazer, muito menos responder.

A filha de uma ex-empregada minha, por exemplo, foi tentar a vida em Miami. Hoje, é casada, tem dois filhos, mora em uma casa humilde, porém decente, as crianças estudam em uma escola pública com boa qualidade, e possui um carro médio – de elite para nossos padrões. Nada mal, não? Sakamoto preferia que ela fosse doméstica e morasse na favela carioca?

Agora vamos aos fatos, detestados pela esquerda: mesmo tendo se tornado a capital mundial dos imigrantes latino-americanos, Miami tem estatísticas infinitamente melhores do que todas as capitais latino-americanas. Perde em criminalidade para as demais capitais americanas, mas não para as capitais de origem da maioria da população que compõe a cidade.

Podemos analisar aqui algumas estatísticas de criminalidade em Miami. Para os padrões americanos, nada a se vangloriar. Mas que tal comparar com o Brasil? Vejam, por exemplo, a taxa de mortalidade por arma de fogo em nosso país:

Fonte: GLOBO

O Rio tinha taxa de homicídio de 26,4 por cada 100 mil habitantes em 2010. A de Miami estava em 15,4, ou seja, 42% menor! Talvez Sakamoto pense que Belford Roxo é mais seguro do que Miami, vai saber. Talvez ele pense que Miami fracassou e a Baixada Fluminense oferece um quadro melhor de qualidade de vida.

Sakamoto pergunta, como se tivesse desvendado um grande mistério escondido pela direita: “Ou você acha, realmente, que não há miséria nos Estados Unidos?” Ora bolas, claro que há! Mas veja só que coisa: os pobres para padrões americanos seriam os ricos para padrões latino-americanos! Ou ao menos classe média alta.

A renda per capita americana é quase 5 vezes maior do que a nossa. O estilo de vida considerado de “bacana” por aqui é o normal de lá: casa própria razoável, carro na garagem, acesso à internet, TV de tela plana, refrigerador moderno, ar condicionado, etc. Sakamoto conclui seu artigo sensacionalista:

Contei isso a um estudante da periferia de lá durante um dedo de prosa que tive com ele. Surpreso, afirmou: cara, se Miami é o Brasil que deu certo, então seu país deu muito, muito, errado.

E alguém duvida? Se até mesmo uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos dá um banho nas nossas cidades mais pacíficas, então é claro que nosso país deu muito, muito errado! E por que? Essa é fácil: porque néscios de esquerda condenam o capitalismo, o livre mercado, o lucro, preferindo apelar para a demagogia e o populismo, condenando a riqueza, os ricos e, assim, prejudicando justamente os mais pobres.

Em suma, Miami é um exemplo de fracasso apenas para a esquerda caviar, que não a compara com a realidade latino-americana. Há muito que melhorar lá, não resta dúvida. Mas apenas alguém muito tapado – ou hipócrita – apontaria o dedo acusando Miami em vez de reconhecer os problemas infinitamente maiores no próprio quintal, fruto justamente da mentalidade esquerdista.

Eu, que já estive em Miami umas 10 vezes e tenho amigos que moram lá, posso me imaginar tranquilamente morando no “Brasil que deu certo”. Pergunto: Sakamoto, que condena o capitalismo e defende o socialismo, moraria em Cuba? Eis a questão.

Rodrigo Constantino

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.