Confesso ao leitor: um lado meu, mais impulsivo, morre de rir quando os “progressistas” são alvos da patrulha do politicamente correto, monstro que ajudaram a criar. Mas o outro lado, mais racional, morre de medo, pois lembra como a coisa saiu de controle e se alastrou, tornando a vida em sociedade quase insuportável nos tempos modernos.
O mais novo alvo da patota histérica foi ninguém menos do que Justin Trudeau, o premier canadense e ícone do “progressismo” floco-de-neve, sensível demais, afetado demais, “moderninho” em excesso. Em plena campanha por reeleição, resgataram uma imagem sua de décadas atrás em que o então jovem Trudeau se fantasiava de árabe, em homenagem ao filme Aladin. Ó, céus! Eis como a Folha reportou o ocorrido:
A campanha à reeleição do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, entrou em crise após uma imagem de 2001 do político com o rosto inteiramente pintado de marrom ser publicada pela revista Time nesta quarta-feira (18).
A prática, chamada de “blackface”, é racista. O termo surgiu para descrever atores brancos que encenavam papéis de negros no teatro, ambiente proibido para essas pessoas até meados do século 20.
A imprensa internacional também se referiu ao gesto como “brownface”, já que o primeiro-ministro representava uma pessoa de origem árabe.
O primeiro-ministro canadense lamentou o episódio. “Eu deveria ter sido mais cauteloso naquela época, mas não fui e por isso peço sinceras desculpas”, disse.
“Eu me fantasiei de Aladdin e usei maquiagem. Não deveria ter feito isso.”
Não sei quem é pior nessa história toda: a mídia, a patrulha ou Trudeau. Se fosse um líder cabra macho, conservador, diria apenas algo assim: “E daí que eu pintei o rosto? Era uma festa à fantasia, seus idiotas. Isso só é racismo na cabeça dodói de vocês, que enxergam racismo em todo canto, para encaixar numa narrativa boboca. Vão encher o saco de outro!”
Mas Trudeau, naturalmente, não é nenhum Clint Eastwood. Então lhe restou esse papelão de pagar dízimo ao PC, curvar-se diante de sua patrulha, ajoelhar no milho, e pedir desculpas. É o ato máximo de covardia de um sujeito, o que só alimenta a patrulha inquisidora dos boçais, com apoio dessa mídia igualmente tosca.
Eu já me fantasiei de tanta coisa que nem me lembro mais. Chama-se fantasia, pois não é realidade. É preciso ser muito ridículo para encontrar racismo em coisas tão singelas assim. É como a turma que fala em “apropriação cultural” sempre que vê alguém usando algo que veio de outra cultura, ignorando que culturas se comunicam e modas se espalham. Aliás, são os mesmos que, pasmem!, defendem o multiculturalismo.
É hipocrisia, oportunismo, canalhice e ideologia, pois no fundo há um alvo comum nessa batalha toda: o homem branco ocidental. Se for um negro se fantasiando de branco, ninguém vai chiar. Se for uma mulher africana se fantasiando de princesa da Disney, tudo bem. Mas se for um homem branco se passando por negro, árabe ou mulher, sai de baixo!
O duplo padrão trai o real intuito: usar a narrativa das “minorias” para atacar o homem branco ocidental, tido como vilão da humanidade no “patriarcado opressor” que é o Ocidente – “apenas” a civilização mais liberal e próspera da história.
Ao menos os leitores da Folha estão mais atentos. Eis alguns comentários:
Uma simples brincadeira, feita há quase 20 anos, e que poderia perfeitamente ser vista até como uma homenagem, merece todo esse ridículo patrulhamento. E olhe que Trudeau é de esquerda, ou “liberal”, como eles dizem lá. Assunto de todo dia: falta de assunto sério.
Eta mídia maldosa, nojenta que fazem tudo para manchar a honra de uma pessoa. O cara tinha 29 aos, estudante indo a uma festa fantasia. Mas os inimigos invejosos estão sempre à espreita.
Chega de tanta afetação, gente! Ninguém aguenta mais…
Rodrigo Constantino