A ficha está caindo para a maioria. Mesmo gente historicamente ligada à esquerda, como o social-democrata Sérgio Besserman, economista e ambientalista, entende que o caminho é mais participação da iniciativa privada:
A maior tragédia social do Brasil é o saneamento básico. São muitos problemas. O desafio é gigante. A Cedae não tem, nem terá capacidade de investimento para fazer frente a esse desafio. O único caminho possível é o das parcerias público-privadas, atraindo investimentos do setor privado, oferecendo a necessária segurança jurídica, criando modelos de governança diferentes dos atuais.
O economista Aloisio Araújo, professor da FGV, é mais direto ao defender a privatização da Cedae mesmo:
A empresa privada não tem a ineficiência das estaduais. Proponho algo semelhante ao que ocorreu com os bancos estaduais. O governo federal poderia renegociar as dívidas do estados, prevendo que eles privatizem suas empresas de saneamento, com metas e planos para um prazo de dez anos, por exemplo. Em troca, a União poderia ajudá-los com empréstimos do BNDES. Ao longo do tempo, as empresas teriam que aumentar sua cobertura.
O problema é que o próprio BNDES, sendo estatal, acaba caindo nas garras dos populistas. Em artigo publicado hoje no GLOBO, o sociólogo (também de esquerda) Demétrio Magnoli comenta o caso da simbiose entre o banco estatal e os escândalos de corrupção do governo:
Sob o estandarte neonacionalista do BNDES, repousa uma ideologia da corrupção. De fato, a lógica proclamada pelo banco dispensa Lula de interferir explicitamente nos mecanismos decisórios do BNDES, pois a aprovação dos projetos de empreiteiras brasileiras no exterior era quase automática, derivando de uma tradução ideológica do “interesse nacional”. Nesse contexto, a análise dos projetos em colegiados técnicos funciona, essencialmente, como uma mão de tinta fresca destinada a ocultar decisões apriorísticas, adotadas na esfera política.
Vaccari é um acaso deplorável, o bandido oportunista que se esgueirou por uma janela entreaberta no santuário do “interesse nacional”? No elenco de financiamentos do BNDES no exterior, destacam-se países carentes de instituições independentes de controle sobre os negócios estatais. A lista abrange, entre outros, os casos notórios de Venezuela, Cuba e Angola, cujos regimes não precisam prestar contas a ninguém. Nesses países, quantos Vaccaris cobraram, alegres e soltos, o “imposto partidário” sobre os recursos desembolsados pelo banco público brasileiro?
Evidentemente, a Lava-Jato jamais poderá responder a essa pergunta. Com a palavra, o BNDES.
Não tem jeito. O estado não tem nada que ser empresário, muito menos banqueiro. Deve apenas cuidar de suas funções básicas, que são fundamentais. O resto deve ficar com a iniciativa privada mesmo. Quem acha que isso vai prejudicar os mais pobres não entendeu absolutamente nada da realidade. Prefere o mundo da estética, da retórica, do monopólio das boas intenções de quem não é capaz de argumentar com fatos. Privatize já!
Rodrigo Constantino