Muitos eleitores de Dilma desapareceram, como já comentei aqui. Outros, mais ousados, estão ensaiando uma reação ao evidente estelionato eleitoral: afirmar que as pessoas mais esclarecidas já sabiam que medidas duras seriam necessárias, e que se Aécio Neves tivesse vencido seria a mesma coisa, o tucano faria igual ao governo Dilma com seu novo ministro Joaquim Levy.
Quem repete isso ignora alguns pontos básicos. Primeiro, nada nega sobre o claro estelionato eleitoral. Ora, se os mais “esclarecidos” sabiam mesmo que tais medidas, como aumento de preços, tarifas, taxa de juros e impostos, seriam necessárias, então não se incomodaram com as mentiras usadas por sua candidata, que usou justamente esse tipo de ajuste como principal arma para atacar o adversário? Estão assumindo que enganar de forma escancarada o eleitor ignorante é aceitável?
Em segundo lugar, ignoram também a diferença de postura entre quem fala a verdade e admite que terá de enfrentar um período de ajustes dolorosos, e quem repete que está tudo uma maravilha e que não precisará tomar nenhuma medida impopular. Aécio, justiça seja feita, adotou um discurso de estadista na campanha, ao assumir que não seria fácil consertar os equívocos do governo. Dilma escolheu a mentira. O seu eleitor não liga para a gritante diferença?
No mais, e aqui é o ponto mais importante, não é verdade que os tucanos fariam exatamente as mesmas coisas e que, portanto, seus eleitores não deveriam reclamar tanto das medidas de Dilma. Afinal, uma andorinha só não faz verão. Não basta olhar para Joaquim Levy e falar que ele é praticamente um tucano. Aécio contaria com toda uma equipe mais preparada, mais capaz, e também com propostas diferentes. Mais foco no corte de gastos e menos aumento de impostos, por exemplo.
Por fim, o simples fato de não ser Dilma a presidente, e sim ele, faria com que o pais ganhasse um precioso tempo para os ajustes, com a segurança por parte dos investidores de que as mudanças eram para valer. O mesmo não ocorre com Dilma, pois todos sabem como ela está desconfortável com Levy no “comando”. Isso gera incertezas, e nas bolsas de apostas a cabeça de Levy não permanece no lugar por muito tempo.
Enfim, tentar se proteger do ataque de estelionato eleitoral, “argumentando” que o PSDB faria o mesmo e que isso retira o direito de crítica dos eleitores de Aécio, é no mínimo uma postura equivocada. Para ser mais acurado, diria que é uma baita sem-vergonhice mesmo, típica dos eleitores do PT.
Rodrigo Constantino