O candidato Republicano Donald Trump apresentou em linhas gerais seus planos econômicos, e a reação não poderia ser outra: a mídia mainstream partiu para o ataque, com críticas mais ou menos parecidas. O plano é feito por homens de negócios, não economistas; ele beneficiaria os mais ricos, não os pobres; há um populismo evidente nele, ao preservar certos benefícios para os mais velhos; existe um claro ranço protecionista, que vai contra a ideia de livre-comércio pregada por seu partido.
Podemos ver ataques semelhantes no NYT, na Economist, na RollingStone, no WashingtonPost, na Bloomberg, na VanityFair, e tantos outros. Quase todos focam na mesma questão: seu plano beneficia os mais ricos. No Brasil, Monica De Bolle foi na mesma linha no Estadão hoje, mencionando até o gênero dos assessores econômicos de Trump, que seriam todos homens e homens de negócio como ele.
Mas será que essas críticas todas, de veículos tão diferentes, faz mesmo sentido? Acostumado a ir na contramão dos consensos, arrisco dizer que não. É que a maioria critica seu plano pelos motivos errados, pela esquerda. Trump teria fé demais no “supply-side economics”, a teoria de que uma redução nas taxas de impostos pode gerar até aumento de receita, pela expansão da atividade e da base de arrecadação. Trump é detonado porque seu plano vem de homens de negócios, e ajuda os ricos. Ora bolas!
O estrago todo causado na economia mundial, visível na crise de 2008, foi fruto de economistas, não de homens de negócios. Especialistas com muitas teorias mirabolantes, justificando que os bancos centrais deveriam manter a taxa básica de juros nula por longo período para estimular a atividade, ajudaram a parir a maior bolha da história. Será que é tão ruim mesmo ter homens de negócio, acostumados a lidar com problemas reais no dia a dia, em vez de keynesianos com Ph.D., como Paul Krugman?
Há outro presidente americano que acreditava bastante no “supply-side”: Ronald Reagan. Ele também queria investir mais em segurança e reduzir impostos para os negócios, inclusive para os mais ricos. Ele também era ridicularizado pela grande imprensa e pela intelligentzia, que o consideravam um perfeito idiota que levaria o mundo à Terceira Guerra Mundial. Mas ele levou o mundo à queda do Muro de Berlim e do império soviético, assim como à recuperação da economia americana.
Não quero dizer com isso que Trump é um novo Reagan. Não é. Mas quero deixar claro que certas críticas devem simplesmente ser ignoradas. Esse papinho esquerdista de que Trump pretende ajudar apenas os mais ricos é coisa de ideólogo da inveja, gente que só pensa em desigualdade e assume a premissa ridícula de que economia é jogo de soma zero, em que o rico precisa tirar do pobre para enriquecer. São marxistas enrustidos, filhotes de Piketty.
Que Monica De Bolle, da Casa das Garças, associada aos “neoliberais” tucanos, adote esse tipo de crítica, prova apenas como a “direita” brasileira é, no fundo, uma esquerda tímida ou light. Diz ela:
O candidato falou ainda em simplificar o imposto de renda sobre pessoas físicas, reduzindo de 7 para 3 as faixas relevantes. Embora ele tenha se dirigido ao público de descontentes, salientando que seu plano ajudará a classe média e quem enfrenta dificuldades no mercado de trabalho, o fato é que os mais beneficiados pelas medidas de Trump seriam os mais ricos, gente bem parecida com seus 13 escolhidos e com ele próprio. Trumponomics também prevê a eliminação do imposto sobre heranças, que, por construção, beneficia os mais abastados dos mais abastados – paga 40% de imposto nos EUA quem recebe herança superior a US$ 5,5 milhões, ou US$ 10 milhões para casais. O plano menciona a necessidade de diminuir a regulação para estimular o investimento, sobretudo no setor de energia, mas nada diz quanto às regulações que seriam removidas e seu impacto.
Ora bolas, qualquer redução ou simplificação nos impostos é válida! E quem disse que imposto sobre herança é algo bom para a sociedade, mesmo para os mais pobres? Só acredita nisso quem adota a premissa falaciosa acima, e acha que tirar dos ricos é bom para o geral. Nada mais falso. Se você quer favorecer os mais pobres, então comece aliviando a barra dos mais ricos, daqueles que empreendem e criam riquezas! Essa ideia de que taxar ainda mais os ricos ajuda os pobres é papo de invejoso, que costuma sair da boca dos verdadeiros populistas. Mas não esperem nossos “especialistas” criticando os planos econômicos igualitários de Hillary Clinton, pois a democrata é adorada por todos…
Eu já acho que Trump poderia ir mais longe ainda: por que 3 faixas? O ideal seria um flat tax, uma taxa única para todos, como fizeram países do Leste Europeu com grande sucesso. Simplifica a estrutura tributária, o que sempre favorece as pessoas comuns, é mais justo e mais eficiente. Quanto à herança, é dupla taxação, pois a fortuna já foi taxada enquanto era feita. É direito do seu proprietário deixá-la para quem quiser, sem falar que os recursos costumam ser alocados de maneira mais eficiente pela iniciativa privada do que pelo governo.
Em linhas gerais, Trump acerta ao querer simplificar e reduzir impostos, diminuir regulações e adotar a visão do “supply-side”. E pensar que é por isso, por seus acertos, que ele recebeu mais críticas. Seu grande erro é o aspecto protecionista. Essa sua visão é mercantilista e ultrapassada. Déficit comercial não é sinônimo de exploração por outro país, apesar de Trump acertar quando diz que o jogo não tem sido “fair” por conta de manipulações cambiais e subsídios. Mas o caminho não é reverter tratados comerciais, e sim intensificar o livre-comércio.
O plano de Trump pode ser simplista e muitos detalhes demandam mais explicações. Mas ele está longe de representar o caos que esses “especialistas” apontam. No mais, caos econômico mesmo é insistir no “Obamanomics”, um modelo mais intervencionista, regulador, bem parecido com o “capitalismo de compadres” que conhecemos tão bem na América Latina. Por que será que os economistas não atacam o plano coletivista e populista de Clinton?
Rodrigo Constantino