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Se imprensa quer criticar postura bolsonarista – e com razão – precisa dar o exemplo!

Procuro ser o mais justo possível em minhas análises. Posso ser considerado, de certa forma, parte da mídia mainstream. Afinal, já passei por Veja, IstoÉ e Globo e escrevo para a Gazeta do Povo e o ZH, além de ser comentarista na Jovem Pan. Mas nunca deixei de criticar o viés “progressista” que identifico na grande imprensa em geral, com seu preconceito contra conservadores e sua má-vontade com o atual presidente.

Dito isso, também acho temerária a reação, qual seja, a postura bolsonarista de declarar guerra à “extrema-imprensa”, tratada como inimiga da nação, em especial aqueles veículos que não aderiram ao puxa-saquismo explícito (basta pensar que parte da imprensa tem recebido mimos do presidente, o que não é postura republicana).

Ou seja, se a imprensa tem um viés esquerdista, o bolsonarismo tem claro viés autoritário ao encarar a mídia como inimiga, caso não seja subserviente ou “aliada”. E nessa batalha, quem perde somos todos nós, povo brasileiro, democratas. As redes sociais não são bons substitutos para o trabalho jornalístico sério, que ainda vem da imprensa, apesar do viés ideológico.

Quem vem tentando resgatar o bom jornalismo é Carlos Alberto di Franco, sempre cobrando o “cheiro do asfalto” das reportagens e a busca pela imparcialidade. Em sua coluna de hoje no Estadão, ele procurou compreender o fenômeno Bolsonaro, admitiu o viés da imprensa, que faz críticas injustas, mas cobrou do presidente mudança de postura também:

É preciso analisar o atual governo com serenidade. Estou, a cada dia que passa, evitando pendurar etiquetas simplistas numa realidade que parece complexa. Tenho procurado pensar e refletir. Com esforço de compreensão da realidade, com mente aberta e sem preconceitos. Creio que precisamos fugir do jornalismo de fofoca e de polêmica superficial e mergulhar na análise dos fatos. É o modo mais eficaz de cobrir um governo inusitado.

Ao mesmo tempo, precisamos sentir o pulso da opinião pública. Estamos, vez por outra, de costas para a sociedade real. Não se trata de ficar refém do pensamento da maioria. Mas o jornalismo, observador atento do cotidiano, não pode desconhecer e, mais do que isso, confrontar permanentemente o sentir das suas audiências.

Bolsonaro, por óbvio, precisa conversar com a mídia. Tenho dito e repetido. As críticas aos governantes, mesmo injustas, fazem parte do jogo. Não é possível recriar uma versão indesejável do “nós contra eles”. Não é bom para o País.

Governo e imprensa não podem ter uma relação promíscua. É salutar certa tensão entre as instituições. São peças essenciais da democracia. Espero que Bolsonaro desça do palanque e assuma o papel de presidente de todos os brasileiros. Espero também que nós, jornalistas, deponhamos as armas da militância e façamos jornalismo.

Direto ao ponto. Mas como condenar só a postura bolsonarista sem reconhecer que há muita militância “do lado de cá”, disfarçada de jornalismo? Aquele que nega o viés da imprensa está jogando combustível na fogueira bolsonarista. Nesse fim de semana tivemos dois casos que ilustram bem o grau da coisa, e que foram muito comentados nas redes sociais, mas ignorados pela própria imprensa.

Num deles, o veterano Mario Sergio Conti, que não consegue ocultar seu radicalismo esquerdista com seu texto prolixo, estampou logo no subtítulo o inconfessável desejo de que Adélio Bispo tivesse sido bem-sucedido no intuito da facada, isso justo na data comemorativa de um ano do terrível incidente. Usar um terceiro para dizer o que quer é antigo subterfúgio dos covardes. Eis o absurdo:

Eis o trecho na íntegra, que o “jornalista” usou entre aspas para se proteger: “Entre os grandes desastres ecológicos do século 21 está o fato de o assassino que esfaqueou Bolsonaro no peito, na companha presidencial de 2018, não ter tido sucesso em matar o homem, a despeito de a lâmina ter entrado num pulmão. Esse julgamento pode soar sanguinolento, mas qual pulmão você prefere, o do planeta ou o de Bolsonaro?”.

Esse teor insano não incomodar os colegas de jornal deveria ser um espanto. Corporativismo ou afinidade ideológica? O fato é que parece contraditório alguém silenciar diante disso e depois cobrar postura mais decente e civilizada do bolsonarismo.

O segundo caso foi do site G1, do grupo Globo, cujo responsável deve ter se esquecido de mudar o login e destilou seu veneno tosco e elitista contra um garoto, que simplesmente estava feliz por ter andado no carro com o presidente no desfile do 7 de setembro:

A hashtag #G1imbecil atingiu o topo das tendências, e a revolta foi enorme. O site emitiu notinha alegando que é contra linguagem ofensiva e vai investigar o que ocorreu, mas aguardamos os resultados ansiosos então, pois se não foi um caso de hacker, alguém do jornal bobeou e expôs o que realmente pensa.

De qualquer jeito, sabemos que é mais ou menos a opinião de muitos jornalistas mesmo, da elite “progressista” e cosmopolita, que idolatra CNN e NYT e repudia a Fox News. São aqueles que consideram os eleitores de Trump uns “deploráveis”, e os eleitores de Bolsonaro uns “alienados”. Essa é a turma que, em geral, ocupa as redações dos jornais. Gente que, no fundo, lamenta mesmo que a facada não tenha sido fatal. Gente que trata com desprezo qualquer um mais conservador do que um tucano, que é de esquerda.

E esses jornalistas ainda falam em tolerância e pluralismo, o que seria cômico, não fosse trágico. Não percebem que essa postura arrogante, elitista e totalmente distorcida em prol do esquerdismo é o que alimenta a campanha nefasta do bolsonarismo contra a mídia.

Rodrigo Constantino

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