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Símbolos dedicados à morte

morgen1A escritora Anne Applebaum, ganhadora do Prêmio Pulitzer em 2004 pelo obrigatório livro Gulag: Uma história dos campos de concentração soviéticos, conta que percebeu a importância de tal tema ao caminhar pela ponte Karluv Most, atração turística de uma Praga recém liberta do totalitarismo socialista, e ver hippies vendendo toda sorte de bugigangas, mas dentre elas muita parafernália militar soviética: “quepes, insígnias, fivelas e pequenos buttonscom as imagens de Lenin e Brejnev”.

morgen2A presumir o bom coração médio, estas pessoas não tinham consciência do que significavam aqueles emblemas policiais que mataram tantos inocentes. As mesmas pessoas que teriam nojo apenas de ver um uniforme nazista ou uma suástica compravam, usavam e riam de signos de morte como uniformes militares do Exército Vermelho ou o símbolo da foice e do martelo.

morgen3Símbolos, portanto, não são matéria apenas de simbolismo abstrato e poético, que podem ser “ignorados” com boa dose de positivismo e materialismo vulgar. Ao se cruzar com qualquer grupo de carecas fortões de coturnos, suspensórios e tatuagens com suásticas, cruzes solares e de ferro e siglas como SS e 88 (“Heil, Hitler”), é quase uma linguagem universal que o recomendável é dar meia volta o mais rapidamente possível.

morgen4Muito antes de uma objetividade universal, portanto, os símbolos de cada homem, cada nação e cada grupo permitem apenas contato com uma parcela da realidade, fechando-se a outra parte. Uma incomunicabilidade que gera análises disparatadas de dentro de uma mesma cultura – como o temor moderno de “discursos de ódio” e apelos a uma “tolerância” igualmente esvaziada de referências à realidade (como se odiar o Estado Islâmico, por exemplo, não fosse senão amor à humanidade e à civilização, e como se “tolerar” e preferir “diálogo” com tal grupo terrorista não fosse senão um misto de suicídio com tolerância ao genocídio).

morgen5Não é por mero acaso, por conseguinte, que a esquerda, que teve como obra máxima um livro de economia, tenha desaparecido justamente da economia e se concentrado na linguística, na crítica literária, na psicologia, na análise social, nas artes e na comunicação: especialista em criar e modificar símbolos e trabalhar o imaginário coletivo, pode se furtar ao complexo e argumentativo mundo da economia, do Direito ou da administração e empreendedorismo, onde é completamente inútil, para trabalhar símbolos que serão aceitos imediatamente por sua carga psicológica – como social, desigualdade, exploração, empoderamento, participação ou os usos cada vez mais escorregadios e genéricos de racismo, homofobia, machismo, democracia.

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morgen9O papa Francisco é causa e conseqüência desta infelicidade, ao comprar tanto o discurso progressista que precisa “reformar” a Igreja, ao mesmo tempo em que sabe que o socialismo é algo que não faz parte dela. Sua confusão não poderia ficar mais clara do que em não fazer parte da Teologia da Libertação, mas aceitá-la e fazer discursos claramente anticapitalistas, como o realizado na Bolívia, logo após recusar o “crucifixo” em formato de foice e martelo.

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