“Afinal, qual o modelo de saúde que o país deseja? Saúde como bem público e fator de redução de iniquidades ou saúde como bem de consumo, que se compra no mercado?”, questionou a repórter da Folha Cláudia Collucci em sua coluna de hoje. Ela defende o SUS como conceito e condena os planos de saúde, colocando parte da culpa pelos problemas do sistema público na ideologia da classe média, que encara o SUS como coisa de pobre.
Faz sentido isso? Será que alguém deixaria de usar um serviço “gratuito” por preconceito? Então a classe média prefere ter um carro a encarar o trem ou o ônibus por “preconceito” também, e não por comodidade, conforto ou segurança? Então a classe média mora em condomínios fechados por “preconceito” ao Outro, como diz um psicanalista de esquerda fã de Zizek, e não para se proteger de bandidos?
O que a repórter oferece é um falso dilema, já enviesado por sua ideologia estatizante e seu preconceito contra o mercado. Ora, ela não quer tratar a medicina como um bem de consumo que se compra no mercado? Mas quem produz os remédios? Quem paga os médicos? Quem compra as macas, os equipamentos caros e modernos? Isso tudo cai do céu, por acaso?
O que ela está dizendo, no fundo, é que o modelo socialista funciona melhor nesse setor. Mas isso é, no mínimo, altamente questionável. Ela cita o sucesso britânico como exemplo, mas há várias críticas sérias ao modelo estatal dos ingleses, sem falar no custo elevado. Como brincam, se você acha caro pagar pela educação, espere até ela ficar totalmente gratuita!
Esses serviços precisam ser pagos e geridos, e a questão é se o estado o faz melhor do que a iniciativa privada. Alguém ainda acha, por exemplo, que a medicina cubana é boa e eficiente mesmo? Quem quer conhecer melhor o SUS de dentro, recomendo o livro Sob Pressão, do médico carioca Márcio Maranhão. É um relato chocante!
Quando a repórter usa a questão da igualdade, ela já denota seu viés socialista. Então se alguns podem pagar para estudar em Harvard ou Yale isso é injusto com os que não podem? E a solução ideal é todo ensino ser público e estatal? O mesmo vale para a medicina. Sim, no “mercado”, alguns podem pagar por tratamentos melhores e mais caros. E sempre será assim, mesmo no modelo socialista. No Canadá há corrupção para furar fila e driblar a burocracia, ou os ricos simplesmente atravessam a fronteira para buscar tratamento nos Estados Unidos.
Alguns podem ter Ferraris ou Volvos mais seguros. Isso quer dizer que só devemos ter transporte público em nome do combate às “iniquidades”? Percebem como a mentalidade igualitária é absurda no fundo?
A classe média não compra plano de saúde porque tem preconceito contra o SUS, e sim porque sabe que o serviço estatal é de péssima qualidade (como de praxe). Ir para o mercado é uma escolha. Compramos os produtos que desejamos no mercado porque ele é mais eficiente ao atender nossas demandas. O mecanismo de incentivos é diferente, mais eficaz. O hospital que depende do lucro para sobreviver precisa ao menos tentar ser mais eficiente do que o público, sem dono e vivendo à custa de nossos impostos, independentemente do serviço prestado.
Esse preconceito contra a solução de mercado é bobo, mas infelizmente está muito enraizado em nossos “intelectuais”. Eles desprezam o lucro como fator de incentivo, e adorariam que tudo fosse estatal. Mas o socialismo nunca funcionou para a alocação eficiente de recursos escassos e para atender às demandas populares. O mesmo vale para a saúde.
Respondendo à pergunta inicial, sim, eu prefiro que saúde seja um bem de consumo a ser comprado no mercado. Sinto-me mais seguro assim, com mais opções e preços diferenciados, com melhor qualidade de serviço. Não gostaria de ter apenas o Lada como opção de carro, e não acho nada saudável contar apenas com o SUS quando o assunto é minha saúde.
Rodrigo Constantino
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