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Será que Carlos Lacerda apoiaria Dilma Rousseff, senadora Kátia Abreu?
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Já questionei aqui quantas Kátias Abreu existem. A dúvida retorna a cada sábado, quando leio sua coluna na Folha. A de hoje é um elogio ao legado de Carlos Lacerda. Louvável. Mas não combina com aquela que vem pedindo votos para o PT por aí. Diz a senadora:

A verdade é que as grandes lideranças políticas nacionais, recentes e remotas, nem sempre desfrutaram em vida do prestígio “post mortem”. E isso porque a política, entre nós, foi sempre, com maior ou menor intensidade, uma atividade malvista e difamada.

Em boa parte, a política é malvista e difamada justamente por atitudes como as da senhora, senadora. Muitos a tinham como uma representante da direita liberal e conservadora, uma firme oposição ao projeto bolivariano do PT. O que pensam quando a veem abraçada com Dilma e elogiando seu (des)governo? Como aplaudir a política assim?

É claro que tal ambiente, que só se agravou, não encoraja o surgimento de novos talentos. As pessoas de bem não querem ser difamadas; as sem escrúpulos não se importam, desde que se mantenham longe dos tribunais –e próximas do poder.

Concordo! Só quem tem caráter não gosta de ser acusado de canalha, pois os canalhas não ligam. E aqueles que não têm escrúpulos querem apenas se manter em torno do poder, nada mais. Não dão a mínima para difamações. Agora explica por que a senhora está dando tanta margem a acusações de falta de escrúpulos e coerência justamente ao se aproximar tanto assim do poder, mesmo estando nele um partido com viés esquerdista e golpista!

Em abril deste ano, registrou-se o centenário de nascimento de uma das maiores lideranças republicanas –Carlos Lacerda. Sua presença, goste-se ou não, marcou quatro décadas de nossa política, sendo que pelo menos em duas como protagonista. Tinha ideias e não receava defendê-las, quer na imprensa, como um dos maiores jornalistas que o país já teve, quer no Parlamento, como um dos maiores tribunos que já o integraram.

Tinha talento, coragem e vocação –e pagou caro por isso. Entre seus pecados, não estava o de esconder o jogo. Iniciou-se na vida pública como esquerdista, seguindo a tradição do pai, Maurício de Lacerda, de quem herdou a vocação e a natureza arrojada. Fez parte do PCB, do qual acabou saindo, em meio a acusações recíprocas. Tornou-se, na sequência, um liberal católico, termo em desuso, já que os católicos que hoje entram na política o fazem pela porta esquerda da Teologia da Libertação.

Kátia Abreu e Dilma: a política NÃO precisa de gente assim.

Sim, Carlos Lacerda não escondia o jogo. Cabe perguntar: qual o seu jogo, senadora? O que lhe fez aproximar-se tanto de Dilma, sabendo que seu governo é péssimo e que seu PT representa, hoje, a maior ameaça à nossa democracia republicana? Se a senhora elogia tanto Carlos Lacerda, com sua típica metralhadora giratória, tenho certeza de que entenderá meus questionamentos em público. Também não sou de esconder o “jogo”.

Por falar em Teologia da Libertação, esse casamento promíscuo entre Cristo e Marx, sendo bem predominante a influência do último, pergunto: essa turma vermelha não é aliada tradicional do PT? E não é o PT o partido da presidente Dilma? E não é para ela que a senhora tem pedido votos? Poderia explicar sua lógica?

Abominava o rótulo “país do futuro”; queria cumpri-lo no presente, e a política era –e é– a única via. Fica de sua memória esta lição: o Brasil precisa romper o falso paradigma de que política é sinônimo de podridão, o que só favorece os maus políticos –e impede que vocações legítimas como a de Lacerda voltem a habitar a vida pública.

Sim, o paradigma de que política é sinônimo de podridão favorece os maus políticos – aqueles ligados ao PT, por exemplo. Precisamos de vocações legítimas – como a de Lacerda – para resgatar a política dessa gente. Caberia perguntar: por acaso Carlos Lacerda apoiaria Dilma Rousseff, senadora Kátia Abreu?

Rodrigo Constantino

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