Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
Além de imputar parte do sucesso australiano à “boa sorte” (?!), a matéria afirma que aquele país foi beneficiado pelo fato de ter uma economia diversificada. Ora, um analista econômico que fala em “sorte” para explicar qualquer coisa não merece nem a leitura. Por outro lado, o simples fato de ter uma economia amplamente diversificada não impediu que diversos outros países enfrentassem recessões rigorosas, o que, por si só, joga uma pá de cal nessa explicação fajuta.
Outra explicação bobinha é a de que a Austrália é um país de dimensões continentais e detém muitos recursos naturais. É sério isso, gente? Rússia e Brasil são países maiores que a Austrália (cuja maior parte do território é desértica) e possuem tanto ou mais recursos que ela, o que nunca os impediu de enfrentar sucessivas recessões durante esse mesmo período. É claro portanto que sorte, recursos naturais abundantes, tamanho do território e economia diversificada não explicam o sucesso da Austrália.
É óbvio também que não podemos falar de uma única causa para o sucesso da economia australiana (em economia, geralmente, uma infinidade de razões conspiram contra e a favor dos bons resultados), mas se eu tivesse de buscar algumas razões realmente fortes e efetivas para esse bom desempenho nos últimos 25 anos, começaria olhando para os índices de liberdade econômica, divulgados anualmente pela Heritage Foundation. Nesse ranking, a Austrália desponta como um dos cinco únicos países catalogados como economicamente livres (o Brasil ocupa a 122ª posição).
Desde o início dos anos 1980, a exemplo do que ocorre também na vizinha Nova Zelândia, sucessivos governos promoveram uma ampla desregulamentação nos mercados financeiro e de trabalho, além de reduzir de forma substancial as barreiras comerciais. De fato, o ambiente regulatório da Austrália é um do mais transparentes e eficientes do mundo, sendo altamente favorável ao empreendedorismo. Para se ter uma ideia, leva apenas dois dias para se iniciar um negócio naquele país. Além disso, a flexibilidade das leis trabalhistas facilita sobremaneira tanto a contratação quanto a demissão de empregados, fazendo com que as taxas de desemprego transitem pela faixa dos 5% há vários anos, ainda que aquele país seja um dos mais agressivos polos de imigração do planeta.
Com uma tarifa média de importação de 1,8%, escassas barreiras não-tarifárias e poucos limites ao investimento estrangeiro, a Austrália detém uma das políticas comerciais e de investimento mais abertas do mundo. Tais políticas transformaram-na num dos países mais competitivos e produtivos do mundo. Esse fato, aliado à localização estratégica (próxima à China), fez com que a Austrália tenha sido o país que mais se beneficiou do rápido crescimento chinês das últimas décadas. Não poderíamos deixar de mencionar também um setor financeiro – composto exclusivamente de bancos privados – altamente competitivo e transparente, o que torna o acesso ao crédito bastante simples, barato e dinâmico.
Do lado fiscal, a carga tributária total é equivalente a 27,5% do PIB (baixa para os padrões de países desenvolvidos) e a dívida pública, apesar do aumento recente, continua baixa (cerca de 35% do PIB), o que ajuda o país a manter notas ‘AAA’ em todas as três grandes agências de rating. A inflação vem sendo mantida no centro da meta há décadas por um banco central totalmente independente.
Independente e imparcial é também o sistema judicial, resguardando de forma bastante segura os direitos de propriedade, além de manter confiável e previsível a execução dos contratos. Esse ambiente institucional estável comporta ainda processos políticos transparentes e bem estabelecidos, com alternância constante de poder, enquanto medidas anti-corrupção duras e permanentes têm sido geralmente eficazes para desencorajar o suborno e a malversação de recursos públicos.
Acrescente-se a tudo isso uma população com níveis de escolaridade e, principalmente, produtividade bastante altos, e você terá um esboço bastante acurado das principais razões para o sucesso econômico australiano. Mas esse é um quadro liberal demais aos olhos da BBC, que prefere engabelar o distinto público com explicações fajutas e sem qualquer fulcro na boa teoria econômica.
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