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Seria o libertário Gary Johnson uma boa alternativa?

Alguns leitores me perguntam sobre o candidato libertário Gary Johnson, que teria quase 10% das intenções de votos, correndo pelas beiradas e aproveitando a dicotomia Hillary Clinton x Donald Trump, envolvendo dois dos mais rejeitados nomes que a política americana já teve. Não seria ele uma boa alternativa para os liberais?

Assim vai o raciocínio: os democratas são intervencionistas na economia e liberais no comportamento, enquanto os republicanos seriam liberais na economia e conservadores no comportamento. Já os libertários seriam aqueles liberais em ambas as coisas. Não é esse o caminho?

Sinto muito aos leitores libertários – e já fui um de vocês – mas a resposta é não. Em primeiro lugar, os democratas não são liberais em comportamento; são talvez libertinos, fomentam o hedonismo, atuam para esvaziar a noção de responsabilidade individual e deturpar valores importantes em nome da “marcha das minorias oprimidas”.

Não há nada de liberal nas bandeiras “progressistas”, e quando os libertários se aproximam delas, acabam agindo como inocentes úteis dessa esquerda revolucionária, inspirada na Escola de Frankfurt. Infelizmente, muitos libertários parecem não ter se dado conta disso, e acham que as “liberdades” de fazer um aborto, fumar uma pedra de crack ou praticar orgias em praça pública são as questões mais importantes do mundo.

Um leitor postou um texto na minha página do Facebook que ironiza esse tipo de mentalidade “progressista” em comportamento:

“Eu fico aqui imaginando como deve ser a família tradicional da esquerda: o pai chega em casa depois de buscar a esposa na casa do amante, pois o amor é livre. Cansado, ele abre a porta do banheiro e dá de cara com seu filho e mais dois caras (pois o amor é livre). Depois dessa ducha, a mãe pede para ele levar a filha para o puteiro onde ela trabalha, afinal, o corpo é dela e ela faz o que bem entender. Ao chegar em casa, pega sua esposa transando com o cachorro (qualquer forma de amor é válida). E vai dormir, porque tem que trabalhar na boca de fumo do bairro, já que é a favor da liberação das drogas. E depois a mulher ainda espanca o marido porque não lavou as louças e esqueceu de colocar comida para criação de 3 bandidos que eles têm em casa. Chega a sogra com os peitos de fora e leva uma topada nos mesmos. O filho mais novo se chama Steffany e queria abortar, mas não tem como.”

Ironias à parte, uma família disfuncional dessas seria o horror dos conservadores (e qualquer pessoa sensata, diga-se), mas não faltariam “libertários” dispostos a chamar de “autoritário” todo aquele que ousasse julgar moralmente tais comportamentos. Falo por experiência própria: já “debati” com muitos desses libertários infantis, que juram ter descoberto a pedra filosofal no princípio dogmático de não-agressão, e acham que não devemos julgar nada nos outros se não houver violação direta do princípio.

Caem em contradição, claro, pois acham que sou eu o autoritário por condenar tais bizarrices no meu blog, enquanto eles vêm ao meu blog tentar cercear minha liberdade de expressão. Ou seja: não tenho nem mais o direito de emitir minha opinião sobre certos valores morais. Viro um “liberal” fajuto para eles. É nesse aspecto que tais libertários fazem o jogo da esquerda revolucionária: endossam sua receita de não-julgamento e de que “tudo” é normal, logo, nada mais o é. O relativismo moral, porém, é um dos graves problemas do mundo hoje.

Não quero dizer, com isso, que Gary Johnson representa esses libertários. Há inclusive ataques de libertários radicais ao candidato por ele não ser libertário o suficiente, por não defender, por exemplo, a legalização da heroína e da cocaína, ou por defender a carteira de motorista (algo estatizante demais, pelo visto). O dogmatismo dos utópicos é impressionante, e já vi muito “libertário” chamar de socialista aquele que prega até o estado mínimo. O único aceitável é o inexistente.

Mas, justiça seja feita, a crítica envolve posturas realmente esquerdistas de Gary Johnson, como defender o financiamento federal da Planned Parenthood, que prega o feminismo, o aborto e foi acusada até de venda de partes dos fetos, ou apoiar as ações afirmativas. Essas são bandeiras “progressistas” mesmo, que nenhum libertário ou liberal deveria endossar.

