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Jair Bolsonaro foi a grande ausência entre os presidenciáveis no Fórum da Liberdade em Porto Alegre nesta segunda. Comentei isso no texto que escrevi sobre a participação dos pré-candidatos. A reação de muitos de seus seguidores nas redes sociais foi previsível – mas ainda assim lamentável.

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Primeiro, alguns, surpresos, atacaram os organizadores, no caso o IEE, por não terem convidado o capitão. Era prova de que os liberais são mesmo uns esquerdistas, já que Marina Silva, Geraldo Alckmin e até Ciro Gomes estavam presentes. Só havia um problema nessa narrativa: ele foi convidado!

E houve até insistência. Sei disso pois eu mesmo recebi a incumbência de fazer chegar a ele que era importante ele estar lá, marcar presença, e assim eu fiz. Afinal, tratava-se de uma ótima oportunidade para falar sobre suas ideias e propostas, especialmente pelo fato de que ele tem se declarado liberal na economia, e há suspeitas de até onde a conversão foi de verdade, já que seu passado de nacionalista estatizante o condena.

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O Fórum da Liberdade é “simplesmente” o maior evento liberal do continente! Sim, recebe também esquerdistas, justamente porque a pluralidade e o debate aberto e civilizado de ideias são valores liberais. Como confiamos na superioridade de nossas ideias, não temos medo de encarar o debate, e justamente por isso esquerdistas sempre foram convidados ao Fórum da Liberdade, enquanto liberais jamais foram convidados para o Fórum Social Mundial, de esquerda. Lá só tem slogans e frases prontas de efeito, nenhuma ideia embasada.

Após ficar claro que Bolsonaro foi convidado e escolheu não ir, esses seguidores passaram a alegar que ele fez muito bem, pois ele tem que estar sempre certo, e não tinha nada a fazer num ambiente “esquerdista” desses. Alguns disseram que haveria armação contra ele, que todos se uniriam para ataca-lo, mas foi esclarecido não se tratar de debate, e sim de palestras individuais de 15 minutos cada, com apenas duas perguntas do presidente do IEE em seguida.

O IEE, que forma líderes empresariais educados e civilizados, sequer colocou os convidados contra a parede, o que foi motivo até de algumas críticas – especialmente daqueles que, como eu, gostariam de ver Ciro Gomes passando ao menos algum calor na hora das perguntas, depois de tanta verborragia e lero-lero. Bolsonaro não seria um cordeiro lançado em meio a leões ali. Ele seria apenas mais um a ter espaço para expor suas ideias, a um público grande e predominantemente liberal.

Não vale a pena persuadir os liberais? Essa foi outra desculpa dada por certos seguidores mais radicais, que têm repetido que liberais são socialistas, ignorando que os “liberais” com viés de esquerda precisam de aspas para deixar claro justamente que não são liberais de verdade. Ora, não é o próprio Jair Bolsonaro que tem se dito liberal em economia e apontou até Paulo Guedes como potencial ministro da Fazenda? E não fazia sentido discursar para esse público, que tem em Guedes, presença em várias edições do fórum, um grande guru?

Alguém acha mesmo que Bolsonaro pode ser eleito só com o nicho que já lhe pertence, com a militância mais aguerrida liderada por figuras como Alexandre Frota? Pensar isso é não entender muito de política, não ter muita noção do que é necessário para a vitória numa eleição majoritária. Os moderados precisam ser seduzidos! As lideranças empresariais podem contribuir e muito com a campanha!

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Nenhuma justificativa serve muito para explicar a ausência no evento. Talvez a única mais razoável seja a do mito de que líder em pesquisas só tem a perder em “debates”, lembrando que sequer seria um debate. Se foi isso, é bobagem, pois está muito cedo para adotar tal postura, e era crucial Bolsonaro sedimentar sua imagem mais liberal e moderada. Se ele não está nem aí para os liberais, então não parece justo pedir o apoio dos liberais, e não faz sentido apontar previamente Paulo Guedes na economia. Fica a sensação de que Guedes será jogado para escanteio após a eleição.

Creio, por tudo isso, que Bolsonaro pisou feio na bola, errou em não ir ao evento apresentar propostas e visão de país para um público que tinha desde jovens alunos até grandes empresários, com milhares de pessoas presentes no local e outras tantas vendo pela internet, e ampla cobertura da imprensa. Atacar, como alguns seguidores têm feito, todos os liberais ou os demais pré-candidatos que foram não parece uma estratégia muito inteligente para quem terá de atrair seus eleitores num eventual segundo turno e, se eleito, governar com o Congresso e os demais partidos. Ou alguém acha que basta o “povo” para aprovar as reformas necessárias?

A imagem que ficou para muitos foi a de covardia, fuga, o que só aumenta as desconfianças dos liberais em relação a essa guinada recente do “mito”. O calor das ruas, a recepção nos aeroportos, a militância voluntária, tudo isso é importante e um fenômeno inegável. Bolsonaro, como Lula, virou uma “ideia”. Mas não basta. Há que se debater ideias também, para um público mais preparado. Há que se convencer a elite, se preferir.

E há, acima de tudo, que se respeitar os liberais, ainda mais se ele desejar carregar o selo de liberal em economia, vestir a “jaqueta liberal”, como diz Gustavo Franco, agora que o liberalismo está finalmente entrando na moda no Brasil.

Espero que tais reflexões construtivas sirvam para que Bolsonaro repense sua participação em eventos futuros. Mas a chance de falar no maior congresso liberal do continente, essa ela já perdeu, infelizmente.

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Rodrigo Constantino