Abrimos a semana com a seguinte notícia:
As dificuldades do vice-presidente Michel Temer para formar um eventual Ministério são tamanhas que a tendência, segundo relatos de aliados, é que ele anuncie apenas os nomes que comporão o núcleo duro de seu governo, na economia e no Palácio do Planalto, caso eventualmente assuma o governo se o Senado aprovar o afastamento da presidente Dilma Rousseff nesta semana. A sessão que analisará a saída temporária da petista por até 180 dias começa na próxima quarta-feira.
Desde a aprovação do processo de impeachment na Câmara, em 17 de abril, o peemedebista tem negociado com partidos a escolha de ministros, e as demandas já o fizeram desistir da meta de reduzir o número de ministérios de 32 para cerca de 20. Ele chegou a afirmar, em entrevista, que cortaria apenas três ministérios. Nos últimos dias, porém, o vice estaria tentando montar, junto a seus auxiliares, uma configuração intermediária, com cerca de 25 pastas.
Segundo relatos de aliados, o movimento surgiu da avaliação de que a manutenção de quase todos os ministérios, após ter anunciado que haveria um enxugamento, pegou muito mal politicamente, e demonstraria falta de firmeza do vice em suas decisões. Pesa contra uma redução maior a imensa dificuldade para acomodar as demandas de todos os partidos que devem fazer parte de sua base no Congresso. Alguns não se contentam com a perda de espaços que atualmente ocupam no governo Dilma, e outros querem se ver mais representados de forma direta no hipotético novo governo.
Sabemos que não é tarefa trivial montar um governo minimamente sério e calcado em convergência programática no Brasil, país com mais de 30 partidos. Temer costurou apoio para aprovarem o impeachment no Congresso, e isso envolveu uns dez partidos. Agora eles cobram a “fatura”, e nem sempre (ou quase nunca) ela tem cores republicanas.
Temer tem uns dez mil cargos para distribuir, mas os partidos ficam de olho mesmo é nos ministérios, disputadíssimos. Temer já errou na largada, com um bispo sem know-how para a Ciência e um advogado contra o impeachment para a Justiça. Teve que voltar atrás em ambos os casos.
Até aqui, o que temos mais firme é Henrique Meirelles na Fazenda. Bom. E, de fato, Temer se mostra mais preocupado com a economia do que qualquer outra área, o que faz sentido:
A principal preocupação de Temer com relação ao futuro próximo é com a economia, hoje marcada por recessão, desemprego e falta de confiança no Brasil. A prioridade de Meirelles é sinalizar ao mercado que o novo governo estará comprometido com ajuste fiscal gradual, que permita colocar a dívida pública em trajetória de queda. O ex-presidente do BC já indicou que esse processo será lento, diante dos sucessivos rombos nas contas públicas. Também caberá a Meirelles decidir quem assumirá o BC no lugar de Alexandre Tombini. A equipe atual do BC deve ser mantida pelo menos até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Os nomes mais cotados para integrar a diretoria do banco são os do ex-diretores da instituição Afonso Bevilaqua, Ilan Goldfjn e Mário Mesquita.
São nomes sérios e bem aceitos pelo mercado. Mas precisa ficar muito claro para Temer que só Meirelles não basta. Não pode achar que isso será suficiente para resgatar a credibilidade perdida e fomentar investimentos privados. O que se configura aqui é um dilema importante: Temer quer apenas ganhar tempo e marcar em seu currículo o cargo de presidente, que ele jamais teria obtido diretamente em eleições; ou ele quer mesmo fazer a diferença, recolocar o Brasil nos trilhos e entrar para a História?
Se for a segunda alternativa, terá de jogar mais duro com seus coligados. Não pode ficar indeciso demais, nem aceitar barganha em excesso. Deve impor a urgência que o Brasil exige. Se esses políticos se mostrarem apegados demais aos cargos, então Temer precisa dizer que era melhor deixar Dilma mesmo e ver o Brasil afundar. Todos são sócios nas medidas extremas de que o país precisa, em caráter de emergência.
O maior aliado de Temer talvez seja a opinião pública, que não está com muita paciência para as negociatas em Brasília. Temer precisa jogar com esse trunfo nas mãos. Quem pressionar demais por cargos, só pelas mamatas, terá de se explicar para o povo. Mas, para tanto, Temer terá de demonstrar algum apetite para o embate, não apenas para as articulações de bastidores, no que é, claramente, expert.
Espera-se que Michel Temer tenha a exata noção do momento em que o Brasil vive, muito delicado. Até dá para entender se ele abrir mão de uma ou outra área menos relevante por critérios políticos em troca de apoio, mas não pode abrir mão das “vacas sagradas”. Precisa montar uma equipe de primeira nesses setores, delegar autonomia para que façam o que é necessário, e cortem o tamanho do estado.
Ou isso, ou Temer terá, sim, a presidência da República em seu vasto currículo, mas entrará para a História como um governante tampão medíocre que foi incapaz de reverter a trajetória de desgraça iniciada pelo PT.
Rodrigo Constantino