Aproveito para fazer uma confissão: pouco conheço de Gary Johnson. Logo, não estou me atendo especificamente ao indivíduo, mas ao movimento libertário. E tampouco acho certo focarmos somente nos indivíduos. Hillary é muito ruim e mentirosa, Trump é falastrão e narcisista, mas não prefiro o magnata apenas por comparar os dois indivíduos, e sim por levar em conta o que vem por trás, seus partidos, seus defensores, suas agendas. É a linha de defesa do respeitado Ben Carson para apoiar Trump. E, nesse sentido, ver alguns trechos da convenção libertária não anima muito:

Devemos levar mais a sério a política. A escolha de novos juízes para a Suprema Corte está em jogo, por exemplo. Por isso a eleição não é importante apenas para os próximos 4 anos, mas pelos próximos 40 anos! E, nesse aspecto, Gary Johnson tem feito de tudo para espantar os liberais clássicos e conservadores de boa estirpe, aqueles que prezam o império das leis com claros limites constitucionais ao governo. Como apontado aqui, Johnson deu sinais de que pretende indicar juízes “progressistas” para a Corte!

Isso, por si só, já seria muito grave. Mas não é tudo: de fato, Gary Johnson vem dando sinais de que pretende seduzir os eleitores do socialista Bernie Sanders. Basta lembrar que ele citou como algo positivo uma pesquisa que apontou que ele defende mais de 70% das ideias em comum ao velho socialista. Isso deveria ser motivo de pânico para qualquer liberal legítimo!

Recentemente, Gary Jonhson e seu candidato a vice-presidente chegaram até a elogiar o movimento Black Lives Matter, como se o racismo sistêmico da polícia fosse mesmo o problema por traz da maior taxa de encarceramento dos negros, ou como se o governo devesse adotar ações afirmativas para resolver o problema. Logo o BLM que, como mostrei aqui, tirou sua máscara ao fazer suas “demandas”, comprovando ser apenas um movimento socialista disfarçado de racial.

Em suma, muitos libertários ainda precisam amadurecer, e também deveriam se dar conta de que há questões mais prementes do que certas “liberdades individuais”. Muitos vão dizer que virei um conservador. Não ligo tanto para os rótulos, mas lembro apenas que o “pai do conservadorismo”, Edmund Burke, era do liberal Whig, o que não o impediu de perceber o que os jacobinos fariam com seu país e o mundo. Ele soube se adaptar, escolher as prioridades, reconhecer quais lutas tinha que lutar para preservar as liberdades básicas, que não sobrevivem num vácuo de valores, como argumento no meu curso “Civilização em Declínio”.

Tenho simpatia por muitas ideias libertárias, li pencas de livros de pensadores libertários, conheço bem seus argumentos, e tenho apreço por muitos deles, como um norte, um horizonte a nos guiar. Mas acho que esses libertários têm sido usados pela esquerda como massa de manobra para sua agenda cultural, que é mais relevante do que a econômica. Será que os libertários não percebem que com toda a “liberalização” no campo comportamental temos cada vez um estado paternalista maior? Que com o enfraquecimento da família tradicional vimos um fortalecimento do estado totalitário?

Além do aspecto moral, há a ingenuidade em assuntos geopolíticos também. Os libertários acham que os Estados Unidos não deveriam mais se meter em nenhum assunto externo, que poderiam simplesmente parar de bancar o “xerife do mundo” e que, assim, tudo ficaria melhor. Não compreendem o fardo de ser líder, e acabam fazendo o jogo da esquerda aqui também, como se a jihad fosse uma espécie de reação às investidas militares americanas mundo afora. É uma visão boba e perigosa, ao não reconhecer a essência do inimigo. Sempre que o Tio Sam se mostra mais pusilânime, como agora com Obama ou na época de Jimmy Carter, os inimigos da liberdade se fortalecem no resto do mundo.

Por isso tudo, não tenho dedicado muito tempo a Gary Johnson. No mais, estou preocupado com resultados concretos, e a disputa está claramente dividida entre Hillary Clinton e Donald Trump. É preciso decidir qual dos dois é menos pior. E, acima de tudo, é fundamental interromper a agenda cultural “progressista”. O apoio a Trump não é pelas qualidades de Trump, apesar de eu tampouco aceitar a valor de face todos os rótulos que a imprensa atribui a ele. O apoio é para combater esse esquerdismo que vem destruindo o Ocidente. Barrar Hillary Clinton é o objetivo mais importante no momento. Quem pode – e vai- fazer isso é Donald Trump.

Rodrigo Constantino

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