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Situação de Jucá é insustentável. Ou: Ninguém controla a Lava-Jato

Fonte: Folha (Foto: )

As gravações das conversas entre Romero Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado colocam o ministro num corner. A semana de Temer já começa com um enorme abacaxi a ser digerido. O ministro diz que não vai pedir demissão, mas sua situação é mais do que delicada; parece insustentável. As menções à Lava-Jato pegaram muito mal. A operação liderada pelo juiz Sergio Moro conta com amplo apoio nacional, além da própria determinação de sua equipe.

Espanta o fato de políticos tão experientes falarem tais coisas ao telefone, como se fosse seguro. Espanta ainda mais o fato de acharem ser possível, realmente, impedir o avanço da Lava-Jato. Que estejam todos preocupados, isso é compreensível. A política nacional, afinal, é suja mesmo. Mas será preciso passar o país a limpo, doa a quem doer. Quem articular contra a Lava-Jato pagará um alto preço. Abaixo, alguns trechos:

Sobre Aécio
MACHADO – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…
JUCÁ – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…
JUCÁ – É, a gente viveu tudo.

Sobre o STF
JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

Sobre Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Temer
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.

Outros senadores
MACHADO – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…
JUCÁ – Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…
MACHADO – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
MACHADO – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
JUCÁ – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

Sim, a Lava-Jato “saiu do controle”, e esse é o objetivo. O Brasil está do lado de Moro, não dos políticos tradicionais. Isso gera riscos? Sem dúvida. O principal é algum aventureiro surgir em cena. Mas é inaceitável um acordão entre os caciques, incluindo Lula, para melar a operação a essa altura do campeonato. Seria uma revolta generalizada, uma convulsão social.

Os desafios de Temer são gigantescos. A economia está em frangalhos. A esquerda fascista, liderada por Guilherme Boulos, tenta “incendiar” o país e seus milicianos chegaram a acampar em frente à casa do presidente em exercício. O PT, que vazou documentos comprovando seu viés totalitário, segue criando obstáculos às reformas. As máfias sindicais idem, lutando contra as reformas da Previdência e das leis trabalhistas.

Em meio a tudo isso, as tensões políticas continuam. Há um embate hoje entre Justiça e política, que alguns chamam de “judicialização da política”. Mas foi a própria política que buscou isso, ao se criminalizar por completo. A limpeza será dolorosa, e vai produzir efeitos colaterais. Oportunistas de plantão vão surgir em cena bancando os salvadores da Pátria. É o risco que teremos de correr. A alternativa – fingir que nada de mais está acontecendo e fazer vista grossa – é inaceitável. O Brasil está do lado de Moro e da Lava-Jato, que deve continuar seus trabalhos, doa a quem doer.

Rodrigo Constantino

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