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Que há muita confusão entre as corretas definições político-ideológicas no Brasil é um fato. Eu mesmo, que sou presidente do Conselho do Instituto Liberal, já preparei um curso online inteiro sobre o liberalismo, que é para resumir as trajetórias das principais ideias liberais, e depois outro curso para salvar o liberalismo dos “liberais”, que falam em seu nome, mas defendem baboseiras “progressistas” de um lado ou anarquistas do outro.

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Os rótulos servem para simplificar, mas toda simplificação é perigosa e precisa ser usada com cautela. Afinal, é impossível reduzir a alguns conceitos toda uma vasta gama de ideias, crenças, princípios e premissas. O sujeito pode ter algumas ideias consideradas de esquerda, outras de direita, e não saber ao certo onde se encaixa no espectro ideológico. Faz parte. É complexo mesmo.

Mas não é tão complexo, tampouco tão elástico, a ponto de caber qualquer coisa. Há padrões, limites razoáveis, que definem a esquerda e a direita, o socialista, o liberal e o conservador. Não dá para simplesmente misturar tudo. E, infelizmente, vemos que até mesmo professores e jornalistas fazem uma tremenda confusão da hora de usar tais rótulos por aí.

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Foi o que aconteceu com Claudio Tognolli, professor da USP, durante o novo programa “Pingos nos Is”, da Jovem Pan. A rádio está de parabéns pela contratação de Joice Hasselmann e de Felipe Moura Brasil, dois personagens claramente alinhados ao pensamento de direita no Brasil. Mas eis que Tognolli resolveu criar uma divisão artificial entre conservadorismo e direita, dando uma das definições mais bizarras que já se viu para o que vem a ser a direita.

“Só no Brasil se confunde você ser conservador com ser de direita. Winston Churchill era conservador, mas não era de direita. O que é a essência de ser de direita? É suprimir direitos e garantias individuais, é você suprimir associações de classe, é você suprimir liberdade religiosa, é você suprimir o carnaval, é você suprimir passeata gay”, afirmou Tognolli.

Para Luciano Ayan, a definição é “inacreditável”, e “transcende qualquer escala de avaliação”, “É castigo para quem reclamou do Reinaldo Azevedo”. Não custa lembrar que Tognolli disse que havia sido demitido da Jovem Pan por conta de Azevedo. Diego Casagrande, outro jornalista que não teme se identificar como de direita, desabafou: “A fala dele é boçal, ignorante ao extremo…”

E não há como discordar! Se – e destaque no “se” aqui – Tognolli tivesse dito “reacionários” em vez de direita, pode até ser que ele tivesse um ponto. Há, como sabemos, uma ala mais reacionária dentro da direita, uma estranha combinação de revolução com saudosismo que faz alguns sonharem com o Éden perdido, com um paraíso existente, mas não no futuro, e sim no passado.

Estou lendo o livro The Shipwrecked Mind, de Mark Lila, que a Record vai lançar no Brasil, e que fala justamente dessa “reação política” à modernidade, principalmente com cores religiosas, com base em pensadores como Voegelin e Strauss. Os mais radicais seguidores dessa “reação” não são exatamente conservadores, ao menos não “de boa estirpe”, como costumo dizer justamente para separar o joio do trigo.

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Daí a tirar Winston Churchill da direita, ou criar tal separação maluca entre conservadorismo e direita, vai uma longa distância. Pior ainda foi o salto quântico para concluir que ser de direita é ser general que quer proibir o carnaval. De onde Tognolli tirou essa maluquice?! Não podemos dizer que foi uma brincadeira, apesar de parecer uma, pois ele já tinha dito em 2016 algo similar:

Enfim, usar rótulos exige algum cuidado, e é preciso cautela para não confundir mais do que elucidar. A direita está finalmente crescendo no Brasil, dividida entre uma ala liberal, uma ala conservadora (de boa estirpe), e também uma ala mais reacionária, “revolucionária”, que tem viés autoritário. Mas não faz sentido tachar a direita com base apenas nessa parcela menor, ignorando as outras, até porque pode dar a impressão de que os demais são… de esquerda!

O que Tognolli disse acaba alimentando mais ainda o enorme preconceito que o brasileiro já tem com a ideia da direita, associada a pensamentos tacanhos, autoritários, reacionários. E isso só interessa mesmo ao pessoal da esquerda, não é mesmo?

Rodrigo Constantino

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