Quando Trump assumiu que seria candidato nos Estados Unidos, foi motivo de chacota. Muitos atores ridicularizaram o empresário. Mas quando ele venceu vários adversários nas primárias do Partido Republicano, o tom começou a ficar mais sério. E quando ficou claro que havia chances concretas de sua vitória, muitos desses artistas fizeram uma campanha involuntária para o magnata, afirmando que iriam embora do país se ele vencesse.
Trump venceu, como sabemos, pegando de surpresa toda a mídia mainstream, e os artistas esqueceram suas promessas de exílio. A economia melhorou, o desemprego atingiu baixas históricas, especialmente para as minorias, e a vida não virou um caos, assim como a América não se transformou na Itália de Mussolini. Os artistas seguiram com suas vidas, lucrando como nunca antes, e conquistando holofotes fáceis só ao detonar o presidente. Doce hipocrisia.
Estava demorando para acontecer o mesmo fenômeno no Brasil. Bolsanaro foi alvo de escárnio quando se tornou candidato, e agora que lidera as pesquisas, mesmo de uma cama de um hospital, a turma artística e “intelectual” começa a levá-lo mais a sério. E óbvio que não faltaria no Brasil a patota “ameaçando” com o exílio caso ele vença mesmo. Em sua coluna de hoje, Verissimo deu o pontapé inicial no discurso, ajudando Bolsonaro a ganhar votos extras. Diz o socialista defensor de Lula, que citou Edward Said, o guru dos esquerdistas radicais:
Fora do mundo literário, o exílio perde toda a conotação intelectual ou romântica. Sobra a realidade trágica das migrações de multidões fugindo da fome e da guerra. O crítico George Steiner, citado por Said, chegou a propor que boa parte da literatura ocidental moderna é “extraterritorial”, uma literatura feita por exilados ou sobre exilados, simbolizando a era dos refugiados que começou no fim do século XIX, nos estertores do colonialismo, e, desde então, só ficou mais terrível. Nas categorias de exilados arrolados por Said, fora as vítimas do nazismo e do stalinismo, todos se exilaram por iniciativa própria, mesmo que a iniciativa fosse incentivada. Como no caso do Brasil depois do golpe de 64, quando recebemos a ordem de amar o país ou deixá-lo. Amar o Brasil, no caso, era amar a ditadura.
Você, eu não sei, mas eu estou fazendo planos para qualquer eventualidade. O mais irrealizável e, por isso mesmo mais atraente, é desenferrujar meu saxofone e ir tocar no metrô de Paris, para garantir o croissant das crianças.
Faz ironia com o exílio quem pode. Afinal, os venezuelanos, vítimas do socialismo defendido por Verissimo e da ditadura apoiada pelo PT, não acham tanta graça assim nisso, e não vão para Paris “tocar saxofone” para comer croissant, mas sim para Roraima viver na miséria.
Nunca o Brasil viveu uma fuga de intelectos tão grande, e isso ocorreu justamente após a passagem do PT pelo poder, destruindo o país com todo apoio do próprio Verissimo. Mais da metade dos brasileiros, segundo pesquisas, abandonariam o país se possível, para tentar a sorte em países mais capitalistas.
Mas os nossos artistas e “intelectuais” acham que é a vitória de Bolsonaro que causará um fluxo enorme de exilados. É o que dá confundir sua bolha “progressista” no Leblon, Projac ou Vila Madalena com o Brasil. A realidade é justamente oposta: se o PT voltar ao poder, talvez tenha que fechar as fronteiras para impedir uma debandada geral da população, como costuma acontecer em toda experiência socialista.
Carlos Alberto Sardenberg, ainda que lamentando uma disputa de extremos, acabou resumindo bem em sua coluna de hoje o que está em jogo nessa disputa eleitoral (meus grifos):
No lado de Bolsonaro, muitos eleitores simplesmente estão fartos do governo, do excesso de impostos e da falta de serviços públicos, dos políticos corruptos eternamente no poder e, sim, da imposição do chamado politicamente correto. Reparem: muitos eleitores dessa direita são liberais no sentido de achar que cada um se comporta como quer. Mas não apreciam quando a agenda progressista é imposta por meio de leis e obrigações.
Também aqui, o centro liberal — nos costumes e na política — não soube contar e colocar sua história.
E assim chegamos a uma eleição em que uma agenda é tirar Lula da cadeia e anular a Lava-Jato. A outra é prender Lula e todos os demais canalhas.
De um lado temos aqueles que querem ficar no Brasil e lutar para conserta-lo, a começar pelo combate à impunidade dos corruptos. Do outro temos esses artistas e “intelectuais” que amam o socialismo, desde que de longe, e querem apenas preservar suas mamatas em conluio com o poder.
Se o PT vencer, todo capital humano e produtivo vai tentar se mandar do Brasil de vez. Se Bolsonaro vencer, Verissimo e companhia dizem que vão embora, mas vão continuar no conforto de seus lares, desfrutando de um país mais seguro e próspero. A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude. E essa turma sabe ser hipócrita como ninguém!
Rodrigo Constantino
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