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Sobre a lista do “Estadão”: todo indivíduo importa

Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

Estadão publicou, com assinatura do jornalista José Fucs, uma reportagem denunciando a suposta existência de uma máquina de influenciadores e propagadores de conteúdo nas redes sociais que servem ao “bolsonarismo” e ao “olavismo” para perseguir adversários, principalmente liberais e conservadores. Essa rede promoveria linchamentos e assassinatos de reputação de qualquer um que ousasse exercer uma atividade de crítico independente.

Como não poderia deixar de ser, a matéria, intitulada Rede bolsonarista ‘jacobina’ promove linchamento virtual até de aliados, fez muito barulho e foi objeto de críticas e comentários, dentro e fora da lista de personagens que menciona. A matéria oferece uma relação de mais de 50 nomes de personalidades e páginas públicas, informando de quantos seguidores dispõem nas redes sociais Facebook, Twitter e Youtube.

Em primeiro lugar, conheço o jornalista José Fucs e sei de sua preocupação sincera e antiga pela divulgação exitosa de qualquer material que diga respeito ao pensamento liberal no meio jornalístico, quando a isso convocado. Em segundo lugar, admito que o fenômeno de linchamentos boçais, com influenciadores incitando seu público, com base em distorções e exageros de toda sorte, a torpedear liberais e conservadores que se desviam em algum til da sua interpretação, é real. Os exemplos são incontáveis.

Algumas pessoas da lista apresentada na matéria são realmente pessoas sem qualquer compostura ou decência no trato com os divergentes. Sei disso porque fui pessoalmente alvo, em escala muito menor do que outros amigos, é verdade, desse tipo de ataque imbecil. Um certo canal popular de direita do Youtube e seus donos, cujos nomes é dispensável mencionar, estão na lista e eles realmente promovem e disseminam esse tipo de irresponsabilidade. Diante de uma discordância sobre a bandeira do “Estado católico” e dos termos em que o “debate” a respeito estava posto, eles me acusaram de equiparar o Catolicismo ao totalitarismo – uma distorção vil e canalha – e me dirigiram em vídeo impropérios de tão baixo nível que sequer este espaço seria adequado para reproduzi-los.

Da mesma forma, como alguns se devem lembrar, também fui alvo de ataques irracionais de páginas bolsonaristas de grande circulação que, sem leitura prévia, disseminaram uma enorme mentira sobre o conteúdo e a proposta de meu primeiro livro, o Guia Bibliográfico da Nova Direita, chegando a ligar torpemente a “Nova Direita” do título ao atual governador de São Paulo, João Doria – confusão estimulada e provocada pelo deputado Eduardo Bolsonaro, ao publicar em suas redes sociais uma montagem sem sentido envolvendo uma foto do dia anterior, induzindo a crer que Doria esteve no lançamento de meu livro (como se a máquina do tempo tivesse sido inventada, o que, até onde sabemos, não se deu) e que minha obra de estreia era uma peça de propaganda do tucano.

Limito-me aos meus exemplos pessoais, dos quais posso dar pleno testemunho, para confirmar que isso tudo aconteceu. No entanto, a própria matéria do Estadão reconhece que tais linchamentos acontecem sem financiamento público, ao menos de acordo com as informações até aqui disponíveis. Não se trata de um fenômeno equivalente, até aqui, à imprensa suja financiada e apoiada pela extrema esquerda e pelo Partido dos Trabalhadores ao longo de toda a era lulopetista.

Mais do que isso, porém, do ponto de vista liberal, o que me incomoda na matéria, que a meu ver nesse aspecto pecou gravemente, devendo ao menos oferecer mais evidências do que afirma em vez de apenas montar uma lista, é o ponto crucial de que mais vale rejeitar nove verdades a aceitar uma só mentira que destrua tudo. O liberalismo enaltece o indivíduo; todo indivíduo é responsável pelo que diz e pensa e todo indivíduo é digno de respeito em suas prerrogativas individuais.

Ao montar uma lista de tantos nomes que teoricamente estariam inseridos em uma orquestra de propagação de difamações e ataques, identificados como pertencentes a um “ninho de intrigas”, a reportagem incluiu, por exemplo, a ativista cubana Zoe Martinez – aliás, com o nome redigido equivocadamente – e o empresário Winston Ling, conhecido por colaborar com iniciativas liberais ao redor do país há muitos anos e um dos responsáveis por levar o ministro Paulo Guedes ao atual governo federal. Ora, mesmo que todos os outros nomes pudessem ser considerados linchadores sistemáticos da divergência, mas apenas esses dois fossem “inocentes”, Fucs já teria cometido uma falha gravíssima e uma afronta irresponsável precisamente à reputação dessas duas pessoas.

Acompanho Zoe e Ling há algum tempo. Fui a primeira pessoa a entrevistar a Zoe, precisamente para este Instituto Liberal, inclusive, há alguns anos, quando ela ainda não era tão conhecida. Nunca os vi promoverem em um só momento assassinato de reputação de quem quer que seja. Podem ser apoiadores mais entusiasmados do presidente Jair Bolsonaro, mas nunca foram além de expressarem suas opiniões, nunca os vi promover qualquer campanha contra qualquer pessoa, qualquer um dos alvos da militância citados por Fucs em sua matéria.

Repito: sem entrar no mérito das outras pessoas da lista, gostaria de uma prova de que, por exemplo, essas duas pessoas merecem uma acusação tão forte. De outro modo, há aí um ataque a reputações que absolutamente não o merecem. Não se pode criticar o que o contendor faz agindo exatamente da mesma forma.

A causa liberal por excelência é a causa do direito dos indivíduos e da justiça para com eles. Em respeito a todos os envolvidos, independentemente do que vão dizer, é em nome dessa causa que redijo este artigo. Melhor seria, talvez, diagnosticar os males, mas não montar listas, que correm grande risco de serem injustas.

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